Mais de 5 mil especialistas de 140 países se reuniram na abertura oficial da 10ª Conferência do IAS sobre Ciência do HIV (IAS 2019) , na Cidade do México. Especialistas focaram suas falas na defesa dos direitos humanos e pediram ações urgentes para enfrentar as necessidade de saúde de milhões de pessoas afetadas por crises humanitárias.

Para o presidente da IAS, Anton Pozniak, os progressos feitos até agora, aconteceram porque foram baseados nos direitos humanos. “Precisamos buscar que ninguém seja deixado para trás, buscar uma medicina mais integrada com a saúde sexual e reprodutiva, além de ampliar o uso da PrEP”, disse ao se mostrar otimista com as pesquisas promissores sobre o implante da Profilaxia Pré-Exposição, “é a primeira prova clínica de um implante que pode mudar tudo. Por isso, queremos líderes que entendem a importância da ciência, líderes que deveriam entender que o direito a saúde não é negociável.

Brenda Crabtree Ramirez, Diretora Científica Local do IAS 2019 resgatou as conquistas da comunidade LGBT. “O trabalho sexual é cada vez mais visível e muitos países deixaram de criminalizar a homossexualidade e a pessoa que vive com HIV. No entanto, Brasil e México são os países com maiores índices de violência de gênero. Essa segue sendo uma barreira importante para o enfrentamento da epidemia.”

Manifestação

 

 

A cerimônia de abertura foi brevemente interrompida pelo protesto da comunidade internacional indígena. Os manifestantes alegaram que a ciência e as políticas públicas ignoram a saúde dessa população. Na faixa, que carregaram, estava escrito em inglês “Não fomos silenciados, mas você nunca ouviu falar sobre nós.”

Eles também defenderam o fato de que a meta 90-90-90 não poderá ser alcançada se a população indígena não estiver incluída no tratamento, acolhimento e pesquisas. Por isso, buscaram chamar a atenção das organizações internacionais para que pensem e implementem ações para essas pessoas.

Desigualdade entre países

Luis Adrian Quiroz é ativista vivendo com HIV e pediu destaque para acesso à saúde na África Subsaariana. “Viver com HIV é possível quando há políticas adequadas. Por outro lado a saúde pública é um desafio para diferentes países. Sabemos que os serviços de saúde oferecem serviços limitantes. Além disso, as coinfecções exigem esforços por parte dos ativistas. No mundo atual, com tantas políticas retrógradas, com políticos que buscam reprimir as manifestações de sexualidade e gênero, aumentam o estigma e a discriminação. A escassez de antirretrovirais em Brasil argentina e México também mostram que as políticas públicas podem melhorar”, disse ao enfatizar as metas 90 90 90.

“Além disso a situação da Venezuela exige atenção expandia já que há uma clara violação dos direitos das pessoas que vivem ali. Aproveito para pedir que o governo do México se una à sociedade civil e que construa uma política de saúde que inclua populações em vulnerabilidade como trabalhadoras do sexo e LGBTs. Não há outra solução. É urgente igualizar o acesso à saúde a toda América Latina”, finalizou.

Sobre a estrutura do tratamento antirretroviral, o secretário de saúde do México, Jorge Alcocer, afirmou que o país promove o diagnóstico precoce e realiza logo a vinculação do paciente ao tratamento. “Há poucas semanas, conseguimos que o México tenho um melhor esquema antirretroviral para pessoas que vivem com HIV. Trata-se de uma otimização terapêutica através da união entre sociedade civil, governo e a academia. Temos um fantasma enorme, mas agora é a hora de combater.”

Para a Dra. Carissa Etienne, diretora regional para as Américas da Organização Mundial de Saúde, “a investigação e a ciência, junto com o ativismo da sociedade civil, a participação da comunidade e o cumprimento e promoção dos direitos humanos, de gênero e equidade, constituem os componentes básicos para a resposta à epidemia do HIV.”

“Podemos reverter essa situação em muitos países mediante a elaboração e implementação de enfoques sólidos baseados na saúde publica, nos direitos e evidências científicas. Definitivamente precisamos de mais investigação para que a inovação continue melhorando a efetividade da prevenção combinada do HIV, refine os regimes de tratamento que poderiam se descentralizar ainda mais e desenvolva novas ferramentas de laboratório, ampliando o uso de plataformas integradas para diagnóstico e monitoramento.”

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)

 

A Agência de Notícias da Aids cobre a 10ª Conferência do IAS sobre Ciência do HIV (IAS 2019) com o apoio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente transmissíveis.