A tuberculose mata 14 pessoas por dia no Brasil, número recorde em quase duas décadas, segundo dados do Ministério da Saúde. Foram 5.072 mortes em 2021, ano com o dado mais recente disponível. Esse é o maior número em 19 anos. A última vez em que os óbitos por tuberculose ultrapassaram a casa dos 5 mil foi em 2002.

A doença é a primeira causa de morte entre pessoas com HIV/aids e permanece entre as doenças infecciosas que mais matam no mundo, atrás apenas da Covid. A transmissão acontece por via respiratória, pela eliminação de aerossóis produzidos pela tosse, fala ou espirro de uma pessoa com a doença ativa.

Pessoas em situação de rua, presas, vivendo com HIV, imigrantes e comunidades indígenas são as mais atingidas no Brasil pela tuberculose. O assunto foi tema de debate nesta sexta-feira, 5 de maio, no 16º Hepatoaids, que acontece em São Paulo.

O panorama epidemiológico da TB e a prioridades rumo a eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030 foram apresentados pelo enfermeiro José Nildo de Barros Silva, da Coordenação Geral de Vigilância a Tuberculose, Micoses Endêmicas e Microbactérias não Tuberculosas, e na Vigilância da Coinfecção TB-HIV.

Segundo o especialista, entre os anos de 2003 e 2015 houve uma redução de coeficiente de incidência no número de novos casos de tuberculose. “Isso só foi possível porque o país trabalhou junto e está retratado por meio dos esforços e das formações municipais, estaduais e nacional.”

Já entre os anos de 2016 e 2019 os dados reforçam que houve um aumento progressivo da incidência no número de casos da tuberculose. “Isso pode estar relacionado a crise econômica vivenciada no país em 2014 e com o aumento da população privada de liberdade. ”

A incidência da doença (novos casos por 100 mil habitantes por ano) foi de 36,3 em 2022. As unidades da Federação que apresentaram maior risco de adoecimento foram Roraima e Rio de Janeiro.

O Brasil faz parte dos países prioritários para o enfrentamento à doença, elencadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e está entre os 30 países do mundo com maior índice de transmissão da doença.

Pandemia na pandemia

Ainda de acordo com o especialista, o cenário da tuberculose no Brasil foi agravado pela pandemia, que provocou redução de notificação. “O diagnóstico precoce é fundamental para iniciar o tratamento no tempo certo e aumentar as chances de cura.”

Uma das principais formas de proteção contra casos graves da tuberculose é a vacina BCG, recomendada pelo Calendário Nacional de Vacinação logo após o nascimento. Nos últimos anos, houve uma redução da cobertura vacinal. A partir de 2019, a cobertura não ultrapassou 88%.

“Já estão acontecendo reuniões para delinear ações diante deste cenário, estamos levantando hipóteses, e pensando em oportunidade para o aumento da oferta do tratamento para as pessoas com tuberculose ativa”, esclareceu.

Eliminação da doença como saúde pública

José assegurou que o Brasil está comprometido com a agenda política pelo fim da TB, tanto em conformidade com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, quanto com as estratégias globais pelo fim da tuberculose da OMS. “Os compromissos foram acordados e assumidos pelo país, e o Brasil nesse governo assumiu o compromisso de findar a tuberculose quanto problema de saúde pública até 2030. No dia 24 de março, que é o Dia Mundial de Combate à Tuberculose, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, confirmou mais uma vez a priorização dessa eliminação durante o seu governo, e disse ser um compromisso do Estado estabelecer essa agenda de esforço da gestão do Ministério na intensificação das estratégias para o plano: ‘Brasil Livre da Tuberculose’ e com isso, tivemos um grande avanço que é a criação do Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose Como Problema de Saúde Pública, que foi assinado  pelo presidente Lula em 17 de abril deste ano.”

“A tuberculose está relacionada com diversos determinantes sociais como moradia e saneamento básico, por exemplo, então o Ministério da Saúde, não conseguiria abarcar todos esses determinantes sozinho, por isso a necessidade desse trabalho em equipe do Ministério da Saúde, da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome, do Ministério dos Direitos Humanos, da Cidadania, da Educação e Igualdade Racial, Integração e Desenvolvimento, Regional da Justiça e Segurança Pública e dos Povos Indígenas”, pontuou.

O Dr. José ressaltou também os compromissos específicos nacionais com embasamento em 2 metas que são: alcançar menos de 10 casos por 100 mil habitantes até 2035 e apostar em menos de 230 mortes por tuberculose até 2035.

“Esse plano está embasado em 3 pilares: prevenção e cuidado integral centrados nas pessoas com tuberculose; políticas arrojadas e sistemas de apoio; intensificação da pesquisa e inovação para de fato conseguirmos alcançar e eliminar a tuberculose como problema de saúde pública até 2030.”

Tuberculose tem cura

A tuberculose é uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, uma bactéria que quase sempre afeta os pulmões. É transmitida de pessoa para pessoa através do ar. Os sintomas da tuberculose ativa incluem tosse, dor no peito, fraqueza, perda de peso, febre e suores noturnos.

O diagnóstico precoce é fundamental para iniciar o tratamento no tempo correto e aumentar as chances de cura, principalmente entre a população que tem maior risco para sintomas graves. De acordo com orientações do Ministério da Saúde, as pessoas com sintomas da doença devem procurar uma unidade de saúde para avaliação e realização de exames. É importante, também, que os contatos mais próximos de uma pessoa com resultado positivo para a tuberculose sejam testados.


Gisele Souza (gisele@agenciaaids.com.br)

 

Dica de entrevista

José Nildo de Barros Silva

E-mail: jose.nildo@saude.gov.br

Tel:. (61) 3315-7677