Natasha Wonderfull da Silva, mulher trans e técnica de enfermagem em Maceió — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O preconceito ainda é o principal obstáculo entre as pessoas transexuais e o mercado de trabalho. As dificuldades são enfrentadas em todo o país, mas a situação é pior em Alagoas e no Maranhão, os únicos estados brasileiros que não registraram nenhuma contratação de pessoas trans ou travestis em 2022, segundo a plataforma TransEmpregos.

“Eu fui fazer um curso de enfermagem e muitas mulheres diziam: ‘Natasha, não faça porque você não vai conseguir emprego’. E quando eu comecei a levar currículos, eu tive essa dificuldade, as pessoas diziam ‘ah, não é mulher, é homem”, relembra Natasha Wonderfull da Silva, técnica de enfermagem.

Mas Natasha não se intimidou. Ela persistiu e conseguiu uma contratação em uma unidade de saúde no Vergel do Lago, em Maceió. Hoje ela atua em ações sociais para tentar levar oportunidades semelhantes a quem ainda tenta um espaço no mercado de trabalho.

“É uma luta nossa para que elas [pessoas trans] se especializem, procurem fazer cursos para que possam acessar o mercado de trabalho. E que o patrão também possa ter uma cabeça aberta, esqueça”, pondera Natasha.

O problema é que as dificuldades começam bem antes da busca pelo emprego, já no acesso a uma educação de qualidade, como explica Carlos Lins, professor universitário e pesquisador da população LGBTQIAPN+.

“Além da questão do preconceito, a gente vai ter uma questão de evolução histórica mesmo. Existe essa dificuldade de as pessoas trans conseguirem acessar a educação, de terem formação de educação básica, de nível técnico, de nível superior”, diz o pesquisador.

E quando essa primeira barreira da educação é superada e as pessoas trans conseguem se qualificar, esbarram em outras um ambiente de trabalho que não está pronto para recebê-las.

“As próprias empresas não têm, muitas vezes o preparo para receber esse profissional, essa população de forma geral e aquele ambiente pode ser um ambiente hostil, que quando elas conseguem adentrar, causa uma insegurança para estar ali dentro”, avalia Carlos Lins.

Quem conseguiu passar por todo esse processo, reconhece que é exceção. Augusto Romeiro é um homem trans formado em história, professor e conta que teve apoio dos gestores. Além de dar aulas, ele voltou para para a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) para cursar economia e já faz estágio na área.

“Eu sei que isso é uma exceção à regra, a gente tem muitas outras dificuldades dentro da população [trans]”, lamenta Romeiro.

Fonte: G1