A Fiocruz, por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), assinou nessa quarta-feira (19) um acordo para solicitar o registro do medicamento Ravidasvir, que trata a hepatite C, na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O anúncio é o primeiro passo para disponibilizar esse medicamento no Brasil a um preço acessível e que possa ser fornecido no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

O Ravidasvir é um medicamento inovador para o tratamento da hepatite C. O fármaco foi desenvolvido para uso combinado com Sofosbuvir – medicamento já produzido por Farmanguinhos. Estudo realizado em 2016 na Malásia e na Tailândia mostrou que a combinação demonstrou taxas de cura de 97%, mesmo para os pacientes difíceis de tratar.

O acordo faz parte da mobilização Julho Amarelo, conjunto de ações direcionadas ao enfrentamento das hepatites virais, com foco em conscientização, prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos.

“O caso da hepatite é exemplar do ponto de vista de como a inovação consegue impactar diretamente na melhoria de vida das pessoas. Em menos de uma década, conseguimos evoluir para tratamentos sem efeitos colaterais e com alto grau de efetividade. Hoje, demos um passo importante para podermos oferecer, no futuro, um tratamento inovador a um custo ainda mais acessível para o Sistema Único de Saúde”, explica o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger, em comunicado.

A parceria técnico e científica foi feita entre o Farmanguinhos/Fiocruz, a Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) e a farmacêutica egípcia Pharco Pharmaceuticals. Dessa forma o Ravidasvir, utilizado em combinação com Sofosbuvir, poderá fazer parte das opções terapêuticas que compõem a estratégia de tratamento simplificado dos pacientes de hepatite C no Brasil.

Para o diretor-executivo regional da DNDi na América Latina, Sergio Sosa-Estani, “o objetivo da parceria é desenvolver um medicamento eficaz, de fácil administração e baixo custo para a hepatite C que permita aumentar o acesso ao tratamento e reduzir a carga financeira que recai sobre os pacientes e o sistema de saúde”.

A assinatura do acordo é o primeiro passo para a submissão e obtenção de registro do Ravidasvir junto à Anvisa. Caso aprovado, Farmanguinhos pretende requerer a incorporação do Ravidasvir ao SUS junto à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

Doença negligenciada

A hepatite C é uma inflamação do fígado provocada pelo vírus HCV. Quando crônica, a doença pode levar a cirrose, insuficiência hepática e câncer. Jorge Mendonça, diretor de Farmanguinhos, explica que durante muito tempo a hepatite C foi considerada uma doença negligenciada e com poucas opções de tratamento eficazes. Contudo, nos dias atuais, existem possibilidades de cura.

“Disponibilizar uma alternativa de tratamento seguro, eficaz e de menor custo fortalece o Complexo Econômico Industrial da Saúde e o SUS e, em especial, disponibiliza mais uma opção para o paciente. Também estimula as relações de cooperação Sul-Sul, já que será uma troca de informações e tecnologias entre países desses hemisférios, o que certamente reforça as políticas regionais para outras enfermidades. Importante ressaltar o papel do DNDi, de indução e apoio para a concretização deste projeto. Em 2023, o Julho Amarelo terá uma marca importante no que diz respeito aos cuidados com os pacientes com hepatite C”, disse em comunicado.

Hepatite C no Brasil

De acordo com a última edição do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais do Ministério da Saúde, de 2000 a 2021 718.651 casos confirmados de hepatites virais foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Desse total, 279.872 (38,9%) são referentes aos casos de hepatite C, 264.640 (36,8%) aos de hepatite B, 168.175 (23,4%) de hepatite A e 4.259 (0,6%) aos de hepatite D.

Para eliminar as hepatites virais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe a meta de testagem de 90% das pessoas com hepatite viral C e o tratamento de 80% das pessoas com HCV em todo o mundo até 2030, com redução de novas infecções em 90% e de mortalidade em 65%. A Organização também preconiza o tratamento para todos os indivíduos com diagnóstico de infecção pelo vírus HCV, independentemente do estágio da doença, utilizando preferencialmente os medicamentos Sofosbuvir + Daclatasvir.