Um aumento nas infecções por Neisseria gonorrhoeae resistente a antibióticos na Inglaterra foi descrito como “preocupante” pela Health Security Agency do Reino Unido (UKHSA).

Desde que o primeiro caso de gonorreia resistente à ceftriaxona foi identificado na Inglaterra em 2015, houve 31 casos notificados. Quase metade (15) ocorreu nos últimos dois anos, entre junho de 2022 e maio de 2024.

“A gonorreia está se tornando cada vez mais resistente aos antibióticos, com o risco de tornar-se intratável no futuro”, alertou em um comunicado de imprensa a Dra. Helen Fifer, microbiologista consultora da UKHSA. As últimas estatísticas ressaltaram a importância da testagem periódica para infecções sexualmente transmissíveis (IST), informou a agência.

A doença é atualmente diagnosticada por exames de amplificação de ácidos nucleicos (NAATs) e por técnicas microbiológicas de culturas para verificar a sensibilidade aos antibióticos.

“Estão em andamento trabalhos para procurar marcadores de resistência usando NAATs e testes moleculares, a fim de reduzir a demora necessária para a cultura da Neisseria gonorrhoeae”, disse ao Medscape o Prof. Dr. Matt Phillips, presidente da British Association for Sexual Health and HIV (BASHH). Há também um trabalho internacional em andamento sobre exames de gonorreia realizados no local de atendimento (o que no Brasil convencionou-se chamar de Point of Care), ressaltou ele.

Resistência a todas as classes de antibióticos utilizados

A gonorreia é a segunda IST mais comumente diagnosticada na Inglaterra. Em 2023, ocorreram 85.223 casos no país – o maior número anual de diagnósticos desde que os registros começaram, em 1918.

A Neisseria gonorrhoeae adquiriu resistência a todas as classes de antibióticos utilizados para tratá-la, sendo as cefalosporinas a última classe remanescente de antibióticos disponíveis para uso como monoterapia empírica.

A ceftriaxona é o antibiótico de primeira linha usado para tratar a gonorreia no Reino Unido. Dos 31 casos da doença resistente ao fármaco, sete eram extensivamente resistentes aos medicamentos, o que significa que eram resistentes às opções terapêuticas de primeira e segunda linha e a outros antibióticos.

Entre 2015 e maio de 2022, um em cada oito (dois pacientes, no total) casos de resistência à ceftriaxona era extensivamente resistente aos medicamentos. Contudo, nos últimos dois anos, essa proporção aumentou para um em cada três (cinco pacientes, ao todo) dos 15 casos resistentes à ceftriaxona.

O Prof. Dr. Matt salientou que o aumento de casos de gonorreia resistente a antibióticos na Inglaterra é uma “tendência preocupante que deve ser abordada com ação imediata”.

Ameaça importante à saúde pública

A maioria dos indivíduos diagnosticados com gonorreia resistente à ceftriaxona tinha cerca de 20 anos e muitos adquiriram a infecção na região Ásia-Pacífico, onde a resistência à ceftriaxona é mais prevalente. Todos os casos na Inglaterra foram relatados em indivíduos heterossexuais, de acordo com a UKHSA.

Fonte: Medscape