De acordo com o diretor médico de HIV da GSK, Rodrigo Zilli, considerando todas as faixas etárias, 11 mil pessoas morrem por ano no Brasil em decorrência do vírus

O infectologista e diretor médico de HIV da GSK, Rodrigo Zilli, no CB.Poder. Na bancada, as jornalistas Carmen Souza (C) e Sibele Negromonte - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A evolução do tratamento antirretroviral (TARV), a evolução da PrEP (profilaxia pré-exposição), a situação do Brasil em relação ao controle do vírus, o avanço do HIV entre homens jovens de 15 a 29 anos e o registro de 11 mil mortes por ano em decorrrência do HIV no país foram temas do CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quinta-feira (21/11). O convidado foi o infectologista e diretor médico de HIV da GSK, Rodrigo Zilli. Às jornalistas Carmen Souza e Sibele Negromonte, ele disse acreditar que o Brasil vai alcançar as metas de controle até 2025.

Desde 1987, existe o AZT (zidovudina), que era o único medicamento conhecido e disponível. Hoje, já se sabe que esse medicamento tem muitas toxicidades. Ao longo do tempo, foi se combinando medicamentos, porque só com a combinação você consegue suprimir o vírus, nenhum remédio sozinho faz isso de forma adequada e sustentável. Ao longo do tempo, foram se colocando medicamentos de classes terapêuticas mais modernos, com menos toxicidade, com melhor comodidade de dose, melhor barreira à resistência, ou seja, à medida que vai tratando diariamente, a chance de falhar é muito pequena, se o paciente tomar diariamente o medicamento. E, hoje, chegou-se a um tratamento de uma vez por dia.

Desde 1987, existe o AZT (zidovudina), que era o único medicamento conhecido e disponível. Hoje, já se sabe que esse medicamento tem muitas toxicidades. Ao longo do tempo, foi se combinando medicamentos, porque só com a combinação você consegue suprimir o vírus, nenhum remédio sozinho faz isso de forma adequada e sustentável. Ao longo do tempo, foram se colocando medicamentos de classes terapêuticas mais modernos, com menos toxicidade, com melhor comodidade de dose, melhor barreira à resistência, ou seja, à medida que vai tratando diariamente, a chance de falhar é muito pequena, se o paciente tomar diariamente o medicamento. E, hoje, chegou-se a um tratamento de uma vez por dia.

Como é que anda no Brasil a questão de abandono de tratamento?

Hoje, com o tratamento que o Ministério da Saúde fornece, que é dessa classe mais moderna, usada em todos os lugares do mundo, você faz uma vez ao dia. O tratamento inicial são dois comprimidos, uma vez ao dia. Tem que tomar diariamente. Realmente, não pode parar. Existe um dado oficial do Ministério da Saúde mostrando que em torno de 9% a 10% das pessoas perdem o acompanhamento por diversas causas. Não é necessariamente um abandono, elas perdem o acompanhamento.

Uma coisa que preocupa é que homens jovens de 15 a 29 anos estão se expondo e se infectando. Por que isso acontece e como o governo deveria agir?

Sim, o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde mostra que homens entre 15 e 29 anos compõem a população na qual a epidemia no Brasil cresceu nos últimos dez anos. Nenhuma outra faixa etária, nem outra faixa de estratificação por gênero cresceu. Então, isso é um desafio, isso é uma constatação. São dados epidemiológicos. Então, com certeza, trabalhar a prevenção e a conscientização em relação aos riscos é fundamental. Tenho visto muitas ações nessa direção, não só em nível de governo, mas também de sociedade civil.

O que é PrEP?

A PrEP (profilaxia pré-exposição) é um método de prevenção do HIV. Trata-se de usar medicamentos previamente a potenciais exposições ao vírus. Não é uma vacina, mas, sim, um tratamento preventivo, que depende de uso contínuo para garantir proteção. Dados científicos mostram que é bastante eficaz para prevenir a contaminação pelo HIV, sendo especialmente importante para pessoas em maior risco de exposição. Hoje, qualquer pessoa pode acessar a PrEP pelo sistema público de saúde, sem restrições quanto a grupos específicos. Basta se autodeclarar em risco para ter direito ao medicamento. O grande desafio está na conscientização sobre a existência da PrEP, na percepção de risco e no conhecimento de como acessar o tratamento. Além disso, há esforços para superar barreiras, como julgamentos e preconceitos nos serviços de saúde, que podem dificultar o acesso, principalmente para populações mais vulneráveis. É importante destacar que a PrEP é destinada a pessoas que não têm HIV. Por isso, antes de iniciar o tratamento, é necessário realizar um teste de HIV com resultado negativo nos últimos sete dias. Isso garante que a prevenção seja adequada e segura para quem vai usar a PrEP. Esse cuidado é uma exigência para que o medicamento seja prescrito e fornecido.

Para uma mulher que contraiu o vírus jovem, na fase reprodutiva e que quer ser mãe, é seguro? Ela pode continuar fazendo o tratamento, tomando o remédio e, ainda assim, engravidar? Quais são os riscos de transmissão para a criança?

Os estudos envolvendo medicamentos em gestantes são sempre delicados, por diversos motivos. Às vezes, demora-se para obter dados que confirmem a segurança absoluta na gestação. Por isso, as bulas de remédios frequentemente trazem precauções. No entanto, hoje, está claro que mulheres vivendo com HIV têm seu direito reprodutivo e sexual preservado, e existem medicamentos seguros para essa situação. O esquema terapêutico padrão atual é seguro para a gestação, mas exige cuidados específicos, considerando os múltiplos aspectos relacionados à saúde da mulher e da gestante. Dados robustos mostram que é seguro continuar o tratamento durante a gestação, podendo ser necessárias adaptações feitas pelo médico. Se a mulher está indetectável durante a gestação e, especialmente, no parto, o risco de transmissão do vírus é praticamente eliminado. O bebê, contudo, precisa de acompanhamento pediátrico, pois foi exposto ao vírus no útero. Mesmo assim, recomenda-se que a mulher não amamente, mesmo estando indetectável. Essa é uma discussão científica atual, e, apesar de avanços, ainda há incertezas. Por isso, a orientação vigente é evitar a amamentação, priorizando alternativas seguras para a alimentação do bebê.

A ONU tem uma meta global para que se alcance o controle do HIV até 2025, chamada de 95, 95, 95. Como o Brasil está nesse cenário e o que falta para atingirmos esse objetivo?

Isso é uma iniciativa que já existe há alguns anos. Vários países são signatários dessa meta. Ela prevê que 95% das pessoas saibam que têm o vírus estejam diagnosticadas; que, dessas, 95% estejam em tratamento; e que, entre as em tratamento, 95% estejam indetectáveis, ou seja, sem transmitir o vírus. O Brasil está atualmente em 90, 81, 95. Esses 81% são referentes ao tratamento e devem melhorar no próximo boletim, pois esse dado é de 2022. Desde então, houve avanços no número de pessoas em tratamento.

Vamos alcançar 95, 95, 95 até 2025?

Acredito que sim, e, em 2030, a meta é eliminar o HIV como um problema de saúde pública.

Veja a entrevista:

Fonte: Correio Braziliense