Na Conferência do Clima COP29, realizada em Baku, Azerbaijão, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) emitiram um alerta preocupante: as mudanças climáticas podem intensificar a epidemia de aids, especialmente entre as populações mais vulneráveis.
De acordo com um novo relatório apresentado pelas agências da ONU, fatores como infraestrutura de saúde fragilizada, aumento de doenças relacionadas ao HIV, insegurança alimentar, escassez de água e deslocamentos em massa – todos exacerbados pela crise climática – podem levar a um aumento de novas infecções e mortes relacionadas à aids.
Crise de financiamento triplo
A diretora executiva do Unaids, Winnie Byanyima, destacou que o progresso alcançado no combate à aids está sob ameaça. “O avanço que fizemos é frágil e pode ser desfeito por mudanças climáticas descontroladas”, afirmou. Segundo ela, muitos dos países mais afetados pelas mudanças climáticas enfrentam, simultaneamente, altas taxas de HIV e níveis críticos de endividamento, caracterizando uma “crise de financiamento triplo” que une desafios climáticos, de saúde e econômicos.
Dos 4.000 novos casos semanais de HIV em meninas adolescentes e mulheres jovens entre 15 e 24 anos, 3.100 ocorrem na África Subsaariana, região especialmente vulnerável a eventos climáticos extremos, como secas e ondas de calor, que ameaçam torná-la inabitável em certas áreas.
Impactos já sentidos
Eventos recentes ilustram os efeitos combinados das crises. No ano passado, o ciclone Freddy atingiu o Malawi durante um surto de cólera e enquanto o país ainda se recuperava da pandemia de covid-19. As regiões mais afetadas eram também as que registravam maior incidência de HIV. Cerca de 37.000 pessoas vivendo com o vírus foram deslocadas, enfrentando serviços de saúde sobrecarregados e falta de medicamentos.
Soluções urgentes
Apesar da gravidade, iniciativas internacionais têm tentado responder à emergência. O Fundo Global de Combate ao HIV, Tuberculose e Malária destina 70% de seus recursos a 50 países considerados mais vulneráveis ao clima. Contudo, o financiamento climático público, predominantemente baseado em empréstimos e não em subsídios, agrava o problema. Na África Ocidental e Central, por exemplo, os países gastam sete vezes mais no pagamento de dívidas do que em saúde pública.
Marcos Neto, diretor do Bureau de Políticas e Apoio a Programas do PNUD, reforçou a necessidade de uma abordagem integrada: “A resposta à aids mostrou o que é possível quando comunidades, governos e instituições trabalham juntos. Incorporar questões de saúde na ação climática é essencial para proteger conquistas e garantir resiliência futura.”
Apelo na COP29
O relatório divulgado à margem da COP29 instou os governos a combater as desigualdades, fortalecer a liderança e alocar financiamentos sustentáveis. A meta é evitar que a crise climática intensifique a epidemia de aids, promovendo soluções que incluam as comunidades mais impactadas e garantam progresso duradouro.
Com esse alerta, a ONU ressalta a interconexão entre a saúde global e as mudanças climáticas, reforçando a urgência de ações coordenadas que contemplem as crises sobrepostas de clima e saúde.
Redação da Agência Aids com informações do Unaids