Registro amplificado 40 mil vezes detalha a estrutura das partículas virais e evidencia que a célula é cerca de 300 vezes maior

A disseminação da Mpox em nível global preocupa autoridades de saúde desde 2022, quando o mundo registrou um número alto de novos casos da doença. Recentemente, a infecção ganhou novamente atenção especial quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência de saúde pública global pela segunda vez em dois anos.

A Mpox pode ser transmitida de animais para humanos, mas também entre pessoas. Nesse último caso, o contato próximo com alguém infectado, como tocar nas lesões que a doença causa, pode levar à disseminação do vírus.

Em 2022, observou-se que muitos casos da doença envolviam pessoas com histórico sexual com múltiplos ou novos parceiros, além de apresentarem alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível).

Em outubro daquele ano, o CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) informou que “41% das pessoas diagnosticadas com varíola dos macaco (antigo nome utilizado para se referir a mpos) relataram uma IST no ano anterior, e 38% tinham HIV no momento do diagnóstico de varíola dos macacos”.

Dados também mostraram que os casos das doenças estavam concentrados principalmente na população de homens que fazem sexo com outros homens, algo que preocupou a comunidade LGBTQIA+ por medo de estimagizações. Reiteradamente, autoridades de saúde afirmavam que qualquer pessoa estava sujeita a infecção a fim de evitar casos de preconceitos contra essa população.

Até hoje, a transmissão da Mpox via sexual preocupa. “Pessoas que fazem sexo com múltiplos ou novos parceiros correm mais risco”, informa a OMS em um site oficial.

Este cenário levanta a dúvida se a Mpox deveria ser considerada uma IST, mas a questão é ambígua. Por exemplo, em um texto atualizado no último dia 12, o Ministério da Saúde afirma que “a Mpox não é uma infecção sexualmente transmissível”.

Na publicação, a pasta explica que o vírus já foi identificado no sêmen humano, mas ainda não é possível saber se a infecção pode ser transmitida por essa via ou por fluidos vaginais.

Rafael Galliez, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Needier (Núcleo de Enfrentamento e Estudos de Doenças Emergentes e Reemergentes), também da mesma universidade, tem uma visão parecida.

Ele afirma que, atualmente, a circulação do vírus está associado a uma IST, mas existem outros cenários de transmissão da doença que não envolvem o sexo. “Ela pode se portar como uma IST, mas ela tem outra complexidade na transmissão que chamar de IST é restringir muito o espectro de transmissibilidade da doença”, resume.

Galliez também afirma que a categorização da Mpox como uma IST pode diminuir o senso de alerta que parte da população tem em relação à doença. “As pessoas não entenderiam que é preciso ter cuidado [em outras situações]”, hipotetiza.

Alexandre Naime, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e coordenador científico da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), diz que “a Mpox fora do continente africano é predominantemente, mas não exclusivamente, transmissível pelo sexo”.

“É importantíssimo discutir abertamente e com transparência sem deixar dúvida que atividade sexual é variável mais relacionada à transmissão da Mpox, seja isso dependente da presença do vírus nas secreções sexuais ou não”, continua.

E quando se fala de proteção durante o sexo, normalmente se pensa na camisinha. Para Mpox, no entanto, ainda existem dúvidas do quanto o preservativo é eficaz. Um estudo recente publicado na revista The Lancet Infectious Disease analisou amostras de mais de 20 mil camisinhas usadas em 16 países da Ásia e da África. Dessas, 1,3% continham o DNA do vírus mpox.

Os autores concluem que camisinhas podem servir “como uma ferramenta de vigilância indireta para transmissão de Mpox”. A eficácia do preservativo contra a transmissão do vírus, no entanto, não é atestada pelo estudo. “É difícil saber se os preservativos agiram como uma barreira à disseminação”, escrevem os cientistas.

A OMS também informa, em seu site oficial, que a camisinha não protege completamente contra a Mpox, mas pode diminuir o risco de contrair a infecção. Por isso, o uso do preservativo continua altamente recomendado, até para evitar ISTs em geral, e, na presença de qualquer suspeita de Mpox, é necessário procurar ajuda médica o mais rápido possível, orienta a organização.

Fonte: Folha de S. Paulo