Desde a sua descoberta, nos anos 1980, o HIV tem sido um desafio global de saúde pública. O vírus afetou direta e indiretamente milhares de vidas em todo o mundo. No entanto, muitos avanços já foram conquistados pensando em garantir maior qualidade de vida a quem vive com HIV/aids, mas também para quem convive; avanços estes, inclusive, no campo da prevenção. 

Um desses avanços é a Profilaxia Pré-Exposição, mais conhecida como PrEP. Esta é uma estratégia preventiva que está mudando a forma como encaramos a prevenção do HIV.

A PrEP nada mais é do que uma intervenção biomédica que envolve o uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas que não vivem com HIV para evitar a infecção pelo vírus antes de uma possível exposição. Esses medicamentos atuam impedindo que o HIV se estabeleça no organismo, reduzindo então significativamente o risco de infecção quando tomados como prescrito. Conforme explica a médica infectologista, Ana Elisa, do Rio de Janeiro, a medicação funciona bloqueando determinadas etapas do processo de replicação do HIV dentro do corpo humano. Geralmente, envolve a combinação de dois medicamentos antirretrovirais: Tenofovir e emtricitabina, em um único comprimido. 

“Esses remédios são importantes para evitar que o vírus entre nas células da pessoa, evitando assim a sua replicação e sua transmissão”, esclarece.

“Assim como no uso de qualquer medicamento, é possível ocorrer efeitos colaterais ao uso da PrEP, porém a frequência é baixa. Os efeitos colaterais mais relatados nos estudos de PrEP foram dor de cabeça, dor de estômago, perda de apetite, náuseas, excesso de gases, vômitos, tonturas, fadiga, dor nas costas e aumento leve das enzimas do fígado. Uma vez apresentando qualquer sintoma, é importante comunicar o seu médico para ele avaliar o nível de gravidade. Em casos toleráveis, é possível fazer [administração] de medicamentos para aliviar os sintomas. Nos casos mais graves, o especialista vai avaliar a suspensão, mas isso realmente depende de cada caso”, complementa.

“Vários estudos científicos já comprovaram a eficácia da PrEP. O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de Risco à Infecção pelo HIV do Ministério da Saúde (2022), o estudo  iPrEx, que avaliou a PrEP oral diária em homens cisgênero que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans, [mostrou] que houve uma redução de 44% no risco de aquisição de HIV com o uso diário da PrEP. O efeito da PrEP também foi avaliado no estudo IPERGAY, em esquema sob demanda, isto é, com uso do medicamento antes e após a exposição, ao invés do tradicional esquema de uso diário. Nesse cenário, observou-se uma redução de 86% no risco de aquisição do HIV, mesmo com uso de menor número mensal de comprimidos”, diz sobre o papel que a profilaxia tem desempenhado na redução das taxas de infecção pelo vírus em comunidades de alto risco, em todo o mundo.

Ela destaca também que nesta época de Carnaval, “como a folia ocorre em dias específicos, a PrEP para essas situações poderia ser a PrEP sob demanda, em que, uma vez tendo previsão de que horas vai acontecer a relação sexual, o paciente deve tomar 2 comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose e que esta disponibilizada no SUS para os seguintes grupos: homens cisgêneros heterossexuais, bissexuais, gays e outros homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH), pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer, e travestis e mulheres transexuais – que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol.”

Em relação ao estigma e preconceito, a infectologista afirma que vale o mesmo: compartilhar apenas o que for de origem confiável e que estimule empatia e amor ao próximo.  “Hate não combina no carnaval”.

Prevenção combinada

Para além da PrEP, dra. Ana Elisa sugere outras estratégias e dicas complementares de prevenção combinada e redução de danos, que, segundo ela, podem ser adotadas pensando na saúde e bem-estar. “Pensando em prevenção, temos inúmeras ações, além da PrEP, que podem evitar a aquisição de ISTs ou reduzir danos e que já podem ser colocadas em prática agora no carnaval. Essas medidas são: realizar testagem (e tratamento precoce, se necessario) para HIV, Sífilis, Hepatites em serviços de saude que estejam realizando atendimento nos arredores das festas; uso do preservativo em todas as relações sexuais, seja no sexo oral, vaginal ou anal; e uso da PEP (comprimidos disponibilizados para evitar a infecção por hiv, após uma possível exposição de vírus).

A especialista ressalta que é muito importante entender que a PrEP não previne todas as ISTs, mas somente o HIV, por isso essa é sempre uma ressalva muito importante e que se deve contar sempre reforçar com seus pacientes.

“Não existe só HIV, há também outras infecções, como sífilis, herpes, hepatites B e C e muito mais, logo o uso do preservativo em todas as relações sexuais é fundamental para combater o ciclo de transmissão. Logo, não tem desculpa! Já garante seu preservativo na unidade de saúde mais próxima da sua casa para curtir a folia com segurança.”

“Espero que este Carnaval seja um momento de muita alegria, diversão e paz, afinal a gente merece! Mas que seja também um momento de mantermos o cuidado com a gente e com o próximo, seja usando PrEP, camisinha e outras medidas de prevenção de ISTs, assim como usando repelente e evitando possíveis focos de acúmulo de água para prevenirmos a Dengue (que apesar de não ser uma IST, é uma infecção que está em alta, devido ao aumento absurdo de casos que estamos vendo agora no brasil, por isso, fica o alerta!”, finalizou.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

E-mail: papoinfectado@gmail.com

Instagram: @papoinfectado