Nesta segunda-feira, 11 de abril, é celebrado o Dia Nacional do Infectologista. A data, oficialmente criada em 2005 pela Sociedade Brasileira de Infectologia, foi escolhida propositadamente por ser o aniversário de nascimento do médico Emílio Marcondes Ribas, um dos nomes pioneiros no combate às doenças infecciosas no final do século 19 e início do século 20, quando a capital paulista vivia um pico de crescimento demográfico, embalada pela efervescente chegada de imigrantes.
“Ao lembrar o Dia do Infectologista nossa Agência presta uma homenagem aos profissionais que se dedicam a esta especialidade, que sempre fizeram diferença no acolhimento e vida das pessoas vivendo com HIV/ Aids e Hepatites Virais, que se desdobraram em atendimentos e cuidados durante a pandemia da Covid-19 e que estão sempre dispostos a estudar, pesquisar, aprender mais e se dedicam com tanto compromisso à saúde pública e ao bem-estar das pessoas. Sempre prestativos a tirar dúvidas e orientar, sempre dispostos a colaborar com qualidade de vida”, comenta a jornalista Roseli Tardelli, diretora desta Agência.
“Doutor Emílio Ribas” foi o diretor geral do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, equivalente a um secretário de Saúde à época, por 19 anos. Também foi reconhecido internacionalmente pela comunidade médica por seus estudos sobre a forma de transmissão da febre amarela.
Não raramente doenças causadas por microrganismos causam grandes impactos na Humanidade com surtos, epidemias e pandemias. Uma breve visita à Antiguidade e à Idade Média revela que as doenças diagnosticadas, pesquisadas e tratadas por infectologistas hoje têm origens e similaridades com as que já dizimaram comunidades inteiras e eram chamadas de “peste” no passado, conforme nos conta o livro “História das Epidemias”, do infectologista Stefan Cunha Ujvari.
Nos tempos atuais, a urbanização desenfreada, a poluição ambiental e o desmatamento, agravam o aquecimento global e nos faz flertar perigosamente com outras epidemias.
Essa natureza cíclica do surgimento de novas doenças infecciosas, assim como as novas tecnologias aplicadas nos seus diagnósticos e tratamentos, torna ainda mais relevante a formação de novos infectologistas. A expertise necessária, a atualização técnico-científica permanente aliadas à fragilidade dos indivíduos acometidos tornam esta especialidade extremamente interessante e desafiadora, por mais assustadoras e desconhecidas que as doenças possam parecer.
Quando a epidemia de HIV/Aids chegou ao Brasil na década de 80, muitos dos infectologistas em atuação hoje no país nem tinham nascido. Novamente resilientes e persistentes, tivemos a oportunidade de ver a chegada dos antirretrovirais, que transformaram as antigas “sentenças de morte” no diagnóstico de uma doença clínica estável e crônica, algo impensável nos anos 80 e 90.
O infectologista é um profissional que está envolvido desde a vigilância epidemiológica das doenças, tanto na população geral (com foco nas questões de saúde pública) como dentro dos hospitais, além de assistir diretamente os pacientes, atuar na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças.
Independentemente de onde o infectologista se inserir nesse universo, uma coisa todos compartilham: a necessidade contínua de atualização diante da velocidade com que o conhecimento científico evolui nessa área. E isso não ocorre somente por causa da pandemia do Covid-19.
Na sua essência, o infectologista é um profissional preparado para suspeitar, identificar e tratar infecções causadas por microrganismos, como vírus, bactérias, fungos, parasitas e outros. Essa tarefa ganha contornos complexos e amplos quando consideramos que tanto a origem quanto o desfecho destas doenças têm relação estreita e direta com as condições sociais e sanitárias das pessoas atingidas por elas.
Quem foi Emílio Ribas, sanitarista que deu origem a data
O médico sanitarista Emílio Marcondes Ribas, que dá nome a um dos principais institutos de infectologia do Brasil, em São Paulo, foi um dos pioneiros da medicina preventiva no país. Responsável por comprovar que a febre amarela é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é considerado um dos pais do sanitarismo brasileiro, ao lado de Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz e Vital Brazil. Também foi um dos idealizadores do Instituto Butantan, que hoje é responsável por fabricar a vacina Coronavac, contra a Covid-19, no Brasil.
Emílio Ribas nasceu em 11 de abril de 1862 na cidade de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo. Interessado pela medicina, foi estudar na então capital federal, o Rio de Janeiro, onde concluiu a graduação em 1887. De volta a São Paulo, atuou como clínico geral no interior, até ingressar no Serviço Sanitário para combater epidemias de febre amarela e peste bubônica.
Morreu aos 63 anos, em São Paulo, no dia 19 de dezembro de 1925, de causas naturais. Pouco antes, profetizou para estudantes de medicina que não considerava que a luta contra a febre amarela acabaria tão cedo: “Não é fora de propósito supor que amanhã seus filhos ainda tenham de combater esse terrível pernilongo.”
Depois de um período atuando como clínico na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, no interior paulista, Ribas foi nomeado inspetor sanitário em 1895. Era um período em que várias epidemias assolavam a região, principalmente a de febre amarela.
Suas experiências no combate à febre amarela o levaram a acreditar que a doença era transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Conseguiu comprovar por meio de experiências científicas em conjunto com o médico Adolfo Lutz, do Instituto Bacteriológico do Estado de São Paulo. O resultado dos estudos foi publicado em 1901, no artigo O Mosquito considerado como Agente da Propagação da Febre Amarela.
Por muito tempo, essa ideia foi contestada pela classe médica e imprensa. Após críticas, o especialista decidiu comprovar de vez: em 1903, junto a outros voluntários, deixou-se picar pelo mosquito e contraiu a doença, provando definitivamente sua teoria. No ano seguinte, graças aos seus esforços, a doença foi erradicada no estado de São Paulo.
Peste bubônica e o Instituto Butantan
Um surto de peste bubônica começou a se propagar no Brasil a partir do Porto de Santos, em 1899. Na época, Ribas já dirigia o Serviço Sanitário do Estado. Uma de suas primeiras ações foi coordenar uma campanha de promoção a higiene pessoal e saneamento da cidade, com o objetivo de reduzir os casos. Uma das pessoas acometidas pela doença foi o médico sanitarista Vital Brazil. Ribas o tratou diretamente, e da relação médico-paciente surgiu uma amizade que durou a vida toda.
Foi Emílio Ribas quem alertou o Estado da importância de fabricar localmente o soro antipestoso, até então importado. Então, o governo comprou, no dia 24 de dezembro de 1899, uma fazenda nos arredores da capital. Foi nessa área que Vital Brazil fundou o que viria a se chamar Instituto Butantan.
Tuberculose
Entre 1908 e 1909, Emílio Ribas viajou para Estados Unidos e Europa a fim de estudar a profilaxia contra a tuberculose. Neste período, num momento em que havia voltado para o Brasil, Ribas constatou que o clima de um pequeno vilarejo na Serra da Mantiqueira seria propício para tratar a doença. Lá, fundou um sanatório e ajudou a idealizar a estrada de ferro que facilitaria o transporte dos pacientes.
Em 1926, a vila sanitária contra a tuberculose foi oficialmente reconhecida como Prefeitura Sanitária de Campos do Jordão. O nome foi uma homenagem ao primeiro proprietário das terras à margem do Rio Imbiri, o Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão.
Redação da Agência Aids com informações