Após dirigir o aclamado documentário “Deus tem Aids” em 2021 onde apresenta um recorte de 7 artistas que combatem o estigma e a discriminação de pessoas vivendo com HIV, o cineasta Gustavo Vinagre voltou a abordar a temática na ficção “Três Tigres Tristes”, no qual um dos protagonistas vive com o vírus. “Se tornou de extrema importância para mim retratar um personagem vivendo com HIV em outra etapa de relação com o vírus, que pouca gente inclusive sabe que existe, que é a descoberta da indetectabilidade, ou seja, quando a pessoa está com a taxa de vírus tão baixa que ela pode transar até sem camisinha que não transmitirá o vírus”, conta Gustavo.

“Três Tigres Tristes” narra a jornada de três jovens residentes de uma kitnet no bairro da Liberdade, em São Paulo. Os protagonistas são um aspirante a artista plástico, uma mulher trans e um performer e drag queen que vive com HIV. Juntos, compartilham a responsabilidade pelo cuidado do animal de estimação, Intransmissível, um porquinho da índia. O enredo desenrola-se quando enfrentam a iminência de despejo devido ao atraso de três meses no pagamento do aluguel, desencadeando uma busca desesperada por soluções. Enquanto tentam conseguir o dinheiro para quitar as dívidas, os personagens falam sobre as histórias que os uniram e as violências que os separaram de suas famílias. O filme teve uma passagem pelas salas de cinema e agora está disponível nos aplicativos de streaming Youtube Play, Google Play e Apple TV.

O diretor de cinema Gustavo Vinagre

Ambientado no início da década de 2020, o longa-metragem traz uma abordagem mais atual do tratamento de HIV/aids, após 40 anos do início de epidemia e contemplando os avanços tecnológicos que permitem uma vida plena às pessoas que vivem com o virus. Para o diretor, a escolha do recorte de tempo foi essencial porque, apesar de ainda existir muito estigma e preconceito, a maioria dos filmes produzidos que abordam o tema se passam nos anos 80-90, tratando apenas da morte.  “A medicina evoluiu, mas as narrativas estão apegadas a esse passado”, explica.

As gravações para o filme estavam previstas para março de 2020, justamente quando a pandemia de Covid-19 assolou o mundo inteiro. Gustavo, que também assina o roteiro, reescreveu o texto incluindo o coronavírus como um novo elemento narrativo. “Gravar na pandemia foi incerto e exigiu muito rigor. Nosso orçamento foi bastante impactado pelos protocolos de segurança, o que também me levou a fazer modificações no roteiro, e tornar o filme mais compacto”.

Marina Vergueiro (marina@agenciaaids.com.br)