Há 30 anos, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíram o dia 1º de dezembro como o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Em alusão à data, o Grupo Pela Vidda de São Paulo e o Grupo de Incentivo à Vida (GIV) realizaram um ato de luta e enfrentamento da infecção pelo HIV/aids na tarde dessa sexta-feira (29).

Ativistas se reuniram em frente ao Teatro Municipal de São Paulo “em memória das pessoas que nos deixaram em decorrência do HIV/aids e numa demonstração de nosso repúdio à invisibilidade que temos experimentado”.

Durante suas falas, ativistas ressaltaram que no Brasil cerca de 900 mil pessoas vivem com HIV/aids e cerca de 10 mil morrem por ainda a cada ano.

“A aids é um problema de saúde pública. Nós estamos vivendo um momento de retrocesso. Toda a sociedade deve estar atenta porque o governo vem retirando recursos e todos nós estamos sujeitos a ficar sem tratamento. A aids é um problema de todos nós”, disse Fabiana de Oliveira do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas.

Do Centro de Referência e Diversidade, Eduardo Barbosa falou sobre a importância da união do movimento. “Precisamos de articulação, mobilização e ativismo”, disse ao enfatizar também as lutas que acontecem no meio online, através das redes sociais, e lembrou que a presença de todos é importante para a construção das articulações necessárias na luta contra aids.

Nesse sentido, Cláudio Pereira, do GIV, destacou que, no mês de junho deste ano, “o governo federal simplesmente parou de alimentar as redes sociais que falavam de prevenção combinada, de PrEP e PEP. Desde essa data, nada mais se falou sobre as questões específicas do HIV/aids. Apenas se falou de camisinha e de questões bastante distantes de nossa realidade.”

Jorge Beloqui disse que “aquilo que não se vê, aquilo que se esconde, é deixado de lado. E nossa epidemia atravessa um momento muito grave, apesar de alguns avanços como a eliminação da transmissão vertical em Curitiba, Umuarama e São Paulo. A epidemia está em expansão em estados como Rio Grande do Sul e Amazonas.”

Para Beloqui, a redução da mortalidade no estado de São Paulo se deve à PrEP. “Devemos notificar toda a população que a profilaxia é uma outra forma de prevenção do HIV para todo mundo que tem risco aumentado, não apenas as populações chave, inclusive para homens e mulheres cisgênero e heterossexuais que também se expõem. Não podemos pensar que a PrEP não é para todos, é para todos aqueles que têm risco mais elevado de contrair HIV.”

Sobre os recortes da epidemia, a ativista Micaela Cyrino falou da perspectiva da transmissão vertical vírus e do HIV na população negra. “É importante entender que este também é um viés do genocídio da população negra. Entender que a gente não pode ficar sem nossos direitos. Entender que a mobilização social nos potencializou. Estou viva hoje por conta de vários ativistas que estiveram à frente dessa causa.”

Adriana Bertini, aproveitou o momento de sua fala para lembrar a luta pelo acesso aos medicamentos e homenagear o ativista José Hélio, que faleceu nessa sexta-feira.

Do Grupo Pela Vidda, Mário Scheffer disse que nós viemos em praça pública para dizer que essa é uma data para reafirmar aluta das pessoas que vivem com HIV. São 360 mil pessoas que não se beneficiam do tratamento. Conquistamos, nesses 30 anos, os mais modernos métodos de prevenção, a distribuição gratuita de medicamentos. Mesmo assim, essas pessoas estão em risco de adoecimento e de morte. Por isso, não é uma data para comemorar, mas para resistir.

Jenice Pizão, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, também enfatizou que “não se pode deixar que as políticas públicas que foram construídas até agora desapareçam e não deixar que o governo nos desmobilize. Vamos nos fazer presentes, vamos nos fazer visíveis!”

O ex-ministro da Saúde e atual Deputado Federal, Alexandre Padilha, explicou que coordena a frente parlamentar de deputados e senadores para a luta contra a aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis e falou sobre a importância de a sociedade civil participar das audiências públicas que acontecem sobre o tema.

Ao final do ato, ativistas se reuniram na escadaria do Teatro Municipal e fizeram um minuto de silêncio enquanto espalharam fumaça e balões vermelhos em homenagem a todos aqueles que já lutaram pelo acesso à saúde e contra o HIV/aids.

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)