Nas cidades, por todo o Brasil, amigos e vizinhos se reúnem. Pintam fachadas de casas. Guias, ruas. As cores da bandeira brasileira, o verde e o amarelo mudam o cenário e a vida em muitos bairros brasileiros. Carros, ônibus e caminhões também recebem as cores da bandeira do Brasil: mais uma Copa do Mundo. A vigésima primeira edição do evento esportivo que mobiliza todo o planeta acontecerá este ano entre os dias 14 de junho e 15 de julho, na Rússia. Pela primeira vez o Leste Europeu vai receber uma Copa do Mundo.

Por que a Rússia? Aconteceu por lá a Primeira Liga Russa de futebol e, ainda, a migração de jogadores estrangeiros foram marcos considerados fundamentais para que a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas sediasse o mundial. A seleção russa de futebol não precisou disputar as fases eliminatórias por ser a anfitriã do evento que receberá, nesta edição, trinta e duas seleções.

O Brasil está no grupo “E” e estreia jogando contra a Suíça no dia 17 de junho. Na sequência, a seleção brasileira jogará no dia 22 de junho contra a seleção da Costa Rica e, para finalizar a primeira fase, enfrentará a Sérvia no dia 27.

Como falar, escrever e chamar atenção para prevenção ao HIV e outras ISTs em plena Copa do Mundo? Pensei, pensei, pensei e acredito que conseguimos uma maneira: vamos contar como todos os países envolvidos nesta disputa esportiva enfrentam a questão da infecção pelo HIV em seus territórios. Assim, nós da Agência Aids informamos, tendo como base os relatórios do Unaids, a situação  de cada país que participa do campeonato.

Nosso time está em campo faz algum tempo preparando os textos: Talita Martins separa países por grupos, traduz e edita. Jéssica Paula e Maurício Barreira vão atrás dos dados corretos que são usados nas reportagens. Também traduzem e editam. Eu trato de ir atrás de parcerias para conseguir que outros sites publiquem nosso conteúdo. Assim informamos a situação do enfrentamento do HIV em cada país que participará, neste ano de 2018, de mais uma Copa do Mundo.

Torcemos pelo Brasil e torcemos também para que cada vez mais países marquem gols no quesito prevenção. Torcemos para que esses países construam uma resposta adequada, moderna, vanguardista, solidária, cidadã e absolutamente eficiente contra o crescimento do HIV, contra a ignorância da homofobia. As chatices que o preconceito, que a desinformação, vez ou outra, teimam em tentar driblar e seguir por aí em jogadas que sempre precisam ser marcadas e paradas com  zagueiros  da esperança, da informação, da solidariedade e do acolhimento. Bons jogos e boas jogadas de prevenção para todos nós!

Roseli Tardelli

 

O primeiro jogo da Copa do Mundo da Rússia acontece entre nações controversas no que diz respeito a direitos LGBT e aos números de infecções de HIV/aids. Rússia e Arábia Saudita se enfrentam ao meio dia dessa quinta-feira (14).

 

Rússia

Durante anos, a antiga União Soviética negou que existia infecções pelo vírus dentro de seu território. Os médicos foram pressionados a diagnosticar os casos como outras doenças e o governo não tomou medidas para proteger ou alertar o público sobre o que era a aids e como evitar a sua propagação. Assim, só no ano de 1987 foi documentada a primeira infecção por HIV na Rússia.

A política de repressão impediu que os números fossem registrados e divulgados, o que gerou dados imprecisos sobre HIV no país e agravou a epidemia. No entanto, dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodoc) revelam que, em 2016, 2,3% da população adulta faziam uso de drogas injetáveis – cerca de 1,8 milhões de pessoas. Os números ainda mostram que a cada três pessoas que injetam drogas em seu organismo, uma está infectada pelo HIV.

O número de pessoas infectadas pelo HIV, de acordo com o relatório do Unaids, publicado em 2016, é de 850 mil pessoas. No entanto, estima-se que há 500 mil que portam o vírus, mas ainda desconhecem sua sorologia. Desse total, apenas 37% está em tratamento, o que abre portas para aumento do número de novas infecções. Só no ano de 2015, foram registrados 98.177 mil novos casos de HIV. E, em 2014, 24 mil pessoas morreram por aids no país. No mesmo ano, o governo relatou que 34% das novas infecções pelo vírus são entre mulheres.

 

Homofobia

Gays, lésbicas, bissexuais e transexuais sofrem constante perseguições, agressões e humilhações no país, ainda que a homossexualidade tenha sido descriminalizada em 1993. Esse contexto piorou desde que a chamada “lei de propaganda gay” foi aprovada pelos legisladores locais em 2013. A norma proíbe a distribuição para menores de idade de conteúdos que defendam os direitos LGBT ou equiparem relacionamentos heterossexuais a homossexuais.

O governo brasileiro lançou na última quinta-feira (7) uma cartilha de recomendações para os torcedores que pretendem ir até a Copa da Rússia. A publicação de 134 páginas traz orientações sobre o que os turistas devem evitar no país, quais documentos são importantes para a viagem, além de dados sobre o clima e a moeda do país.

No material, o governo brasileiro recomenda que sejam evitadas quaisquer manifestações públicas sobre temas políticos, ideológicos, sociais e de orientação sexual. Uma mensagem semelhante partiu nesta sexta-feira do comitê de Relações Exteriores do Parlamento britânico, segundo o qual cidadãos LGBT correm um “risco significativo” não só pela possível “violência de grupos de justiceiros”, mas também por uma “falta de proteção adequada pelo Estado”.

Apesar de a constituição russa garantir assistência médica universal e gratuita para todos os seus cidadãos, na prática, os serviços são parcialmente limitados e, desde a dissolução da União Soviética, em 1990, a qualidade da saúde da população diminuiu consideravelmente. A falta de recursos também tem afetado a efetividade do sistema de saúde.

 

Arábia Saudita

Levando em conta as infecções não diagnosticadas, o relatório mais recente do Unaids estima que há 8200 pessoas vivendo com HIV, desse total, 500 são crianças e 4900 estão em tratamento. A prevalência do vírus no país é de 0,02%. Desde o início da epidemia, 200 pessoas morrem em consequência da doença.

Apesar dos números, há pouca informação sobre HIV e sexualidade. Uma pesquisa divulgada no país, em 2016, mostrou que três a cada quatro dos universitários acreditavam que pessoas com HIV e aids deveriam ser “isoladas do público”.

Pouco suporte aos direitos humanos

 Na Arábia Saudita, homossexualidade pode ser punida com morte de acordo com as leis do direito islâmico. A posse e consumo de álcool e drogas também são proibidas. No caso das drogas, a sua posse ou consumo são severamente punidas pela constituição, incluindo a aplicação da pena de morte.

Em 2016, um clube de futebol do país demitiu um jogador por ele ser soropositivo.

Apenas no mês de janeiro de 2018 é que as mulheres lograram autorização do governo para assistir à partidas de futebol de dentro dos estádios. Para preparar a mudança, foram criadas as “seções de família” na torcida. Os estádios também instalaram banheiros femininos, entradas separadas e estacionamentos distintos para o público feminino.

 

O sistema de saúde oferece uma cobertura de saúde universal, entretanto, há um papel crescente da participação do setor privado. O sistema de saúde tem duas camadas. Uma delas é uma rede de centros de cuidados primários e clínicas que oferecem prevenção, pré-natal, emergência e serviços básicos, bem como as clínicas móveis para áreas rurais remotas. A segunda camada é representada pelos hospitais e centros de tratamento especializados localizados em áreas urbanas.

Estima-se que 11% do orçamento do Governo é dedicado à despesa pública na saúde. Cerca de 75% das receitas do governo são provenientes da venda de recursos naturais, o financiamento do setor saúde para cidadãos sauditas é amplamente baseado nas receitas do petróleo e do gás.

O crescimento contínuo da área de saúde no país nos últimos anos aumenta a necessidade de profissionais qualificados, que são escassos no país, devido à existência de poucas universidades voltadas para a área da saúde. A maioria dos médicos é de origem sul-asiática.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids