Entenda como a atividade sexual interfere no funcionamento do coração - 19/12/2021 - UOL VivaBem

Há um bom tempo a literatura médica afirma que muito mais do que simplesmente fazer sexo, vida sexual prazerosa e segura de um indivíduo está diretamente ligada ao bem-estar físico, mental, emocional, social, também conhecimento e respeito sobre o próprio corpo e com o corpo do outro, liberdade de escolhas conscientes, educação sexual, acesso à informação de qualidade, acesso aos métodos contraceptivos de gravidez, aos insumos de prevenção e tratamento das ISTs/aids…

A atividade sexual dos brasileiros têm se iniciado cada vez mais cedo, há uma década, um estudo feito pelo PENSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) já mostrava que quase um terço (29%) dos adolescentes de 13 a 15 anos haviam tido relação sexual. Mais recentemente, em 2020, o Observatório Nacional da Família – ligado ao antigo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, – apontou que a idade média do início da vida sexual do brasileiro era de 12,7 anos para os homens e 13,8 anos para as mulheres.

Atualmente, o Brasil coleciona alguns números alarmantes, somos o segundo país com as maiores taxas de gravidez na adolescência. A média nacional é de 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes entre 15 e 19 anos. Estima-se que mais de 400 mil adolescentes se tornam mães por ano no Brasil, de acordo com relatório da Organização  Pan- Americana de Saúde (PAHO).

Dados do Ministério da Saúde revelam que mais de 1 milhão de pessoas vivem com HIV/aids no país, dessas mais de 100 mil desconhecem o diagnóstico.

Outro exemplo de infecção que tem afetado a população brasileira de forma desproporcional é a Sífilis. Comparando os boletins epidemiológicos do MS, percebe-se que em 11 anos, o número de casos de Sífilis no Brasil aumentou 16 vezes.

Com uma população cada vez mais ativa sexualmente, como garantir o cuidado integral com a saúde sexual e reprodutiva? Quais as melhores formas de prevenção e como inseri-las no dia a dia? Para entender, a Agência Aids conversou com a psicóloga e sexóloga especialista em sexualidade humana e coordenadora do Departamento de Parafilias da ABEMSS (Associação Brasileira de Estudos em Medicina e Saúde Sexual): Michelle Sampaio. 

A especialista compreende que o ideal é se munir de informações corretas, ir ao médico regularmente para realização de exames de rotina, e fazer uso dos métodos contraceptivos e de prevenção ao HIV e demais ISTs disponíveis.

Hoje, para além do preservativo comum, existe um leque de possibilidades para se prevenir do HIV, aquilo que chamamos de prevenção combinada:

  • Imunizar para hepatite A (HAV), hepatite B (HBV) e HPV;
  • Discutir com a(s) parceria(s) sobre testagem para HIV e outras IST;
  • Testar regularmente para HIV e outras IST;
  • Tratar todas as pessoas vivendo com HIV/aids;
  • Realizar Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), quando indicado;
  • Realizar Profilaxia Pós-Exposição (PEP), quando indicado;

Portal Drauzio on Twitter: "Leia mais sobre como funciona a prevenção combinada contra ISTs: https://t.co/1ZbIusWYYe" / Twitter

Michelle Sampaio incentiva a PrEP e PEP e a prevenção combinada como um todo, mas destaca que ainda hoje, a camisinha, junto a um lubrificante a base de água, é o jeito mais eficaz e acessível de se proteger, ‘‘seja na penetração vaginal, na penetração anal ou até mesmo no sexo oral’’.

A sexóloga afirma que além de ser o melhor método contra o HIV, a camisinha também é o melhor caminho para se proteger das outras ISTs em qualquer modelo de relação.

“O que tenho observado em consultório é que muitas pessoas adeptas a PEP ou a PrEP tem aberto mão da camisinha, e acabam tendo ocorrência de outras ISTs”.

Homem que furou camisinha antes do sexo é condenado por estupro | CLAUDIA

“Tanto faz se o sexo é entre vulvas ou entre HSHs (Homens que Fazem Sexo com Homens), a melhor forma de prevenção é o preservativo, pois estamos falando de um grande grupo de ISTs, é claro que hoje em dia falamos de PEP e PrEP, mas essas profilaxias estão voltadas ao HIV, as outras ISTs não serão prevenidas. Então, o preservativo é um velho conhecido de todo mundo e ainda tem o melhor efeito. O ideal é aquele que você se sentir mais confortável. Para as pessoas com alergia ao látex, existe camisinha látex free, é um pouquinho mais cara, mas existe e pode ser utilizada”.

Outros cuidados

Segundo a entrevistada, manter a higienização da região íntima também é fundamental.

“Saúde íntima é higienização, não tem que passar perfume, não tem que passar creme. O segredo é lavar com água e um sabonete neutro e secar bem. Também tem que trocar sempre a calcinha ou a cueca”.

Como matar bactérias de roupas íntimas | 20 Dicas práticas | Cleanipedia

Educação sexual

Michelle destaca o tabu de se falar sobre sexo como outro desafio que se impõe na luta contra a aids e na luta integral pela saúde humana sexual e reprodutiva.

‘‘Ao falarmos de sexualidade não devemos terceirizar as demandas para a escola ou para aquele médico especialista, a ideia é que isso possa ser sempre um bate-papo tranquilo dentro de casa’’, falou.

’’Ainda em 2023 é um tabu falar sobre sexo, e às vezes até entre casais. Isso percorre um espaço de vergonha, de julgamento, juízo de valores, ao mesmo tempo há alguns estereótipos sexuais, e acabamos não falando sobre nossas dúvidas, sobre os nossos receios… Enquanto sexóloga, é um desafio falar sobre sexualidade para todas as idades, entender o que que cada idade está querendo ouvir sobre sexo e como construir essa linguagem para cada faixa-etária”.

O sexo em pauta nas redes socais 

Na contramão do tabu, Vanessa Paz, conhecida nas redes por “Preta Boa Influencer”, é um exemplo de influenciadora. Nas redes tem criado e difundido informações corretas sobre sexualidade. Seu público alvo são as mulheres, especialmente mulheres negras.

Sua história na internet começou há quase 5 anos atrás. Ela conta que quando começou a produzir conteúdo, sua página tinha um conceito de projeto para ajudar mulheres com transtornos psicológicos. “Mesmo sem formação na área, criei um Instagram, um Facebook e um grupo no Whatsapp de seguidoras. Eu tinha seguidoras de todo Brasil, de todas as idades. O projeto deixou de ser projeto quando uma publicação sobre depilação feminina tomou grandes proporções e daí fui de trezentos e poucos seguidores para 60 mil”. 

Ela falou que nessa época, seu público era somente consumido por mulheres brancas feministas. “Eu convivia no meio de muitos brancos, na medida que fui amadurecendo, me vi tendo necessidade de falar pra todo mundo. Principalmente para os meus. Eu queria que meus conteúdos chegassem até moradores da periferia. Eu queria falar com pessoas que enfrentavam o mesmo que eu. O tempo foi passando e a vertente da página mudando. Comecei a incluir assuntos sobre corpo, saúde mental, raça, maternidade, autocuidado, dicas e sexualidade junto com saúde íntima”. 

Vanessa compartilhou ainda que teve a sorte de ter crescido em uma família muito aberta a falar de sexualidade. “As mulheres da minha casa sempre me alertaram sobre os perigos, mas ainda assim isso não foi suficiente para me salvar de um estupro. Principalmente depois de ser estuprada, vi uma necessidade grande de bater na tecla de saúde íntima, sexualidade e educação sexual. Muitas mulheres eram e são estupradas diariamente e nem sabem, assim como o estupro marital. Nós temos o hábito de achar que o estupro é só o ato da penetração tradicional em si, e vindo de desconhecidos. Entendi que precisava cada vez mais falar e deixar de forma bem didática o que era consentimento. Muitas mulheres também não conhecem o próprio corpo, não sabem usar absorvente interno, não sabem identificar a nossa estrutura pélvica. Eu sempre sigo ginecologistas que falam bastante sobre a nossa saúde íntima e compartilho com meus seguidores. É uma via de mão dupla, eu aprendo, compartilho e trocamos experiências. É muito importante falar sobre prevenção. A ida na ginecologista ainda é um tabu. Geralmente só procuramos quando tem algo errado, e não de forma periódica. Muitas mulheres nunca fizeram exames como papanicolau e mamografia. Acredito que quanto mais a gente se conhece, mais a gente assume protagonismo e impomos limites. Quanto mais conhecimento, mais quebramos mitos, gravidez precoce e freamos as infecções sexualmente transmissíveis. Eu mesma, com 27 anos, só passei a fazer exames para ISTs quando fui solicitada pela médica. Muita gente nem sabe do que se trata”.

E para Vanessa Paz um caminho possível de autoconhecimento é a masturbação feminina. 

“Não acredito numa vida prazerosa se você não conhece seu próprio corpo. Masturbação ainda é vista como tabu ou vulgaridade e precisamos romper isso. Masturbação promove bem estar e autonomia”.

“Se você é uma mulher e fala abertamente sobre sexualidade, a sociedade te vê como “puta” e vulgar. Alguns homens acham que isso é motivo pra assediar. É complicado, mas sigo falando. É necessário até para ajudar gerações futuras. Mesmo com todos os desafios, é muito bom poder ajudar e aprender de alguma forma. Eu aproveito a visibilidade que tenho para potencializar como um meio de comunicação e troca. Muitas vezes é bem delicado, porque no meio do caminho encontramos traumas, gatilhos, o próprio Instagram sabota a entrega do conteúdo, mas a fala é uma ferramenta de cura, proteção e liberdade. Lidar com mulheres pretas e o público LGBT é delicado porque sempre somos alvo fácil. Lidamos o tempo todo com agressão, assédio, culpa, símbolo sexual… Então temos que falar com mais cuidado e zelo, sabe? Estamos mexendo em feridas que na maioria das vezes ainda está aberta. Eu sempre digo que independente do meu trabalho, é extremamente fundamental ter acompanhamento periódico com ginecologista, psicólogos e estar sempre com nossos exames em dia. Principalmente os de IST. Se a gente não se cuidar e se preservar, quem vai? Muito antes de ser um cuidado com o outro, é um gesto de cuidado com nós mesmos”, finalizou.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica entrevista

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