ONG Gestos

A Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, de Pernambuco, que é uma organização não-governamental voltada para o acolhimento de pessoas vivendo com HIV e resposta interdisciplinar à epidemia de aids, está em festa. 

Há 30 anos a ONG abria suas portas em Recife (PE), para lutar em defesa dos direitos das pessoas HIV+ e ampliar debates importantes relativos à saúde, igualdade de gênero, direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos.

Neste aniversário, a Agência Aids parabeniza e presta sua homenagem à instituição parceira.

Fundada pelo sociólogo Acioli Neto, a jornalista Alessandra Nilo, a socióloga Márcia Andrade e a assistente social Sílvia Dantas, a Gestos começou os trabalhos na década de 1993, quando a epidemia era vista, ainda mais, pela ótica do estigma e do preconceito. A fundação nasceu com o objetivo de combater as desigualdades sociais associadas ao HIV, tanto no Brasil, quanto no mundo.

Alessandra Nilo conta que a organização foi criada para dar uma resposta a uma emergência no âmbito da saúde pública, e a fim de cuidar das pessoas que estavam sendo atingidas por uma pandemia na qual a sociedade sabia pouco.

‘‘A Gestos foi criada em um momento que não havia tratamento para o HIV/aids. O encontro das pessoas que fundaram a Gestos se deu por diferentes motivos. No meu caso, que sou uma das quatro fundadores que ainda permanecem hoje, eu havia perdido um amigo e já vinha participando de alguns grupos de discussão sobre a história da aids, estava muito curiosa para saber mais sobre, e foi em um desses fóruns de debate que conheci Acioli Neto, que já conhecia as outras duas fundadoras: Márcia Andrade e Sílvia Dantas. Assim nós nos reunimos e pensamos que seria muito bom criar uma organização que pudesse cuidar destas pessoas’’, relembrou.

‘‘De lá para cá, muito mudou na instituição, porque nós começamos a entender, principalmente depois que tivermos acesso a tratamento em 1996, que a aids não era somente uma questão de saúde pública, e que para a gente superar o HIV, seria necessária uma abordagem mais multidisciplinar. Entendemos que nós precisávamos começar também a discutir os determinantes sociais e econômicos do HIV e da aids’’, completou.

Outra vertente que a ONG foi pioneira, foi em pensar a comunicação do HIV. Segundo a jornalista, naquela época, a comunicação era a única possibilidade de garantir a manutenção mínima de saúde daquelas pessoas.

O sonho nobre do grupo de ativistas em ajudar quem mais precisa, se tornou realidade, e hoje é uma referência no país e na América Latina. Em 2022, a Gestos foi eleita pelo instituto Doar, uma das 100 melhores ONGs do Brasil, sendo a única na lista a representar o estado de Pernambuco.

A instituição também tem status ECOSOC que lhe garante caráter consultivo junto à Organização das Nações Unidas (ONU), além disso, possui o certificado CEBAS de filantropia pelo MS (Ministério da Saúde).

Ao longo de toda a sua história, a Gestos tem feito da comunicação de qualidade um pilar fundamental na luta contra a aids.

Composta por um time multidisciplinar de 22 profissionais, atualmente articula junto com movimentos sociais, organismos multilaterais e instituições públicas e privadas.

A Gestos não só acolhe quem mais precisa, mas também oferece assessoria jurídica especializada, atendimento psicológico e assistência social às pessoas que vivem com HIV, em situação de vulnerabilidade social.

Realiza testes para HIV, sífilis e hepatites virais (B e C); valoriza o protagonismo juvenil, orientando jovens e adolescentes sobre saúde e sexualidade; oferece acompanhamento psicológico; desenvolve ações educativas em comunidades, serviços de saúde e escolas, aperfeiçoando profissionais das áreas de saúde, educação, direito e gestão pública, além de promover formação de ativistas aptos a incidir politicamente e socialmente com base no desenvolvimento sustentável e no combate às múltiplas desigualdades.

Segundo Alessandra, há uma área de comunicação integralmente dedicada a trabalhar no desenvolvimento de campanhas e boletins informativos para pessoas vivendo com HIV/aids, e na linha de informação a sociedade como um todo, produzindo sempre conteúdos, mas não só isso, refletindo também sobre o papel da comunicação em saúde, particularmente do papel da comunicação em aids junto a sociedade.

Para além, a organização realiza um trabalho muito forte no campo das políticas públicas, atuando em conselhos locais, e participando de articulações com diferentes movimentos sociais.

‘‘Somos uma organização que aqui em Pernambuco oferece diferentes serviços para as pessoas que vivem com HIV/aids, mas também que incide em estâncias de monitoramentos locais, nacionais e internacionais. Somos uma organização muito ativa nas resoluções das Nações Unidas, e viramos uma das referências hoje no Brasil no que diz respeito à Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável’’, diz a representante da Gestos.

Ela continua: ‘‘o trabalho da instituição cresceu muito e hoje nossa equipe multidisciplinar é bastante ativa e requisitada’’.

Sua história de luta incansável contra as ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e a favor dos menos favorecidos, não deixa para trás a defesa do SUS (Sistema Único de Saúde).

Histórias de vida

Justiça social e solidariedade são marcas da Gestos, e quem já passou pela instituição, testemunha esta solidariedade com muito carinho. Esse é o caso de José Cândido, 60, uma das primeiras pessoas beneficiadas pela Gestos nos primeiros anos. José vive com HIV há 24 anos, hoje é voluntário na ONG, e um militante aguerrido no movimento social de luta contra a aids, em Recife. 

Procurado pela Agência Aids, ele relembrou sua história com a ONG e contou que seu primeiro contato com a Gestos aconteceu após conversas positivas nos corredores dos SAES, em 2002, sobre o trabalho da instituição.

‘‘A Gestos oferece um grande apoio às pessoas vivendo com HIV/aids no nosso estado e em defesa dos direitos humanos e cidadania de nós que vivemos com o vírus, com uma equipe multidisciplinar de alta qualidade. Eu mesmo conhecendo o trabalho importante da Gestos só integrei o time 17 anos atrás, que foi quando comecei fazer parte do GT, grupo de trabalho em ativismo onde me fortaleci para exercer de fato a minha cidadania, e onde me fortaleci para combater o preconceito e ajudar outras pessoas como eu, que vivem com HIV/aids no meu estado’’, compartilhou.

O ativista define o trabalho da Gestos com duas palavras: seriedade e excelência. 

‘’Cada dia mais acredito que o trabalho que a instituição desenvolve há 30 anos é de grande importância. Se não tivesse a Gestos, não seria uma a pessoa que fortalece tantas outras, combate preconceitos e luta por uma vida melhor para quem é HIV+’’, destacou.

Segundo o Sr. José, o maior desafio em fazer parte desta instituição consiste na necessidade de se qualificar cada vez mais para representar a instituição a altura de sua importância. Mas para ele, é um papel que vale a pena.

‘‘Através dos projetos sociais, a sociedade reconhece o importante trabalho que a Gestos desenvolve’’.

‘’Parabéns Gestos, que nós consigamos acabar com as infecções pelo vírus da aids, alcancemos uma vacina para todas as pessoas e o meu muito obrigado por todo trabalho desenvolvido entre estes 30 anos de seriedade, compromisso e sucesso’’, finalizou.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista 

Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero 

Site oficial: gestos.org.br

Instagram @gestospe 

Telefone: (81) 3421-7670