Direitos previstos em leis garantem qualidade de vida a pessoas com HIV | ALE-RR | Assembleia Legislativa de Roraima

Longe de estar associada somente ao uso dos medicamentos antirretrovirais, a qualidade de vida do sujeito que vive com HIV está diretamente relacionada à adoção de um conjunto de cuidados e hábitos diários que ajudam a fortalecer a imunidade e prolongar a expectativa de vida.

Vale lembrar que imunidade é o mecanismo de defesa do organismo contra agentes estranhos. O sistema imunológico do ser humano é o sistema responsável por desencadear esse processo de defesa, mantendo o equilíbrio e o bom funcionamento do corpo.

O HIV é capaz de atacar o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo humano de infecções e doenças. As células mais atingidas pelo vírus são os linfócitos T CD4 +. Quando adentra o corpo, o HIV altera o DNA dessa célula e faz cópias de si mesmo. Essa replicação acontece em uma velocidade maior do que o corpo naturalmente conseguiria combater.

Esse descontrole genético no organismo de alguém infectado, fragiliza o sistema imunológico, deixando o corpo vulnerável ao aparecimento de outras infecções e/ou doenças – o que chamamos de doenças oportunistas, ou até mesmo no desenvolvimento daquelas que estavam sob controle das células de defesa.

Alguns exemplos de doenças oportunistas relacionadas ao HIV/aids são: Tuberculose,  Pneumocistose, Neurotoxoplasmose, Neurocriptococose e Sarcoma de Kaposi. 

A Agência Aids entrevistou duas médicas infectologistas: a Dra. Elna Joelane e a Dra. Camila Lopes Ahrens. Elas compartilharam dicas de cuidados que ajudam a fortalecer a imunidade de quem é HIV+. Confira:

Adesão ao tratamento

Dra. Elna Joelane: “A primeira coisa que alguém que descobre o HIV precisa fazer é iniciar o tratamento o mais rápido possível, porque ao fazer com que a carga viral se torne indetectável a partir do uso dos medicamentos, haverá uma recuperação do seu sistema imunológico, assim, o que o HIV danificou, o organismo vai conseguir repor e evitar que o vírus evolua para a fase de aids.”

Dra. Camila Lopes: “A base é tomar os medicamentos corretamente todos os dias. Isso vai fazer com que os níveis de carga viral permaneçam suprimidos, não causando maior inflamação no organismo. Além disso, um diagnóstico precoce também é importantíssimo, pois evita o desgaste acelerado do sistema imunológico”.

Alimentação equilibrada

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Dra. Elna Joelane: “Não existe nenhum alimento proibido para quem vive com HIV, mas é importante que a alimentação seja balanceada, privilegiando alimentos ricos em vitaminas, fibras, proteínas e sais minerais. É importante ter um prato mais colorido possível, que ajuda a obter o máximo de vitaminas, principalmente proteínas. Comer no horário correto também é fundamental. Alimentos ultraprocessados não são proibidos, mas precisam ter uso moderado. Vale tirar um dia ou dois na semana para comer uma alimentação mais ultraprocessada ou mais calórica. Então, quem vive com HIV pode comer absolutamente tudo, mas com moderação. Não existe nenhum alimento específico que vá causar interferência no medicamento, atrapalhar o tratamento ou recuperação. Essas orientações não se restringem às pessoas vivendo com HIV/aids, servem para todos, mas pedimos que as pessoas que ainda estão com a imunidade baixa por conta do diagnóstico recente de HIV, aquelas que descobriram a sorologia numa fase de HIV avançado, que redobrem os cuidados com alimentos crus, lavando-os bem, cozinhando ou assando bem estes alimentos, e que reduzam a ingestão de coisas mal passadas. Já a pessoa que está bem e com a imunidade alta, esse cuidado é recomendado, mas não há necessidade de tanto rigor, de qualquer forma é importante ter atenção com esses alimentos e sua procedência para não haver até diarreias e surtos de infecções virais ou bacterianas.”

Dra. Camila Lopes: “Assim como não deixar de comer, é importante prestar atenção no excesso de comida no prato. Pacientes com ansiedade, podem ter falta de apetite ou excesso de apetite. Vale equilibrar. Recomenda-se a ingestão de alimentos como: arroz, cereais, grãos, frutas e legumes pelo menos cinco vezes ao dia, azeite de oliva, carne branca, preferencialmente peixes para não aumentar colesterol… Recomenda-se evitar: manteiga, açúcar, fritura, queijo, carnes gordurosas, embutidos, bebidas alcoólicas, refrigerantes…”

Beber água

4 dicas para beber mais água durante o dia - Casa e Jardim | Casa e Comida

 

Dra. Camila Lopes: “É necessário beber bastante água, pelo menos dois litros por dia. Isso mantém a pessoa hidratada e ajuda a manter a urina clara”.

Ingestão/reposição de vitaminas

Consumo de vitaminas: essencial para o bom funcionamento do organismo - Blog Leve e Pronto

Dra. Elna Joelane: “Quanto à reposição de vitaminas, no geral, não há necessidade. O que precisa ser feito, claro, é uma avaliação individual. É preciso tomar cuidado com essas vitaminas que a gente toma aleatoriamente, porque algumas delas podem ser prejudiciais quando se acumulam no organismo, então o certo é passar por uma avaliação médica, onde o especialista vai ver se realmente há necessidade de reposição e por quanto tempo, pois algumas coisas são temporárias. Por exemplo, a pessoa que recebe diagnóstico de HIV em quadro de aids geralmente tem diarréia crônica, não está se alimentando bem durante um bom tempo, por isso é preciso reposição de vitaminas por um determinado período. Mas pessoas que não desenvolveram a aids geralmente só uma dieta balanceada já é suficiente para fazer ajustes de vitaminas. Cada caso deve ser visto individualmente pelo profissional médico.”

Dra. Camila Lopes: “Quando necessária a complementação de vitaminas, em alguns casos, ela é feita com suplementação de zinco, vitamina B12, vitamina D… É importante fazer exames periódicos, porque em caso de uma anemia ou alguma deficiência de ferro, o profissional vai poder tratar adequadamente e até mesmo tratar alguma outra doença associada também.” 

Exercícios físicos

Dra. Elna Joelane: “Há diversos estudos que comprovam que pessoas que fazem atividades físicas com regularidade tem melhora no sistema imunológico, e isso não só com pessoas vivendo com HIV/aids. Temos estudos também que evidenciam que a atividade física mostra melhora da imunidade, ou seja, a pessoa consegue sustentar uma imunidade ou melhoras das células CD4. Essas atividades fazem bem para todo mundo, mas é importante buscar informações com algum profissional da área para saber qual tipo de atividade física é melhor para você, para o seu perfil, a prática pelo menos três vezes na semana é muito benéfica.”

Dra. Camila Lopes: “A atividade física aumenta também a disposição e a autoestima, além de ajudar e prevenir os problemas causados pela lipodistrofia, colesterol alto, resistência à insulina, doenças cardiovascular. A prática diária de atividades físicas não somente ajuda na manutenção da saúde física, como também a saúde emocional/psicológica.”

Sono de qualidade

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Dra. Camila Lopes: “É fundamental um sono de qualidade, com no mínimo 8 horas por noite, onde a pessoa possa acordar descansada e sem estresse.”

Não fumar

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Dra. Elna Joelane: “O fumo por si só é prejudicial para qualquer pessoa, independente de viver com HIV ou outra infecção ou doença crônica, ou ser uma pessoa saudável. O cigarro é causador de câncer, danos pulmonares que podem deixar sequelas às vezes irreversíveis, como: doença pulmonar obstrutiva crônica, fibrose pulmonar, entre outros. Então, de fato, o cigarro só traz malefícios, e para as pessoas vivendo com HIV/aids, ele pode ser um complicador a mais. Vale lembrar que quem vive com HIV pode ter uma inclinação maior a desenvolver câncer e se o paciente fuma, está aumentando ainda  mais essa possibilidade.”

Dra. Camila Lopes: “A exposição à fumaça do cigarro também potencializa o risco de desenvolvimento de enfisema pulmonar, pneumonia… Além disso, é comprovado que a fumaça do cigarro pode piorar o quadro de alguma doença já diagnosticada anteriormente. Os pacientes de HIV têm maior risco de contrair câncer de pulmão. Viver com HIV e ser tabagista acelera ainda mais o processo de um possível câncer de pulmão. Fumar reduz a expectativa de vida, então o ideal é, se você é alguém que vive com HIV/aids e fuma, procurar ajuda para parar imediatamente. O tabaco, sem dúvidas, deve ser cortado, mas também quaisquer tipos de outras drogas, pois elas também colaboram na baixa da imunidade.”

Saúde mental e outros cuidados

Dra. Elna Joelane: “Falamos da saúde física, alimentação, atividade física, tempo e qualidade de sono… tudo isso é importante, mas alinhado à isto, é fundamental cuidar da saúde mental. Todas estas dicas elencadas já colaboram indiretamente na saúde mental. É importante que as pessoas que vivem com HIV/aids procurem descansar, ler livros, ir ao teatro, fazer amigos, sair para jantar, ir a festas se divertir, fazer atividades ao ar livre… tudo isso é tão importante quanto a saúde física, principalmente pra quem é HIV+, que muitas das vezes carrega nas costas muito estigma e preconceito, por vezes auto direcionados. É preciso também trabalhar a mente, a autoestima, em busca da aceitação da infecção, desenvolver a habilidade dessa nova vida com o vírus, e buscar saúde mental para uma melhor qualidade de vida.”

A infectologista Dra. Elna Joelane atende em toda Teresina-PI e região, e todo o Brasil de forma virtual. Na internet, produz conteúdo sobre HIV/aids gratuitamente.

Nas redes sociais, Dra. Camila Lopes fala de saúde LGBT sem tabus e esclarece as principais dúvidas sobre PrEP, Hepatites Virais, Covid-19, dentre outros assuntos. A média atende Curitiba e adjacências e todo o país por telemedicina.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.con.br)

 

Dica de entrevista

Dra. Elna Joelane 

E-mail: elnajoelane@gmail.com

Instagram @dra.elna_amaral_

 

Dra. Camila Lopes Ahrens

E-mail: contato@camilalopesahrens.com.br

Instagram @dracamilalopesahrens