27/04/2009 – 11h45

Dois estudos publicados neste mês nas revistas médicas “New England Journal of Medicine” e “Lancet” informam que a mortalidade entre portadores de HIV diminui com a antecipação do início do tratamento com antirretrovirais.A reportagem está no Caderno de Saúde da edição desta segunda-feira no Jornal Folha de S.Paulo. A reportagem é assinada por Maurício Horta. A seguir o texto na íntegra.

“Conclusão é de dois estudos e pode ser um divisor de águas no tratamento da Aids.”

“Mudança na terapia poderia reduzir mortalidade pela metade, mas esbarra em aumento de custos com medicamentos e testes “

“A mortalidade entre portadores de HIV diminui com a antecipação do início da terapia com antirretrovirais, concluíram dois estudos publicados neste mês nas revistas médicas “New England Journal of Medicine” e “Lancet”.

O tema pode representar um divisor de águas no tratamento da Aids, segundo infectologistas brasileiros. Atualmente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda considerar o tratamento quando a contagem de T CD4+ -células que coordenam a defesa do organismo, mas que são destruídas pelo HIV- estiver abaixo de 350 por microlitro de sangue.

Nos níveis inferiores a 200 -que caracterizam a Aids, mesmo que assintomática- a terapia é obrigatória. No Brasil, 44% dos doentes iniciam o tratamento abaixo desse patamar.

Segundo um dos estudos, a antecipação da terapia para quando a contagem ainda for superior a 500 CD4/mm3 -equivalente ao de indivíduos com sistema imunológico normal- pode reduzir até pela metade a mortalidade.

“Talvez o Programa Nacional [de DST e Aids] tenha que se preparar para isso no futuro. Se está morrendo menos gente, não tem por que não mudar”, diz o infectologista André Lomar, membro do Grupo de Consenso em Terapia da Aids do Ministério da Saúde.

No entanto, um novo patamar introduziria custos substanciais com drogas e testes -e dobraria o número de pacientes atendidos pelo ministério. Hoje, 190 mil estão em tratamento. “Isso pode aumentar em cerca de 200 mil pessoas [atendidas]. Haverá condições técnicas?”, questiona o infectologista Sérgio Cimerman, que preside o Congresso Panamericano de Infectologia, que termina amanhã, em Campos do Jordão (SP).

Mudanças nas diretrizes da terapia antirretroviral não devem ocorrer ainda neste ano, mesmo em países desenvolvidos, acredita Jeffrey Nadler, diretor de pesquisas de tratamento de HIV do Instituto Nacional de Saúde americano (NIH, da sigla em inglês), que palestrou no congresso.

“Mas sei que isso será discutido nesse período. Até a OMS está contemplando a possibilidade de elevar as contagens de CD4 em relação a países pobres”, disse Nadler à Folha.

Segundo Mariângela Simão, diretora do Programa Nacional de DST e Aids, a decisão de antecipar o início do tratamento não pode ser tomada com base em um ou dois estudos. “O Brasil segue as recomendações do consenso, que são baseadas em evidências internacionais, e da OMS. Não basta um estudo isolado para mudar a política.”

A pesquisa do “New England Journal of Medicine” concluiu que o risco de morte para quem inicia o tratamento quando a contagem de CD4 estiver abaixo de 350 é 69% maior comparado a quem começa entre 350 e 500 CD4/mm3. Quando o patamar sobe para 500, essa porcentagem vai para 94%. Foram acompanhados 17,5 mil pacientes assintomáticos com HIV nos EUA e Canadá.

Já a do “Lancet”, que analisou dados de 18 pesquisas, totalizando 46 mil pacientes com HIV, revelou que iniciar o tratamento em contagem de 251 a 350 CD4/mm3 está associado a maiores taxas de Aids e morte do que começar entre 351 e 450 CD4/mm3. Com isso, sugere que se eleve para 350 a contagem mínima para o início.

“São estudos poderosos, com uma casuística grande”, diz Lomar. Ele ressalta, entretanto, que podem levar a resultados falsos por não serem randomizados. Colaborou RACHEL BOTELHO”

Fonte: Folha de S.Paulo