Raquel Lyra (PSDB), 43, foi eleita a primeira mulher governadora de Pernambuco neste domingo (30). A candidata venceu, no segundo turno, a disputa contra Marília Arraes (Solidariedade). O resultado representa uma virada, pois, no primeiro turno, ela havia ficado em segundo lugar.

Filha do ex-governador João Lyra Neto, Raquel Lyra terá como vice também uma mulher, Priscila Krause (Cidadania).

No primeiro turno, Pernambuco também elegeu a primeira senadora, Teresa Leitão (PT), e teve recorde de deputadas federais eleitas de uma vez só (foram três).

A tucana sucederá Paulo Câmara (PSB). O antecessor dele foi o pai de Raquel, que assumiu como tampão por nove meses após a saída de Eduardo Campos (1965-2014) do cargo.

O êxito da candidata do PSDB nas urnas representa uma vitória de um palanque de centro-direita após 20 anos em Pernambuco.

A neutralidade de Raquel Lyra em relação ao segundo turno presidencial não foi um impeditivo para a vitória dela nas urnas. No primeiro turno, ela apoiou a candidatura de Simone Tebet (MDB), mas optou por não se posicionar na segunda rodada presidencial.

Com a neutralidade, sofreu críticas da adversária Marília Arraes (Solidariedade), apoiada no segundo turno por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Marília tentou associar a concorrente ao bolsonarismo, após alguns apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) terem declarado apoio à tucana. Raquel Lyra rebateu o discurso alegando que também tinha apoio de dissidências do PT.

A estratégia da agora eleita ao se manter neutra foi captar votos de lulistas e bolsonaristas no estado. Além disso, buscou vincular Marília Arraes ao governador Paulo Câmara, que tem elevada rejeição entre a população. Isso porque, após perder, o PSB declarou apoio a Marília no segundo turno, seguindo a posição de Lula.

Procuradora do Estado e ex-delegada da Polícia Federal, a futura governadora é de uma família tradicional na política do agreste pernambucano.

No segundo turno, seu palanque foi composto por políticos de diversas matrizes ideológicas, mas teve predominância de grupos da direita.

A família tem origem política no campo da esquerda. O pai, o ex-governador João Lyra Neto (PSDB), já foi filiado ao MDB no período da ditadura (1964-1985) e passou por PSB, PT e PDT. O tio, Fernando Lyra (1938-2013), ex-deputado federal, foi candidato a vice-presidente na chapa de Leonel Brizola, em 1989.

Raquel Lyra já apoiou candidaturas de Lula à Presidência em 2002 e 2006. Em 2010, foi aliada de Dilma Rousseff (PT). Em 2014, ela seguiu o seu então partido, o PSB, ao apoiar Aécio Neves no segundo turno contra a petista.

Dois anos depois, deixou o PSB após o partido negar as pretensões dela para tentar a Prefeitura de Caruaru. Com a negativa, se filiou ao PSDB e venceu a disputa.

Em 2020, foi reeleita prefeita de Caruaru com 66,86% dos votos válidos. Em março de 2021, renunciou ao cargo para disputar o Governo de Pernambuco.

A campanha de Raquel Lyra enfrentou adversidades ao longo da eleição. No primeiro turno, teve o segundo menor tempo de propaganda no rádio e na televisão dentre os cinco postulantes mais competitivos. Além disso, recebeu apoio de um número pequeno de prefeitos.

Já no segundo turno, ganhou o apoio do ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União Brasil), que ficou em quinto lugar no primeiro turno.

Na data da votação em primeiro turno, seu marido, o empresário Fernando Lucena, morreu aos 44 anos após um mal súbito. O velório e o sepultamento ocorreram no mesmo dia.

Raquel Lyra ficou mais de uma semana reclusa com os filhos e a família. No período do luto, a campanha foi coordenada pela candidata a vice.

A vitória representa um fôlego para o PSDB, que perdeu no primeiro turno para o Governo de São Paulo após 28 anos. Internamente, a ex-prefeita é vista como um símbolo de possível renovação da sigla.

A crise nos hospitais públicos de Pernambuco, os problemas no transporte público da região metropolitana do Recife, as estradas estaduais e o alto índice de desemprego no estado estão entre os desafios da futura governadora para os próximos quatro anos.

Outra missão para a eleita é construir maioria pró-governo na Assembleia Legislativa. Para isso, terá que articular com partidos que apoiaram outras candidaturas na disputa estadual.