Evalcilene Santos: Política para mulheres e a volta da esperança

A contagem regressiva para o primeiro turno das eleições municipais de 2024 já começou. Faltando menos de 30 dias para o pleito, marcado para 6 de outubro, mais de 158,8 milhões de brasileiros estão prontos para escolher seus novos representantes, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Nesse contexto, a Agência Aids lança uma série especial de reportagens sobre as Eleições 2024. A primeira fase da cobertura é dedicada a apresentar perfis de candidatos a vereador (a) que vivem com HIV/aids ou que estão ativamente envolvidos na luta contra o vírus em diversas partes do país. A série tem como objetivo dar visibilidade a quem traz uma perspectiva diferenciada, focada na defesa dos direitos humanos e na melhoria da saúde pública para pessoas que vivem com HIV/aids.

Entre os destaques da cobertura está a ativista e educadora Val Santos, candidata a vereadora pelo PSOL em Manaus. Ela vive com HIV há 25 anos, é uma mulher afro-indígena e militante em diferentes causas sociais. Sua jornada de ativismo começou após receber o diagnóstico de HIV, que coincidiu com o nascimento de sua filha, em um período marcado pelo estigma social e a desinformação.

Educadora infantil, Val enfrentou barreiras profissionais devido ao preconceito em torno do HIV, o que reforçou sua determinação de lutar pelos direitos de quem vive com HIV/aids.

Como parte do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP), ela tem trabalhado para melhorar a vida das mulheres que vivem com HIV. Se eleita, ela promete uma agenda forte de inclusão e defesa dos direitos humanos, com especial foco nas necessidades das mulheres HIV positivas em Manaus.

A equipe da Agência Aids conversou com Val Santos para conhecer mais sobre sua trajetória e suas propostas. Confira: 

Saúde

Com uma trajetória marcada pela luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV/aids, Val coloca a saúde pública e o combate à discriminação no centro de sua campanha eleitoral. Ela defende que a saúde, como um direito universal, deve oferecer suporte contínuo e especializado para todas as pessoas vivendo com HIV/aids. Entre suas principais propostas, está a ampliação dos serviços de saúde, o fortalecimento das políticas de prevenção e o aumento do acesso a medicamentos para tratar doenças correlacionadas ao HIV/aids. Ela destaca a importância de um sistema de saúde que funcione de maneira eficiente, especialmente para os mais vulneráveis.

Combate à discriminação

Um dos pilares da campanha de Val Santos é o combate à discriminação em todas suas formas, incluindo o racismo e a LGBTfobia. Ela acredita que a estigmatização das pessoas vivendo com HIV/aids continua a ser um grande obstáculo, tanto para a adesão ao tratamento quanto para a qualidade de vida no dia a dia dessas pessoas. Entre suas propostas estão campanhas educacionais para desmistificar o HIV/aids, o fortalecimento de políticas e ações que garantam a proteção dos direitos das pessoas vivendo com o vírus, além do fortalecimento das ONGs e dos movimentos sociais organizados de luta contra a aids. “Nós enquanto movimentos sociais precisamos ser fortalecidos porque são eles que trazem melhorias e salvam vidas. Nós ainda estamos morrendo de aids devido ao preconceito, ao estigma e discriminação, e é preciso dar visibilidade, inclusive ao programa de HIV do Ministério da Saúde para enfrentar esses desafios.”

Redução de dados

A Redução de Danos  faz parte do seu plano de governo. A ideia é fortalecer a Redução de Danos, parte da Prevenção Combinada ao HIV. Redução de danos é um conceito que engloba estratégias de prevenção e suporte, que consiste em adaptar práticas e políticas para minimizar os riscos e danos associados ao uso de substâncias, como álcool e outras drogas, bem como para pessoas que enfrentam diversas condições de saúde. Essas estratégias são pensadas com objetivo de oferecer cuidado às pessoas com base no princípio do respeito e inclusão.

“Eu mesma me senti contemplada pela redução de danos quando eu descobri o HIV. Isso foi importante para que eu pudesse perceber que as políticas públicas muitas delas já estão aí, postas em todos os cantos.”

Meio Ambiente e Transporte

Além da saúde, Val aborda questões ambientais, propondo políticas para proteger áreas verdes e combater queimadas, que afetam diretamente a saúde pública em Manaus. No campo do transporte, ela defende a ampliação da gratuidade no transporte público para acompanhantes de pacientes em tratamento de HIV/aids, facilitando o acesso aos serviços de saúde.

Prevenção às ISTs/aids e Educação Sexual

A candidata propõe a expansão das políticas de prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e defende a educação sexual nas escolas, como parte do Programa Saúde na Escola. Para Val, “as escolas precisam retomar o programa de saúde e prevenção, incluindo educação sexual, para que as crianças aprendam sobre seus corpos e saibam como se proteger.”

Reestruturação dos SAEs 

Outra proposta é o desenvolvimento de projeto de reestruturação dos Serviços de Atendimento Especializado em Saúde (SAEs). A candidata acredita que uma reforma nesses serviços é importante para garantir que as pessoas vivendo com HIV/aids recebam um atendimento mais eficiente e humanizado. A reestruturação inclui a melhoria na coordenação entre serviços, a ampliação dos recursos públicos e a formação continuada de profissionais de saúde para oferecer um atendimento mais integrado, humanizado e centrado na pessoa.

“Hoje aqui em Manaus, há uma descentralização no atendimento a pessoas que vivem com HIV. O protocolo de atendimento que antes era específico para casos bem controlados e indetectáveis, não está mais claro e não é mais aplicado de forma devida, o que acaba gerando falta de orientação e na dificuldade de acesso para aqueles que estão em situação mais grave, como aqueles com aids já avançada ou com outras comorbidades. As unidades de saúde, como os SAEs (Serviços de Atendimento Especializado), frequentemente não estão equipados para lidar com as nossas necessidades. Há uma carência de profissionais qualificados e humanizados. Além disso, chega os antirretrovirais que são enviados pelo Governo Federal, mas faltam outros medicamentos que são essenciais para a população com HIV. Anteriormente, a Fundação de Medicina Tropical oferecia um suporte mais completo, com médicos especializados e exames específicos, mas que agora não dão conta.”

Horário estendido das Unidades de Saúde

Se eleita, Val vai propor a ampliação do horário de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde e dos centros especializados em HIV/aids. Ela acredita que o horário estendido pode facilitar o acesso aos serviços para aqueles que trabalham durante o dia ou enfrentam dificuldades para comparecer durante o horário convencional. Para a flexibilização, a proposta inclui a implementação de turnos noturnos. “Eu, por exemplo, chegava em casa às 17 ou 18 horas, não conseguia pegar meu medicamento ou comparecer a uma consulta, porque o horário de funcionamento das unidades não se ajusta à realidade de quem trabalha.”

Saúde Mental

A saúde mental também é uma prioridade. Val sugere a criação de novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em Manaus e o fortalecimento dos CAPS existentes, além de mais suporte psicológico para pessoas vivendo com HIV/aids.

Val Santos traz uma candidatura comprometida com a inclusão e os direitos humanos, convidando os eleitores de Manaus a conhecer suas propostas. A Agência Aids seguirá acompanhando sua campanha durante o período eleitoral.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Val Santos

Instagram: @valsaontosam