O enfermeiro Frederico Moreira (Crédito: Arquivo pessoal)

Há 6 anos o enfermeiro Frederico Moreira, 39, teve uma exposição inesperada ao vírus do HIV. Era carnaval e durante uma relação sexual, a camisinha estourou. Imediatamente, ele procurou o posto de saúde mais próximo e solicitou a profilaxia pós-exposição (PEP) e foi direcionado ao CTA de Joinville, a cidade onde se encontrava. “Fiz o teste rápido, passei pelo médico, comecei a utilizar a PEP e não tive nenhum efeito colateral”, conta. Ele já tinha tido uma experiência com a PEP anteriormente em um acidente de trabalho. “Durante minha atuação na enfermagem, tive um acidente com material perfuro-cortante e o paciente não quis fazer o teste, então como prevenção tive que usar a PEP. Lembro que coletei exames no dia e depois de alguns meses novamente”.

A profilaxia pós-exposição é distribuída gratuitamente pelo SUS e, segundo a infectologista Giovana Sapienza, médica do Instituto do Coração do HCFMUSP, “tem eficácia de até 80% em pessoas HIV negativas quando administrada em até 72 horas da exposição de risco”. A PEP tem por base o uso de medicamentos antirretrovirais com o objetivo de reduzir o risco de infecção em situações de exposição ao vírus. Segundo a infectologista, quanto mais próximo do momento da exposição, mais segura é a profilaxia. “O uso da medicação deve ser feito corretamente por 28 dias e a falha nesse processo pode diminuir a eficácia da PEP”, explica.

A PEP pode ser usada por crianças, adolescentes e pessoas que tenham sido vítimas de violência sexual. Gestantes também estão aptas para fazer o uso da PEP. Embora gratuita e altamente eficaz, a PEP ainda é pouco conhecida pela população em geral, o que indica uma falha na comunicação do ministério da saúde e do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Além disso, ainda há um forte estigma relacionado à profilaxia, principalmente entre mulheres cisgênero e transgênero, que temem serem julgadas pelos profissionais ao buscar o serviço de saúde.

A educadora Rihanna Borges Barbalho (Crédito: Karime Xavier/Folha de S.Paulo)


A educadora de redução de danos, Rihanna Borges Barbalho, 30, já fez uso da PEP em diversas vezes em que se sentiu em risco e em uma delas sofreu preconceito do médico que a atendeu. “Quando eu tomei pela terceira vez, um mês seguido do outro, o médico disse ‘nossa, você de novo aqui’. Eu falei ‘sim, de novo, por quê? Não era pra eu estar aqui!?’ Você vê que é um julgamento e por isso nesses espaços é muito raro você ver uma mulher trans ou travesti. Você vê mais o grupo gay de homens que faz sexo com homens, mas você não vê a população que mais precisa”, explica. Nas primeiras vezes que usou, há 6 anos, Rihanna sentiu náusea e diarreia no começo da profilaxia de 28 dias, mas acredita que os remédios evoluíram e possuem menos efeitos colaterais. Atualmente, ela faz uso da PrEP o que, segundo ela, assegura-a de não sofrer nenhum tipo de julgamento.


A PEP e a PrEP fazem parte da mandala de prevenção combinada,
protocolo indicado pela Organização Mundial de Saúde cujo principal objetivo é ampliar as formas de intervenção para atender às necessidades de cada pessoa ou ainda das possibilidades de inserir o método preventivo em suas vidas. Essas medidas visam evitar novas infecções sexualmente transmitidas, conhecidas como ISTs. Além da PEP, a prevenção combinada inclui o uso de preservativo interno e externo, gel lubrificante, a profilaxia pré-exposição (PrEP); redução de danos; testagem regular para o HIV; testagem das ISTs e hepatites virais; imunização para as hepatites A e B; tratamento de pessoas vivendo com HIV/aids e prevenção da transmissão vertical. 

 

Onde conseguir  a PEP pelo Brasil?

A profilaxia pós-exposição é oferecida gratuitamente pelo SUS e pode ser encontrada no Brasil todo em distintos aparatos da rede pública de saúde. Clique aqui para encontrar o local mais próximo da sua casa.

https://www.gov.br/aids/pt-br/assuntos/prevencao-combinada/pep-profilaxia-pos-exposicao-ao-hiv

 

Reportagem de Marina Vergueiro (marina@agenciaaids.com.br)

 

Dica de entrevista

Dra. Giovana Sapienza 

E-mail: gisapienza@gmail.com
Instagram: @gisapienza.infecto

Rihanna Rios Borges
Instagram: https://www.instagram.com/rihanna_rios_oficial/

Frederico Moreira
E-mail: ciezamoreira@gmail.com