Com o crescimento dos casos de Mpox no Brasil e nu mundo e a ausência de vacinas disponíveis, o Estudo Unity, conduzido pela Casa da Pesquisa do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (CRT), oferece uma nova esperança para pacientes.

A capital paulista já contabiliza 574 casos da doença em 2024, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. Em resposta a esse cenário, o Unity busca avaliar um novo tratamento, destinado a adultos maiores de 18 anos com lesões suspeitas ou confirmadas de Mpox. O estudo oferece acompanhamento detalhado por 60 dias, incluindo consultas presenciais e monitoramento por telefone, garantindo suporte integral aos participantes.

A infectologista Victoria Spínola Duarte de Oliveira, pesquisadora envolvida no projeto, ressalta que o estudo é uma oportunidade de acesso imediato ao tratamento, especialmente para pessoas em estados mais graves da doença.

Quer saber como participar? Confira os detalhes na entrevista com a Dra. Victoria a seguir.

Agência Aids: Qual é o propósito do Estudo Unity e o que ele busca alcançar?

Dra. Victória Spínola: O Estudo Unity é um ensaio clínico internacional que tem como objetivo avaliar a eficácia e a segurança do antiviral Tecovirimat no tratamento da Mpox. O estudo busca determinar se o medicamento pode acelerar a recuperação dos pacientes e reduzir possíveis complicações associadas à infecção.

Agência Aids: Qual é a relevância do Estudo Unity no cenário atual da Mpox?

Dra. Victória Spínola: Dado que, até o momento, não há tratamentos específicos aprovados para a Mpox no Brasil, o Estudo Unity desempenha um papel crucial na busca por uma terapia eficaz. Seus resultados podem embasar futuras diretrizes de tratamento, contribuindo para o aprimoramento do manejo clínico da doença.

Agência Aids: Quais são os requisitos para participar do Estudo Unity?

Dra. Victória Spínola: Podem participar do Estudo Unity indivíduos que apresentem sintomas sugestivos de Mpox ou que já tenham recebido o diagnóstico confirmado. Os principais sinais incluem o aparecimento, nas últimas três semanas, de feridas na pele ou na região genital que se assemelham a espinhas ou bolhas, acompanhadas ou não de sintomas como febre, cansaço, ínguas (inchaço dos gânglios linfáticos), calafrios, dores musculares ou dor de cabeça. Além disso, é necessário passar por uma avaliação médica que verificará a elegibilidade para o estudo. Essa avaliação considera critérios clínicos específicos, não apresentar alergia aos componentes do medicamento em teste e não estar utilizando outros medicamentos que possam interferir no tratamento.

Agência Aids: De que forma os participantes do Estudo Unity são acompanhados ao longo da pesquisa?

Dra. Victória Spínola: Os participantes do estudo recebem acompanhamento médico regular, que inclui avaliações clínicas detalhadas, coleta de amostras e monitoramento de possíveis efeitos adversos. Esse acompanhamento é essencial para garantir tanto a segurança dos voluntários quanto a qualidade e a confiabilidade dos dados coletados. As consultas presenciais ocorrem semanalmente ao longo de 1 mês, e, sempre que necessário, os participantes também são acompanhados por meio de contatos telefônicos entre as visitas, assegurando suporte contínuo ao longo do estudo.

Agência Aids: Como é realizado o tratamento para participantes em estado grave no Estudo Unity?

Dra. Victória Spínola: No Estudo Unity, os participantes em estado grave de saúde recebem o medicamento diretamente, sem passar pelo processo de randomização. A randomização é uma etapa comum em estudos clínicos em que os participantes são divididos aleatoriamente em grupos para receber o tratamento experimental ou um placebo (substância sem efeito terapêutico) com o objetivo de comparar os resultados. Essa exceção é feita para garantir que os pacientes em condições mais críticas tenham acesso imediato ao tratamento, priorizando sua recuperação e segurança, já que, nesses casos, o atraso para receber a medicação poderia comprometer a saúde do participante.

Agência Aids: Qual é o procedimento para quem suspeita ter Mpox e deseja se envolver no Estudo Unity?

Dra. Victória Spínola: Se você suspeita estar com Mpox, é recomendado procurar um serviço de saúde especializado, seja público ou privado. Nessas unidades, serão fornecidas orientações iniciais, coletadas amostras da lesão para diagnóstico e oferecido tratamento sintomático para aliviar os sintomas e garantir maior conforto. Para participar do Estudo Unity, as pessoas podem entrar em contato diretamente com os centros de pesquisa participantes para agendar uma triagem e verificar sua elegibilidade. No caso da Casa da Pesquisa do CRT/Aids, em São Paulo, um exame de PCR será realizado. Esse exame identifica fragmentos do material genético do vírus, confirmando a presença da infecção. Em casos graves ou com sintomas sugestivos claros, os indivíduos podem ser considerados para o estudo mesmo antes da confirmação do PCR. A Casa da Pesquisa está localizada na Rua Santa Cruz, 81 – Vila Mariana, São Paulo, próximo à estação Santa Cruz (linhas azul e lilás do metrô). Além de São Paulo, o estudo também está sendo realizado em centros de pesquisa nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Manaus. Esse processo assegura que pessoas interessadas no estudo recebam atendimento especializado e que aqueles elegíveis possam contribuir para o avanço das pesquisas sobre o tratamento da Mpox.

Agência Aids: O Estudo Unity está sendo conduzido em outras cidades além de São Paulo?

Dra. Victória Spínola: Sim, o Estudo Unity é um estudo multicêntrico, ou seja, está sendo realizado em várias cidades do Brasil. Além de São Paulo, o estudo também ocorre no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Manaus. Essa abordagem amplia o alcance da pesquisa, permitindo que mais pessoas, de diferentes regiões, tenham acesso à oportunidade de participar e contribuir para o avanço científico no tratamento da Mpox.

Agência Aids: Mpox apresenta riscos graves à saúde? Quais complicações podem ocorrer?

Dra. Victória Spínola: Na maioria dos casos, a Mpox tende a apresentar sintomas leves, que geralmente não requerem internação hospitalar. No entanto, algumas populações estão mais vulneráveis a complicações, como pessoas imunossuprimidas ou aquelas que apresentam múltiplas lesões em áreas sensíveis, como genitais, olhos ou boca.

As principais complicações incluem:

● Dores intensas, especialmente em áreas lesionadas;
● Infecções secundárias causadas por bactérias.
● Alterações oculares, como inflamações que, em casos graves, podem levar a problemas de visão.

Embora a maioria das pessoas se recupere sem complicações graves, é fundamental buscar orientação médica ao perceber os primeiros sinais da doença para garantir o manejo adequado e prevenir problemas mais sérios.

Agência Aids: Quem está mais vulnerável à infecção por Mpox?

Dra. Victória Spínola: Pessoas que têm contato próximo com indivíduos infectados estão mais vulneráveis à infecção por Mpox. Isso inclui:

● Parceiros sexuais de pessoas infectadas;
● Profissionais de saúde que não utilizam equipamento de proteção individual (EPI) adequado;
● Indivíduos que tenham contato íntimo e prolongando com pessoas infectadas, como contato domiciliar próximo e que compartilham objetos pessoais

Além disso, pessoas com o sistema imunológico comprometido, como aquelas vivendo com HIV não tratado, transplantados ou pacientes em tratamento de câncer, estão mais suscetíveis a formas mais graves da doença e apresentam maior risco de complicações. A proximidade e a falta de proteção são fatores determinantes para a transmissão.

Agência Aids: Quais opções de tratamento estão disponíveis atualmente para a Mpox?

Dra. Victória Spínola: Atualmente, o tratamento da Mpox é de suporte, ou seja, focado em aliviar os sintomas, prevenir complicações e tratar possíveis infecções secundárias, além de minimizar o risco de sequelas. Esse tipo de abordagem busca oferecer conforto e melhorar a qualidade de vida durante a recuperação.

Os cuidados incluem:
● Controle da febre e da dor com medicamentos analgésicos e antitérmicos;
● Higienização das lesões para evitar infecções secundárias causadas por bactérias;
● Hidratação adequada e repouso para acelerar a recuperação.

Até o momento, não existem medicamentos antivirais específicos aprovados para o tratamento da Mpox no Brasil. No entanto, o antiviral Tecovirimat está sendo investigado em estudos clínicos como o Estudo Unity para avaliar sua eficácia e segurança no combate à Mpox. Esses estudos são importantes para estabelecer novas opções de tratamento direcionadas à doença no futuro. A abordagem médica pode variar de acordo com a gravidade do caso. Pacientes em estado grave ou imunossuprimidos podem necessitar de cuidados mais intensivos. É fundamental que as pessoas com sintomas ou diagnóstico de Mpox procurem orientação médica o quanto antes para garantir um manejo adequado.

Agência Aids: Como os casos de Mpox são abordados no Brasil, especialmente nas regiões sem vacinas?

Dra. Victória Spínola: No Brasil, os casos de Mpox são tratados com medidas de suporte clínico, que incluem o alívio dos sintomas, a prevenção de complicações e o manejo adequado das lesões para evitar infecções secundárias. Além do tratamento médico, é recomendada a adoção de isolamento para pessoas com casos suspeitos ou confirmados. O isolamento é essencial para reduzir o risco de transmissão do vírus e limitar o número de novas infecções, protegendo a comunidade. Atualmente, não há vacina disponível para a Mpox no Brasil, embora outros países utilizem vacinas específicas para a prevenção em grupos que estão sob o risco de adoecimento. Dessa forma, a contenção da doença no Brasil depende principalmente de estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e manejo clínico adequado.

Agência Aids: Há possibilidade de a Mpox se expandir para uma escala de pandemia?

Dra. Victória Spínola: Sim, existe essa possibilidade. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o vírus da Mpox como um patógeno com potencial pandêmico. Isso significa que, em determinadas condições, ele pode causar surtos significativos em várias partes do mundo, com risco de se espalhar de forma global, como ocorreu com a covid-19.

Essa classificação leva em conta fatores como:

● Alta transmissibilidade em contextos de contato próximo entre pessoas;
● Baixa imunidade populacional, já que a maioria das pessoas nunca teve contato com o vírus ou recebeu vacinas relacionadas à varíola;
● Dificuldade no controle de surtos devido à falta de vacinas e tratamentos antivirais amplamente disponíveis.

Por isso, o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento é fundamental. Essas estratégias incluem a ampliação do acesso ao diagnóstico precoce, o isolamento de casos confirmados, campanhas de conscientização para prevenção, e o avanço em pesquisas que desenvolvem vacinas e tratamentos específicos para a Mpox. Embora a Mpox não esteja atualmente em escala de pandemia, a atenção global reforça a necessidade de preparação para evitar que o vírus alcance níveis epidêmicos mais graves.

Serviço:

Estudo Unity

São Paulo – SP
Centro de Referência e Treinamento DST/Aids – Casa da Pesquisa
Rua Santa Cruz, 81 – Vila Mariana
Telefone: (11) 91313-3699

Rio de Janeiro – RJ
Fiocruz
Av. Brasil, 4365 – Manguinhos
Telefone: (21) 97163-5953

Belo Horizonte – MG
UFMG – Unidade de Pesquisa
Av. Prof. Alfredo Balena, 190 – Santa Efigênia
Telefone: (31) 99216-0407

Manaus – AM
Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado – Unidade de Pesquisa Clínica Carlos Borborema
Telefone: (92) 8449-2013

Redação da Agência de Notícias da Aids