A única forma de saber se está infectado com HIV é por meio do teste. Então, se você é sexualmente ativo, faça o exame periodicamente. O SUS oferece gratuitamente testes para diagnóstico do HIV, da sífilis e das hepatites B e C. Existem no Brasil dois tipos de testes: os exames laboratoriais e os testes rápidos.

Os testes rápidos são práticos e de fácil execução; podem ser realizados com a coleta de uma gota de sangue na ponta do dedo ou ainda pode ser amostra de fluido oral, e fornecem o resultado em, no máximo, 30 minutos. Para os exames laboratoriais o serviço realiza a coleta de sangue venoso (da veia) e encaminha para o laboratório processar.

Todos os testes possuem um período denominado “janela imunológica”, que corresponde ao tempo entre o contato com o vírus e a detecção do marcador da infecção (antígeno ou anticorpo). Isso quer dizer que, mesmo se a pessoa estiver infectada, o resultado do teste pode dar negativo se ela estiver no período de janela. Dessa forma, nos casos de resultados negativos, sempre que persistir a suspeita de infecção, o teste deve ser repetido após, pelo menos, 30 dias.

“Todo mundo deveria se testar uma vez na vida. Fazer o teste de HIV é uma experiência importante”, assegurou a ativista Marta Mc Britton, presidente do Instituto Cultural Barong. A ONG, desde 2015, tem uma van-consultório equipada com um laboratório capaz de fazer testes de HIV, sífilis e das hepatites B e C, e aplicação de vacinas (tétano, febre amarela, hepatites, entre outras). A unidade móvel também tem equipamento multimídia e materiais educativos para atender à população.

“O teste de HIV deve ser feito com regularidade e, principalmente, se você tiver passado por uma situação de risco, como ter feito sexo sem camisinha. Não é necessário pedido médico, mas para receber o laudo é preciso apresentar um documento oficial com foto”, explicou Marta.

Segundo o Ministério da Saúde, os testes rápidos são tecnologias que ajudam a diagnosticar e tratar as ISTs de forma precoce.

“É muito importante que você saiba se foi infectado pelo HIV. Só assim poderá buscar tratamento o quanto antes para não correr o risco de desenvolver a aids”, afirmou a enfermeira Cristina Langkammer Martins, do Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids de São Paulo.

 

Como funcionam os testes?

As especialistas garantiram que os testes são eficazes, atingindo 99,98% de segurança em seus resultados. No caso do teste de sangue, uma pequena amostra é coletada da ponta do dedo e colocada em um dispositivo de teste. Já no teste de saliva, o fluido oral é coletado com uma haste flexível de algodão que é friccionada nas gengivas, língua e parte interna das bochechas. Ele é colocado em um tubo com reagente, que vai indicar a presença dos anticorpos.

Vale ressaltar que esse tipo de exame funciona como uma triagem e, caso o resultado seja positivo, é preciso realizar um novo teste para confirmação.

“O teste faz jus ao nome, é rápido. O resultado fica pronto em até 30 minutos”, mencionou Marta.

Por que devo me testar?

Marta e Cristina concordam que a realização dos testes rápidos é de suma importância para manter os devidos cuidados com a saúde.

“Quanto mais cedo descobrimos o diagnóstico de uma IST, mais cedo temos a oportunidade de tratá-la. Tanto no caso do HIV como de outras ISTs. Além de conseguir quebrar a cadeia de transmissão, que é diagnosticar a pessoa que está com a IST, iniciar o tratamento, e buscar outras pessoas que tenham tido contato sexual para se testar também, e caso dê positivo, já iniciar o tratamento”, disse Cristina Martins.

Autoteste

Os testes rápidos também contam com uma versão que pode ser feita pela própria pessoa que será testada, são os autotestes. Diferentemente das opções anteriores, eles não precisam do auxílio de profissionais da saúde e vêm com um kit para a realização em casa.

Eles também contam com dois tipos, sendo que é importante verificar as instruções e seguir cuidadosamente e, caso seja constatado um resultado positivo, é importante buscar uma instituição de saúde para realizar o diagnóstico definitivo.

Os testes podem ser feitos a partir de qual idade?

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a partir dos 12 anos o adolescente já pode ter acesso a essa tecnologia sem a presença dos pais ou responsáveis. Segundo Cristina e Marta, geralmente os adolescentes que procuram esses tipos de exames é por curiosidade, estão atrás de informações.

“Geralmente aos 12, o adolescente não iniciou a vida sexual ainda, então nesses casos, cabe mais a orientação e informação do que a própria testagem. Mas de acordo com o ECA, a saúde sexual e reprodutiva do adolescente é garantida a partir dessa idade, e isso significa o acesso também às tecnologias de prevenção”, esclareceu Marta.

A enfermeira Cristina acrescenta que: “nesses casos precisamos acolher e ouvir os motivos pelos quais eles querem fazer o teste. Nunca podemos perder a oportunidade de passar a orientação com relação à prevenção, apresentando todos os métodos que existem e estão disponíveis pelo SUS”, ressaltou a enfermeira se referindo à mandala da prevenção.

O diferencial é o acolhimento

As profissionais consideram o acolhimento uma das partes mais importantes de todo o processo, e compartilham como as pessoas são tratadas.

“Na nossa van-consultório, trabalhamos muito com a linguagem entre pares, parte da nossa equipe são HIV+, isso facilita a comunicação para quem vai receber um resultado reagente (positivo). Ao conversar com uma pessoa que também vive com HIV, geralmente o indivíduo se sente mais tranquilo. Essa troca é importante. Nos casos não reagentes (negativo), o acolhimento vem acompanhado de informação. Se a pessoa fica muito aliviada com o resultado negativo isso me acende um alerta, porque percebo que ela passou por uma exposição ou situação de risco”, contou Marta.

Ela continua: “Temos na equipe um grupo bem diversificado, composto por jovens e pessoas mais experientes, pessoas trans e homens que fazem sexo com homens (HSH). São as pessoas que escolhem por quem quer ser atendido, isso também ajuda no momento do acolhimento”.

No CRT, a enfermeira Cristina garantiu que o acolhimento vem acompanhado do respeito mútuo. “O profissional de saúde deve procurar entender o porquê a pessoa foi até o serviço, e a partir do relato, o paciente será orientado para o próximo passo, que é realizar o teste rápido. Dependendo da exposição e do tempo que a pessoa procurou o serviço, a gente já começa com a PEP (Profilaxia Pós-Exposição), para casos de HIV, se em menos de 72 horas a pessoa procurou o serviço, podemos iniciar com essa profilaxia. E no caso de outras ISTs, o resultado sendo positivo, também já iniciamos o tratamento.  O profissional precisa estar isento de julgamentos e valores, estamos ali para ouvir. Precisa ser uma escuta responsável por parte do profissional, além do sigilo.”

Onde fazer os testes de HIV, sífilis e hepatite B e C?

O SUS disponibiliza gratuitamente o teste de HIV, sífilis e das hepatites B e C nas unidades básica de saúde da rede pública ou os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). Veja a lista dos CTA aqui.

Os exames podem ser feitos de forma anônima nos CTA. Além da coleta e da execução dos testes, há um processo de aconselhamento, para facilitar a correta interpretação do resultado pelo usuário. Também é possível saber onde fazer o teste pelo Disque Saúde (136).

Além da rede de serviços de saúde, você também pode fazer o teste de HIV por meio de uma Organização da Sociedade Civil, como é o caso do Barong, que tem um time especializado.

Deu positivo. E agora?

Todos os métodos de diagnóstico podem ter resultado falso ctapositivo. Medicamentos e até mesmo outras infecções podem interferir no resultado dos testes. Por isso, o paciente deve repetir os exames para ter a confirmação da infecção. O resultado de um teste rápido precisa ser confirmado com outro exame de um laboratório diferente e de outra metodologia.

O primeiro passo após receber o diagnóstico é procurar atendimento no local adequado para dar início ao tratamento. Esse lugar pode variar: em alguns municípios o acompanhamento é feito na própria UBS com o médico de família e comunidade. Em outros, é realizado pelo infectologista no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) ou no SAE (Serviço de Assistência Especializada).

Existe uma rede nacional para o atendimento desses pacientes com vários serviços espalhados pelo país, que podem ser consultados no site: www.aids.gov.br.

A segunda etapa consiste na realização de exames que determinarão a carga viral, ou seja, a quantidade de vírus circulante no organismo e exames que indicam a quantidade de linfócitos de defesa existentes.

Após a coleta dos exames, o paciente deve iniciar o tratamento com os medicamentos antirretrovirais, ingeridos por via oral, que impedirão a entrada do vírus nas células de defesa, com isso, a medula vai gradativamente produzindo novas células e recuperando a imunidade da pessoa vivendo com HIV.

Aceitar e acolher o resultado positivo de HIV é importante para a adesão ao tratamento. Um sentimento comum de quem recebe o diagnóstico é se sentir sozinho, mas é essencial a pessoa saber que existem vários serviços de saúde e organizações da sociedade civil que realizam ações de assistência, prevenção, diagnóstico e tratamento.

Esses serviços oferecem apoio psicológico e social, cuidados e orientações por enfermeiros, atendimentos médicos em infectologia, ginecologia, pediatria e odontologia.

 

Dica de entrevista:

Marta Mc Britton

Instagram: @MartaMcBritton

Cristina Martins

E-mail: Cristina@crt.saude.sp.gov.br

 

Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)