Durante o Camarote Solidário, organizado pela Agência de Notícias da Aids, a jornalista Filomena Salemme e o ator e bailarino Rafael Bolacha, participaram juntos de um bate-papo com o Dr. Álvaro Furtado, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, médico assistente do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas de São Paulo, e que integra a equipe do ambulatório de HIV/aids do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo.

O lançamento da máquina de entrega de PrEP e PEP, que a partir desta segunda-feira, 03/06, já está em operação inicial na Estação Vila Sônia, Linha Amarela do metrô, foi o tema principal da conversa.

Dr. Álvaro, cuja carreira já soma 25 anos de experiência no atendimento a pacientes que vivem com HIV, celebra a novidade, anunciada durante o Camarote, mas entende que simultaneamente à inovação, é preciso manter políticas públicas e todo o empenho também para debelar a ideia que as pessoas ainda têm, do estereótipo do HIV dos anos 1980/90.

“São Paulo sai na frente com essa inovação em relação à prevenção, mas nosso desafio é amplo. A maioria das pessoas não sabe o que é PrEP, PEP e também não sabe diferenciar outras questões, tais como uma coisa simples, que é a orientação sexual, que ainda é considerada uma ‘opção’. Esses conceitos do século passado, por incrível que pareça, ainda estão entre nós”, alerta. “As conquistas relacionadas ao HIV hoje possibilitam às pessoas infectadas uma vida normal, usando poucos medicamentos, todos fornecidos pela rede pública e com baixíssimos efeitos colaterais”, enfatizou.

O infectologista explicou como vai funcionar a máquina de entrega de PrEP e PEP. “Pode parecer uma coisa simples, que você vai lá e pega um medicamento que precisar, mas não é bem assim”.

A pessoa que quiser usar os recursos da máquina deve cadastrar-se, marcar uma consulta médica com ajuda de um QR code, que será disponibilizado de forma privada e gratuita, além de uma agenda para consulta fora dos horários comerciais. A testagem rápida do  HIV também é imprescindível. “Só depois disso é que a pessoa terá acesso à medicação, capaz de bloquear a transmissão do vírus, antes ou  depois de uma exposição de risco”, explica Dr. Álvaro. Ele observou também que esses recursos já estão disponíveis na rede pública, mas essa máquina estará mais próxima das pessoas mais vulneráveis da sociedade, que muitas vezes não alcançam os serviços públicos disponíveis. “A máquina vem para ampliar o raio de atendimento em relação à PrEP e à PEP, e vai ajudar na detecção também”.

Dúvidas

Dr. Álvaro respondeu algumas perguntas que vieram via redes sociais, durante a apresentação, de pessoas recém-diagnosticadas ou sob a suspeita de infecção pelo HIV. “Pelos sintomas que muitas pessoas manifestam já dá para saber que não têm a ver com a infecção, mas com impressões sugestionadas pelo espectro do HIV do século passado. É importante buscar ajuda no âmbito da saúde mental, também!”.

Outro alerta do especialista diz respeito às consultas ao “Dr. Google”, que muitas vezes trazem definições equivocadas e que só confundem a cabeça de quem busca se informar. “Muitas vezes você pode estar diante de uma informação que vai confundir e até causar ansiedade sem necessidade. Procure o SUS, procure a rede pública antes de mais nada!”

Indetectável é igual a zero

Apesar da prevenção ser prioridade, hoje a detecção do HIV está muito distante de ser uma sentença trágica para a vida de uma pessoa. “Se esta pessoa estiver sob medicação e acompanhamento, rapidamente torna-se ‘indetectável’, ou seja, ela não transmite o vírus ao parceiro sexual, a vida continua, inclusive para quem quer ter filhos, constituir um relacionamento, etc”, rebate. “Aliás, essa questão do vírus indetectável ainda é um paradoxo na sociedade. Enquanto esse assunto não for pauta de escola, das famílias, das redes sociais, esses equívocos estarão aí”. O médico lembra que aids é o nome da doença causada pelo vírus HIV. “Às vezes, o HIV é um dos menores problemas de um paciente, tanto é que a gente diz ‘pessoas vivendo com HIV’, porque as pessoas são mais importantes do que o vírus”. As estatísticas do governo mostram que as pessoas consideradas em vulnerabilidade social, são as mais expostas às novas infecções.

O Camarote

Idealizado pela jornalista Roseli Tardelli, diretora desta agência, o Camarote Solidário é realizado desde 2002. A iniciativa arrecada alimentos para organizações não-governamentais que acolhem pessoas que vivem com HIV/Aids.

Em 2024, o evento teve o apoio do Senac e SESC de São Paulo, das farmacêuticas GSK ViiV Healthcare, Gilead, Abbott, MSD e Janssen, da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo, da Unesco e da Galeria 2001.

Sandra de Angelis, especial para Agência Aids