Ele costuma prestar atenção aos detalhes quando recebe algum profissional para reunião na sede do prédio aonde está o Departamento Nacional. Se o interlocutor chegar atrasado, o mínimo que seja, não sei se terá outra chance de ser recebido. Se existe um pormenor que zela e aprecia muito é a pontualidade. Chega a dizer, “odeio atrasos e impontualidade”. Sempre educado, cortês, observador e firme em seus argumentos embasados em dados técnicos, ouve, avalia e toma decisões baseadas neste viés. Servidor público concursado, gosta muito do que faz e está no serviço público há 37 anos.

Ouviu técnicos, médicos e o movimento social. Com base também em seus estudos e informações como epidemiologista, teve um papel importante na acertada e bem-vinda decisão do Ministério da Saúde em incluir as pessoas que vivem com o vírus HIV, entre os adultos de 18 a 59 anos com comorbidades, que serão vacinados contra a covid-19 nas próximas etapas do Programa Nacional de Imunizações.

O próprio Dr. Gerson Pereira, não escondeu, semana passada, sua satisfação e alegria com a decisão do ministério. Já havia acertado e recebido reconhecimento por isso, quando, no início da pandemia, compreendeu a importância e implementou a distribuição dos medicamentos antirretrovirais por 60 ou 90 dias, de acordo com o estoque de cada estado. Demanda do movimento social.

Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Piauí, Gerson se especializou em Saúde Pública pelo Centro Universitário de Brasília e em Epidemiologia pela Fundação Oswaldo Cruz. Possui Mestrado em Epidemiologia pela Universidade Federal de São Paulo e Doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasília, onde defendeu a tese: “Aids no Estado do Rio Grande do Sul: Aspectos Epidemiológicos e Sobrevida”. Logo depois da notícia da inclusão da vacinação ter sido divulgada oficialmente, ele respondeu algumas perguntas feitas pela Agência. Revelou que tem “adorado” dar aulas de epidemiologia no centro universitário de Brasília UniCEUB. A seguir a entrevista.

Agência Aids: Por que a câmara técnica fez essa resolução e qual é importância disso, nesse gravíssimo momento da pandemia que o Brasil atravessa, para as pessoas vivendo com HIV e Aids?

Dr. Gerson: A câmara técnica tomou essa decisão baseada em bibliografia nacional e internacional que reforçavam a importância da vacinação como medida de prevenção para todas as pessoas com HIV e Aids.

Agência Aids: Qual o significado desta indicação para a manutenção da saúde das pessoas vivendo?

Dr. Gerson: Significa qualidade de vida e possível prevenção de morbimortalidade causada pelo Covid 19 mas pessoas vivendo com HIV e Aids

Agência Aids: O movimento social já vinha solicitando esta atitude por parte do governo. Podemos considerar uma vitória do movimento e do bom senso?

Dr. Gerson:  Acho que é uma vitória de todos nós. Nós ouvimos o movimento social e sobretudo ouvimos também a ciência.

Agência Aids: Nem todos os estados estão conseguindo manter o calendário de vacinação. Esta importante deliberação corre o risco de não se cumprir pela falta de vacinas?

Dr. Gerson:  Essa é uma prioridade que deve ser seguida pelos estados.

Agência Aids: O que o senhor pode falar para as pessoas vivendo que, como todos os brasileiros e brasileiras, estão sofrendo com as perdas que a doença tem trazido para famílias em nosso país e vivendo com medo de contrair este outro vírus também letal?

Dr. Gerson:  A minha solidariedade a todas as pessoas vivendo e todas aquelas que perderam seus entes queridos. Sei que a raça humana e forte e apesar de todo o sofrimento que agora vivemos iremos superar e controlar esse agravo como temos feito para o HIV/Aids.

Agência Aids: Uma última questão, quais os ensinamentos que a pandemia da aids nos trouxe que podemos usar no enfrentamento da Covid 19?

Dr. Gerson: A busca incessante de tecnologias de prevenção e combate ao agravo.

Agência Aids: Alguns ativistas dizem que o Departamento está cooptado pelo governo federal Como o senhor responde a essa crítica?

Dr. Gerson:  Meu curricullum e trabalho demonstram que estou um técnico e me balizo pelo trabalho sério e pelo bom senso. É uma afirmação equivocada que nem mereceria resposta.

Pingue-pongue: peculiaridades do diretor do Departamento

Agência Aids: Você pensou em ser militar?

Dr. Gerson: Estudei em colégio militar.

Agência Aids: Por que virou médico?

Dr. Gerson: Eu sempre gostei da medicina.Achava que não daria conta de passar no vestibular.Passei na Federal na primeira vez que prestei.

Agência Aids: O que te tira do sério?

Dr. Gerson: Falta de compromisso com o trabalho.

Agência Aids: Em que a disciplina ajuda sua vida no cotidiano?

Dr. Gerson: A ter hora para fazer todas as coisas que quero no tempo certo.

Agência Aids: Qual foi o lugar do mundo que mais lhe chamou atenção e por que?

Dr. Gerson: A Índia.

Agência Aids: Você medita? Desde quando?

Dr. Gerson: Desde sempre, acho que por isso eu mantenho sempre a calma nas mais difíceis situações.

Agência Aids: Seu prato predileto?

Dr. Gerson: Coisa muito simples bife com batata frita.

Agência Aids: Um sonho seu?

Dr. Gerson: Que a gente possa ter em breve medicamentos que possam curar o HIV/aids, assim como tivemos para a hanseniase no início dos anos 80.

 

Roseli Tardelli

 

Dica de Entrevista:

 

Ministério da Saúde

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