Ricardo Vasconcelos explica que, apesar dos bons resultados recentes, Brasil segue necessitando melhorar acesso à PrEP para atingir mais camadas da população e garantir a continuidade do tratamento dos que já utilizam o medicamento

O Brasil alcançou um marco no controle e prevenção do vírus HIV. A profilaxia pré-exposição (PrEP) é usada por mais de 83 mil pessoas no País, 11.857 delas começaram nos dois primeiros meses de 2024. O medicamento é disponibilizado gratuitamente no SUS desde 2018, mediante acompanhamento médico, segundo pesquisa da Agência Diadorim. O número de pessoas que usaram pelo menos uma vez a PrEP em cada ano saltou de 8.215 para 119.333. Contudo, a taxa de descontinuidade foi de 30%. O professor Ricardo Vasconcelos, da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (FMUSP), discorre sobre o assunto.

O docente conta que o Brasil esteve presente desde o primeiro grande ensaio clínico que avaliou a eficácia protetora contra o HIV e a segurança do uso da PrEP. O estudo foi um pilar para a sustentação do uso do medicamento. “ O fato do Brasil ter participado desse estudo abriu a possibilidade para o País estar presente nos próximos passos das pesquisas sobre a proteção contra o HIV. Então, desde 2010, o Brasil vem trilhando um caminho interessante nesse assunto. Os números de hoje são resultados desse trabalho”, comenta.

Mesmo com bons resultados, o pesquisador aponta que, quando comparado com os outros países referência no assunto, o Brasil demonstra ainda ter um longo caminho pela frente. “O Brasil ainda está engatinhando. Os Estados Unidos, por exemplo, estão chegando perto de 500 mil beneficiados. Existem países na África que já passam disso”, afirma.

Perfil dos usuários

Além disso, o perfil dos usuários brasileiros é restrito, acrescenta o professor: 82% são homossexuais, brancos ou amarelos, 55%, idade entre 30 e 39 anos, 41%, 12 anos ou mais de escolaridade, 71%. “Existem outros diversos perfis que são vulneráveis ao HIV e que não estão tendo acesso ao recurso. Essa população mais escolarizada e estudada sempre acessa primeiro as novas tecnologias, temos que fazer um esforço para que o acesso chegue mais longe,” explica.

O problema da descontinuidade também preocupa o especialista. Ele esclarece que garantir o acesso ao medicamento é importante, mas que é igualmente importante que os pacientes permaneçam no tratamento pelo tempo adequado. “ Não é necessário tomar o remédio pelo resto da vida, mas existe um tempo adequado para cada pessoa. Será que todos esses 30% que abandonaram eram pessoas que de fato não precisavam mais tomar a PrEP? Eu apostaria que não. Existem algumas barreiras que impedem as pessoas de continuar o tratamento, entre elas, a discriminação, as grandes filas para o acesso etc.”, comenta.

Fonte: Jornal da USP