Uma frase que falo bastante nas minhas palestras é que já temos como, a partir de amanhã, não registrar mais nenhum novo caso de infecção por HIV e nenhuma nova morte em decorrência da Aids no mundo. E só continuamos registrando novos desses casos porque existem pessoas que, por questões sociais, são marginalizadas e não acessam as ferramentas de prevenção e tratamento do HIV disponíveis e recomendadas.

A ampliação desse acesso é, portanto, uma questão muito mais de vontade política do que médica. Mas, inegavelmente o sucesso no enfrentamento da epidemia de HIV já é possível.

Um exemplo disso é a cidade de Curitiba que, em 2017, foi o primeiro município do Brasil a receber o certificado de eliminação da transmissão vertical do HIV (da mãe para o filho).

Para quem não sabe, já é perfeitamente possível que uma mulher que vive com HIV tenha filhos sem o vírus, basta que use seus medicamentos e sejam seguidas as técnicas obstétricas no momento do parto.

O que Curitiba fez para conseguir o prêmio foi algo muito simples e intuitivo: melhorou o acesso e a qualidade dos atendimentos de pré-natal para suas gestantes. Aquelas que foram diagnosticadas com HIV tiveram acesso ao tratamento antirretroviral garantindo assim a sua saúde e a dos seus bebes.

Para se controlar os números, ainda altos no Brasil, de Sífilis Congênita (transmissão de sífilis da mãe para o filho), também não tem segredo e o caminho a ser seguido é o mesmo. E assim também para controlar a disseminação de qualquer outra IST (Infecção Sexualmente Transmissível).

Basta ampliar o rastreamento e tratar as pessoas que forem diagnosticadas. E nesse sentido Curitiba mais uma vez sai na frente e inaugura agora no final de 2018 o primeiro serviço público do país de testagem e tratamento de ISTs direcionado para os subgrupos populacionais mais vulnerabilizados para essas epidemias, como homens gays e bissexuais.

O e-Coa, foi estrategicamente instalado na região central da cidade, próximo aos locais de sociabilização dos seus grupos alvo e com horário de funcionamento estendido até as 22h.

Ele segue um modelo de sucesso já bastante difundido na Europa e Estados Unidos, que concentra no mesmo local a testagem rápida para HIV, sífilis e hepatites B e C, vacinação, rastreamento para gonorreia e clamídia, tratamento dessas ISTs e o atendimento de profilaxias pré e pós-exposição ao HIV (PrEP e PEP).

E o mais importante, tudo isso num serviço acolhedor e isento de discriminação ou julgamento.

Quando o assunto é controle das epidemias de HIV e outras ISTs, já sabemos o que é preciso fazer para atingir o sucesso. O difícil é ultrapassar as barreiras políticas, morais e sociais para conseguir colocar os planos em prática. Curitiba está conseguindo. E merece os parabéns. Nesse Natal, desejo Curitiba para todas as cidades do Brasil.

Fonte: ricovasconcelos.blogosfera.uol.com.br