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O Brasil ocupa posição privilegiada entre os países da América Latina por disponibilizar no Sistema Único de Saúde (SUS) estratégias profiláticas de pré e pós-exposição ao HIV, os chamados PrEP (profilaxia pré-exposição) e PEP (profilaxia pós-exposição). No entanto, as pessoas que são mais vulneráveis à infecção não estão sendo alcançadas ou desistem do meio do procedimento. No caso da PrEP, nem 5% das pessoas que necessitam iniciar o tratamento são alcançadas. Os jovens de 18 a 24 anos, por exemplo, são os mais difíceis de se engajarem e estão entre as pessoas que apresentam maior risco de infecção.

Os indivíduos que mais acessam os medicamentos têm maior escolaridade, melhor condição socioeconômica e são de cor branca. Para a médica-infectologista e pesquisadora, Beatriz Grinsztejn, esse desafio precisa ser enfrentado com múltiplas ações mas, principalmente, via educação e informação. Ela critica a baixa divulgação das estratégias, ausência de campanhas e invisibilidade da pauta.

“A gente vê que, mesmo quando os jovens mais vulneráveis conseguem iniciar a PrEP, eles têm dificuldade de se manter tomando o medicamento”, alerta a dra. Beatriz Grinsztejn, que realizou palestra durante a conferência “Parando o HIV: PrEP e PEP”, na manhã desta quarta-feira (20), durante o XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia (Infecto2023), realizado pela Sociedade Brasileira de Infectologia, através da Sociedade de Baiana de Infectologia, em Salvador.

A pesquisadora destaca também a importância do envolvimento do sistema de educação. “É fundamental falar sobre a prevenção do HIV e das outras ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) nas escolas”, enfatiza a médica Beatriz Grinsztejn, que é também chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/HIV do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas(INI)/ Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O perfil das pessoas que são mais vulneráveis e que mais precisam do PEP e PrEP no Brasil inclui homem que faz sexo com homem, mulheres trans e travestis. As questões relacionadas às desigualdades socioeconômicas e raciais também impactam na incidência de HIV e na não adesão às estratégias de prevenção.

Na PrEP, por exemplo, apesar de os indicadores mostrarem crescimento na adesão, o mesmo não ocorre entre as pessoas pretas. Questões relacionadas à autoestima também influenciam na adesão. “Portanto, é preciso considerar os fatores muito além das questões biológicas na hora de iniciar e se manter na PrEP”, adverte Beatriz Grinsztejn.

Foto: Assessoria de Comunicação do INI/Fiocruz

Uma das responsáveis pelo estudo seminal que demonstrou a eficácia da profilaxia pós exposição, a diretora do INI, Valdiléa Veloso, reforça o que aponta Grinsztejn. “O que precisamos mesmo inovar é como alcançar as pessoas mais vulneráveis, especialmente as com escolaridade menor e condição socioeconômica mais baixa, porque quem está usando a PrEP hoje são pessoas com alta escolaridade. Precisamos de investimentos contínuos e ações não fragmentadas”, defende Valdiléa.

Epidemia de HIV no Brasil 

Foto: Assessoria de Comunicação do INI/Fiocruz

Existem cerca de um milhão de pessoas vivendo com HIV/aids no Brasil. Mais de 70% estão em terapia antirretroviral. A epidemia no Brasil é concentrada, assim como nos demais países da América Latina. A predominância é entre homens que fazem sexo com homens, segundo a dra. Beatriz Grinsztejn. Ela alerta que, a cada 36h morre uma pessoa LGBTQIA+ no Brasil vítima de violência, sendo que 76% são travestis ou mulheres trans. A expectativa de vida dessa população é muito baixa, em torno de 35 anos. “Dentro desse contexto, prevenir e tratar o HIV se tornam muito mais difíceis frente às demais questões estruturais que essas pessoas têm que encarar”, salienta.

Apesar desse cenário preocupante, nos últimos 10 anos, houve redução de 14% nas novas infecções de HIV em mulheres. O ponto de atenção passou a estar concentrado nos homens jovens, que apresentaram aumento significativo, sendo os mais afetados os que fazem sexo com outros homens, travestis e trans.

Dados Brasil

  • 212,6 milhões de habitantes
  • 1,445 trilhão (PIB)
  • 9º país mais desigual
  • + de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV
  • > 700.000 usando TARV

Sobre o PrEP

A profilaxia pré-exposição (PrEP) é considerada uma forma efetiva de prevenir infecções principalmente em pessoas que têm maior risco de adquirir o HIV. A pessoa que começa a seguir a PrEP deve tomar a medicação, em forma de comprimido, diariamente, e o efeito começa em cerca de 20 dias.

Existe ainda a PrEP sob demanda, que é uma alternativa para aquelas pessoas que têm relações sexuais com frequência menor do que 2 vezes por semana. Em vez de diário, o esquema se inicia com dois comprimidos que devem ser tomados de 2 a 24 horas antes da exposição sexual, seguidos de 1 comprimido após 24 horas e 1 comprimido após 48 horas. Se houver mais de uma relação nesse período, o ideal é tomar o último comprimido após 48 horas da última relação.

Como há pessoas que têm demonstrado baixa adesão por dificuldade de ingerir comprimidos diários, já há estudos avançados relacionados à forma da PrEP injetável, que deverá ser usada a cada dois meses.

Enquetes realizadas mostraram crescimento de preferência pelo formato injetável, passando de 42% para 75% no período de 2018 para 2021, entre pessoas do Brasil, Peru e México, contou a pesquisadora Beatriz Grinsztejn, que também apresentou números em crescimento no Brasil em relação à implementação da PrEP, sobretudo no pós-pandemia, embora ainda muito longe do ideal.

Existem cerca de 70 serviços no Brasil que distribuem a PrEP e a expectativa é de que, com a incorporação de profissionais de enfermagem e farmacêuticos na prescrição das profilaxias, haja ampliação no uso das estratégias presentes no SUS.

Fatores que podem estar relacionados à descontinuação da PrEP:

– Efeitos colaterais

– Acesso

– Dificuldade com visitas

– Estigmatização e discriminação

– Violência

– Saúde mental

Sobre a PEP

A profilaxia pós exposição (PEP) é indicada após uma exposição de risco de infecção pelo HIV. Inicialmente, é feito um teste para HIV para avaliar se a pessoa já estava infectada. Em caso negativo para o HIV, a pessoa utiliza por 28 dias os medicamentos. Após esse período, deverá realizar novo teste para HIV.

Recomenda-se que a PEP seja utilizada no máximo em 72 horas, embora as evidências apontem que é mais seguro inicia-la dentro das 24 horas após a exposição. De acordo com a médica-infectologista, Beatriz Grinsztejn, “há muitas questões em relação à implementação da PEP, como baixo uso, baixa conclusão e seguimento. Apenas 56% das pessoas que iniciaram a PEP completaram os 28 dias”, aponta a pesquisadora, que ressalta que a PEP é altamente eficaz

Daniela Silva, especial para Agência Aids

Dica de entrevista

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