O fim da transmissão vertical pode acontecer em 2025
O segundo dia do 22º Enong (Encontro Nacional de ONGs) foi marcado por debates sobre as perspectivas de eliminação da aids como problema de saúde pública até 2030, conforme proposto no relatório global do Unaids e no boletim epidemiológico de HIV e Aids do Ministério da Saúde, divulgado durante o evento.
O diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs (Dathi), Draurio Barreira, abriu a sessão abordando os avanços no enfrentamento da pandemia, incluindo a expectativa de eliminar a transmissão vertical do HIV já em 2025. “Para 2025 esperamos a eliminação da transmissão vertical pelo HIV”, afirmou. Ele também destacou que os baixos índices de mortalidade são um indicativo positivo, mas reforçou a necessidade de enfrentamento das desigualdades sociais: “Temos as ferramentas biomédicas, precisamos enfrentar os determinantes sociais”.
Barreira anunciou o aumento de 20% no orçamento do Dathi e a destinação de R$ 45 milhões para o Programa Brasil Saudável, além de 30% do orçamento do departamento voltado para apoiar a sociedade civil e R$ 300 milhões em incentivos a estados e municípios. “Esses esforços são essenciais para alcançar a meta de 2030”, pontuou.
Desafios e desigualdades no Brasil e no mundo
Participando remotamente, Alessandra Nilo, da Gestos (Recife), criticou o cenário internacional e a falta de prioridade para a aids. “Nunca, nos últimos 30 anos, vi um contexto internacional tão difícil, onde a aids não é prioridade”, afirmou. Ela também destacou as desigualdades regionais no Brasil, observando que “a aids se manifesta de formas diferentes no sul/sudeste e no norte/nordeste”. Para Nilo, as inequidades devem estar no centro das políticas públicas. “A garantia de direitos deve ser prioritária nos orçamentos públicos, e não a criação de superávits que prejudicam direitos básicos.”
185 municípios ainda não ofertam PrEP
O pesquisador Alexandre Grangeiro, da Faculdade de Medicina da USP, apresentou um panorama crítico sobre o atual cenário da aids no Brasil. Ele apontou que 60% dos casos de HIV ocorrem por falta de tratamento efetivo, enquanto 40% das pessoas não conhecem seu estado sorológico. “Não alcançaremos a meta em 2025, mas há esperança para 2030”, avaliou.
Grangeiro chamou atenção para a oferta de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). Dos 590 municípios com mais de 25 casos de HIV, 185 ainda não disponibilizam o medicamento. Ele sugeriu que o Enong pressione o governo federal por maior acessibilidade aos medicamentos Lenacapavir e Cabotegravir, com negociações de preços justos e ampliação da produção nacional.
Ativismo e compromisso político como soluções
Andrea Boccardi Vidarte, representante do Unaids no Brasil, destacou que cerca de 40 milhões de pessoas vivem com HIV/aids no mundo, e que o acesso ao tratamento é marcado por desigualdades, especialmente entre adultos e crianças. Para ela, “o ativismo e o compromisso político” são fundamentais para avançar.
Entre os desafios apontados, Andrea destacou as legislações punitivas que alimentam o estigma e a discriminação. “Com o avanço do conservadorismo no mundo, a perseguição a grupos vulneráveis, o cancelamento de apoios a projetos de saúde sexual e reprodutiva, aliado à homofobia, racismo e machismo, agravam ainda mais a realidade de quem vive com HIV.”
O evento, que acontece em Duque de Caxias, reforçou que, para alcançar as metas globais, é necessário um esforço conjunto entre governos, sociedade civil e organismos internacionais, com foco em justiça social e na garantia de direitos.
Liandro Lindner, especial para a Agência Aids
Dica de entrevista
@enongaidsoficial