São Paulo tem se destacado na adoção de políticas públicas de saúde para combater o HIV/aids e está prestes a alcançar um marco histórico: a eliminação da transmissão horizontal do HIV. Durante um seminário organizado pelo Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids (Mopaids), Cristina Abbate, psicóloga e coordenadora da Coordenadoria de IST/Aids do município, apresentou os avanços que colocam a cidade na vanguarda do enfrentamento ao vírus no Brasil.

Segundo Cristina, “São Paulo construiu suas vitórias graças à colaboração entre profissionais de saúde, gestão pública e a sociedade civil.” Essa parceria contínua com o movimento social é, conforme ela destaca, a base do sucesso paulistano no combate ao HIV, resultando em avanços significativos. Com mais de 55 mil pessoas em tratamento antirretroviral (TARV), a cidade atingiu 98% dos pacientes com carga viral indetectável, o que significa que essas pessoas não transmitem mais o HIV.

Essa conquista não aconteceu por acaso. São Paulo já eliminou a transmissão vertical do HIV, de mãe para filho, e agora, “São Paulo caminha para a eliminação do HIV de forma horizontal”, afirma Cristina, destacando a adaptação constante da gestão municipal às necessidades locais.

Parte desse progresso deve-se à expansão da profilaxia pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP), medicamentos que previnem a infecção pelo HIV. São Paulo representa cerca de 55% de todos os usuários de PrEP no Brasil, com 46 mil pessoas cadastradas, e desde 2018, mais de 150 mil pessoas utilizaram a PEP. O município também permite que enfermeiros prescrevam essas medidas preventivas, facilitando ainda mais o acesso da comunidade.

Há uma significativa redução nas infecções por HIV entre jovens, especialmente em grupos vulneráveis como homens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSHs). Em 2022, houve uma queda de 47% nas infecções entre jovens HSHs e de 49% entre jovens de 15 a 29 anos.

Cristina enfatiza a importância da ampliação das possibilidades de diagnóstico em uma cidade grande e diversificada como São Paulo. “Ampliar a capacidade diagnóstica é crucial. Investir no autoteste, espalhar testes rápidos pela cidade e realizar campanhas de conscientização são essenciais”, diz Cristina. Todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) em São Paulo oferecem o teste rápido. A adesão contínua ao tratamento é fundamental para alcançar a supressão viral e enfrentar o desafio do abandono do tratamento, que atualmente é de cerca de 9%.

Cristina também destaca a importância de oferecer serviços em horários alternativos e em locais estratégicos, como a Estação Prevenção Jorge Beloque na República, com uma média de 80 pessoas atendidas por dia, das 17h às 23h. Essa abordagem ajuda a identificar casos de abandono do tratamento.

Ela conclui: “Oferecer serviços para populações vulneráveis, como jovens negros e pobres das periferias, além de trans e travestis em situações de alta vulnerabilidade, tem sido essencial. Precisamos sair dos muros e ir para a rua.”