18/06/2017 – 10h25

Protestos contra a interferência religiosa no Estado laico dividirão espaço com as cores do arco-íris na av. Paulista neste domingo (18), quando São Paulo celebra a 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT. É a maior festa do mundo de defesa à diversidade de gênero e orientação sexual.

Na avaliação de movimentos ligados ao público LGBT, a influência de doutrinas religiosas na política tem atravancado discussões como a criminalização da homofobia, a apresentação de discussões sobre identidade sexual nas escolas e mais avanços sociais, como acesso dos LGBTs ao trabalho.

De acordo com relatório da Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais, o Brasil ocupa o primeiro lugar em homicídios de LGBTs nas Américas, com 340 mortes por motivação homofóbica no ano passado. Grupos brasileiros estimam que 144 desses homicídios sejam de travestis e transexuais.

Segundo Claudia Regina Santos Garcia, diretora da organização que promove a parada paulistana, um grupo de trabalho discutiu o tema do evento por cerca de seis meses e "com base em dados sobre violência contra LGBTs no Brasil e no mundo, resolveram que a questão do Estado laico era o que mais representava" sua luta no momento.

Doutorando em antropologia social pela USP e autor do livro "Diferentes, Não Desiguais: A Questão de Gênero na Escola", Bernardo Machado afirma que "há sujeitos e grupos que, munidos de suas próprias ideologias e crenças, pretendem contaminar o Estado com práticas que ferem o princípio da igualdade".

Na avaliação do pesquisador, "no caso da população LGBT, ora o Estado é negligente, na medida em que não cria pesquisas oficiais voltadas para essa população a fim de conhecê-la e, com isso, criar políticas públicas para o exercício da cidadania, ora é omisso, ao deixar de incluir gênero e orientação sexual nos planos educacionais".

Ele diz que pessoas LGBT têm fé, afetos, família, amizades, direitos e deveres. Oriundas de diversas origens e classes, professam suas crenças, trabalham, pagam seus impostos. Entretanto, no dia a dia, calculam quando e onde podem demonstrar afeto para sua parceira ou parceiro com medo de serem agredidas ou hostilizadas.

Para Fernando Magrin, fundador do bloco carnavalesco Minhoqueens, um dos mais famosos a reunir o público LGBT, "o tema da parada tem extrema importância, não somente política mas, também, sociocultural".

"O Estado deve respeitar as questões de identidade de gênero e orientação sexual isento de valores religiosos. Deve existir liberdade religiosa, sim, mas nenhuma religião é lei", afirma Magrin.

Levantamento feito pelo site Congresso em Foco em 2016 indicava que 197 parlamentares se enquadravam na bancada evangélica no Legislativo federal brasileiro na ocasião, enquanto 23 compunham a chamada bancada dos direitos humanos, onde estão os principais defensores da população LGBT.

Durante o cortejo deste domingo, ativistas, políticos e personalidades vão fazer discursos cobrando avanço de direitos, proteção e acesso à diversidade de gênero.

Fonte: "Folha de S. Paulo"