A não aprovação do projeto que previa a criação do primeiro Centro Mundial de Pesquisa, Inovação e Difusão dedicado exclusivamente a cura do HIV continua repercutindo entre diferentes instâncias da luta contra aids no Brasil.

A proposta, idealizada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Unifesp, em parceria com o também pesquisador e infectologista Mauro Schechter, concorreu no edital 2021 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mas ficou de fora.

A ideia dos pesquisadores era juntar os estudos já existentes as novas tecnologias com base em nanotubos de carbono e fotoimunoterapia na tentativa de encontrar uma cura em larga escala para o HIV.

A justificativa que o comitê local usou para reprovar o projeto, segundo os médicos, está em desacordo com o que escreveram os especialistas internacionais que avaliaram a proposta a pedido da própria Fapesp (leia aqui).

Infectologistas ouvidos pela Agência Aids lamentaram o resultado do edital Cepid e disseram que este Centro poderia mudar a história da aids no mundo. “É superimportante. Quanto mais pessoas pesquisando, maior será a chance de alguma pesquisa ser bem-sucedida.

Acompanhe o que disseram os profissionais de saúde:

Dr. Ricardo Vasconcelos, infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo: “A cura do HIV vai ser uma coisa trabalhosa, vai precisar de muito empenho, pesquisa, de muito investimento e de bons cientistas. Aqui no Brasil nós temos bons cientistas, o Ricardo Diaz e o Mauro Schechter são dois exemplos de pessoas muito capazes, inteligentes e empenhadas. Então, o que falta para o Brasil participar contribuindo na busca da cura do HIV? Falta justamente o investimento e é aí que a Fapesp entra, veja pela sigla: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Se temos as pessoas com determinada doença, neste caso o HIV, se temos os cientistas com ideias e conhecimento empenhado para encontrar soluções de saúde pública e só falta o amparo à pesquisa, então está faltando a Fapesp entender o seu papel no mundo.”

Dr. Vinicius Borges, infectologista e idealizador do Canal Doutor Maravilha: “É importante termos um Centro de Inovação e Difusão dedicado à cura do HIV no Brasil. Temos no País profissionais gabaritados nessa área. Já são quase 1 milhão de pessoas vivendo HIV e a gente ainda tem uma mortalidade expressiva por aids. É questão de fortalecimento do SUS, que é uma ferramenta que facilita esse tipo de iniciativa. Temos todos os dados concentrados, todas as pessoas com HIV recebem o tratamento via SUS. Assim como poderíamos ter sido uma vitrine para vacina da Covid, agora seria a chance de o Brasil ser uma vitrine mundial de pesquisa da cura do HIV, alinhando o SUS à ciência.”

Dr. Valdez Madruga, médico infectologista, pesquisador do CRT e coordenador do Comitê de Aids na Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI): “É superimportante. Quanto mais pessoas pesquisando, maior será a chance de alguma pesquisa ser bem-sucedida. A cura do HIV e uma vacina segura e eficaz para prevenir a infecção pelo HIV são duas necessidades não atendidas na medicina. Uma aspiração mundial.”

Dra. Zarifa Khoury, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas: “É fundamental termos um Centro de Pesquisa dedicado a cura do HIV neste país para atender esta demanda. Esta solicitação deve ser reconsiderada principalmente se considerarmos o número de novas infecções.”

Dra. Tânia Vergara, infectologista e coordenadora da Comissão de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia: “Nós somos um país, com um número imenso de pessoas vivendo com HIV/aids, onde crianças ainda nascem com HIV por transmissão vertical, não por falta de disponibilidade do tratamento, mas por diagnósticos tardios e limitações pessoais. Somos um país pioneiro e exemplo no tratamento para todo o mundo. Temos no nosso grupo científico, pesquisadores excepcionais, alguns deles, com uma gama de publicações internacionais de grande repercussão mundial, como são, por exemplo, os professores Ricardo Diaz e Mauro Schechter. O professor Ricardo Diaz é o idealizador e investigador principal de um protocolo voltado para remissão sustentada do HIV, que poderá resultar em cura, reconhecido pelos maiores pesquisadores no assunto cura do HIV no mundo. Constitui-se em um absurdo que nossas agências fomentadoras de pesquisas não apoiem um projeto dessa importância, tanto para a população brasileira quanto para a população o restante do mundo.  Temos tudo para termos sucesso na empreitada, pessoas vivendo com HIV/aids e cientistas capacitados para trabalhar na busca da cura. Tenho certeza que a FAPESP reverá sua posição e fará parte do nosso Centro Mundial de Pesquisa, Inovação e Difusão voltado para a cura da aids.”

Dr. Jorge Casseb, professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e especialista em retroviroses: “A união das diversas pesquisas na área de HIV pode contribuir para o desenvolvimento de processos da cura da infecção pelo HIV. A criação do CEPID irá proporcionar a interação de diversos grupos de pesquisa numa mesma temática, que poderá contribuir para a cura da infecção pelo HIV. Apesar do controle desta infecção, existe a necessidade de novas estratégias e tecnologia para atingir esses objetivos.”

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Redação da Agência de Notícias da Aids

Dicas de entrevista

Dr. Jorge Casseb

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Dra. Tânia Vergara

E-mail: taniavergara1954@gmail.com

Dr. Valdez Madruga

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Dra. Zarifa Khoury

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Dr. Vinicius Borges

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Dr. Ricardo Vasconcelos

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