Presidente Lula anuncia Nísia Trindade nova ministra da Saúde do Brasil

Desde que foi criado em 1953, cinquenta homens estiveram à frente do Ministério da Saúde do Brasil. Pasta responsável pela organização e elaboração de planos e políticas públicas voltados para a promoção, a prevenção e a assistência à saúde de todos os brasileiros e brasileiras, pela primeira vez na história do país, uma mulher assumirá sua condução a partir de primeiro de janeiro: a socióloga Nísia Trindade Lima que está à frente da Fiocruz desde 2017. Durante os momentos mais difíceis no enfrentamento da covid-19, a doutora em Sociologia (1997), mestre em Ciência Política (1989) pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp), e graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj, 1980) destacou-se na Fundação Oswaldo Cruz liderando as ações da instituição no enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil ao criar um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos.

Coordenou no país o ensaio clínico Solidarity da Organização Mundial da Saúde (OMS). Sua atuação aumentou a capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens e organizou ações emergenciais junto a populações vulneráveis, entre outras atitudes inéditas em pleno momento de pandemia enquanto o presidente da República teimava em negar todas as evidências científicas apresentadas, chegando ao cúmulo do desrespeito com a população brasileira ao simular a imitação de uma pessoa com falta de ar em uma transmissão de suas lives.

A indicação de seu nome para ocupar o Ministério da Saúde foi elogiada pelo diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, que parabenizou doutora Nísia por ser a primeira mulher à frente da pasta, afirmando o compromisso de trabalharem juntos nos próximos anos. Não é pouca coisa em um momento aonde o Brasil tem a oportunidade histórica de corrigir rota, reafirmar os princípios constitucionais do SUS criado em 1988.

Por ser mulher e por todos os compromissos que já demostrou ter com  saúde pública,  a Agência Aids quis saber sobre as especificidades das mulheres vivendo com HIV frente a nova ministra. Perguntamos “o que você mulher vivendo com HIV tem a sugerir e espera da nova ministra? ” As mulheres responderam e sugeriram. Acompanhe a seguir.

Nair Brito, uma das fundadoras do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Já é uma vitória ter uma ministra mulher. É um indicio que haverá uma escuta para as necessidades deste seguimento seja na questão do HIV, da raça, da pobreza, na questão do trabalho, enfim, as desigualdades de gênero eu suponho que serão contempladas. Em relação ao HIV, já temos construído nossa agenda ao longo dos anos, temos construído nossa agenda 10 vermelha em relação ao tratamento que seja específico para os corpos das mulheres e também as questões de  acompanhamento das pessoas que vivem há longo prazo as questões específicas o que isso provoca e como está sendo acompanhado. A questão também da transmissão vertical e da sífilis e como ainda isso é um problema. O fortalecimento dos serviços é um outro ponto. Ao longo dos anos eles têm sido sucateados, alguns sendo incorporados na atenção básica. Vejo tudo como uma pauta nossa já extensa: o fortalecimento das mulheres na questão da violência e da fome junto a uma patologia que gera discriminação, preconceito. O olhar para o corpo que se deforma, a questão da pobreza, do abandono, da violência. Isso dá um balaio que é preciso ser olhado com cuidado. É minha demanda para a nova ministra: que ela considere nossa agenda e coloque-as na prática.”

Silvia Aloia, do MNCP em Porto Alegre: “É com muita alegria que houve esta escolha, uma mulher supercompetente ser a Ministra da Saúde. Vejo esta gestão positivamente e com perspectivas de poder olhar para as mulheres e para as mulheres vivendo com HIV/aids com a atenção necessária. Quando se fala em mulher, são diversos aspectos a serem considerados na promoção, prevenção e cuidados em saúde. Um deles é relacionado ao acesso aos serviços de saúde e assistência, os quais necessitam de ações integradas de forma intersetorial. São multifatores que envolvem as dificuldades das mulheres para o cuidado à saúde, muito ligados ás desigualdade de gênero, raça/cor e classe social, que a impedem por exemplo, de estar em consultas e outros serviços com espera longa. Também o impedimento financeiro, no qual muitas não conseguem chegar aos serviços por depender de passagem e ainda de quem fique com seus filhos, dentre tantos outros desafios. São essas questões a se considerar, devem ter ações coordenadas e o estado deve se responsabilizar para atender as demandas das mulheres e das MVHA (mulheres vivendo com HIV/aids). Importante também no campo das pesquisas para as MVHA, que considerem nossos corpos no cuidado e na disponibilização de antirretrovirais adequados. Promover o cuidado das mulheres é promover o cuidado de todos, são elas as que mais acessam os serviços e as pessoas e por isso são chave para a resposta da epidemia do HIV/aids.”

Heliana Moura, do MNCP em Belo Horizonte: “Nós mulheres que acreditamos no governo Lula estamos bem esperançosas com relação a esse time de ministros que estão sendo anunciados. Especialmente para o MS, pasta em que atuamos diretamente pelo MNCP e movimento de Aids, na defesa do SUS e da Política efetiva do HIV/Aids. Ter a primeira ministra como Nísia Trindade Lima, com o currículo importante dentro da Fiocruz, voltado as pesquisa e defesa de uma saúde pública de qualidade nos deixa de fato super orgulhosas, felizes e acreditando que voltaremos a avançar na resposta do enfrentamento da epidemia. E estaremos juntas levando nossas demandas na esperança que tenhamos de volta um departamento de IST/HIV e Hepatites Virais, que tenhamos de volta espaços de controle social como Cnaids e CAMS, que tenhamos diálogos e possamos levar nossas demandas e poder também levar propostas de melhoria no que diz respeito aos nossos direitos sexuais e reprodutivos, mais pesquisas voltadas às MVHA, com relação aos efeitos dos antirretrovirais em nossos corpos e climatério, acolhimento humanizado sem julgamento entre tantas outras demandas. Sigamos confiantes e juntas sempre segurando uma nas mãos das outras.  Que venha 2023 com muitos desafios mas também com nossa resistência se sempre, mas dessa vez com um governo que nos ouve e respeita as minorias.”

Renata Souza, do MNCP em Presidente Prudente/SP: “Entendo que foi uma excelente indicação do presidente Lula. É uma mulher da pesquisa, esteve à frente da Fiocruz, trabalhou intensamente na questão da Covid criando o observatório. É um momento de muita alegria para nós enquanto mulheres, enquanto cidadãs, estamos diante de uma pessoa que vai escolher profissionais dentro da pasta com nomes também ligados à pesquisa e responsáveis que coordenarão os setores com muita maestria. Foi uma excelente indicação. Tenho certeza que o trabalho dela vai começar a dar frutos em breve porque é baseado na ciência e pesquisa com muita responsabilidade.”

Evalcilene Santos, do MNCP em Manaus: “Que haja novas pesquisas em medicamentos para o tratamento menos prejudicial ao corpo feminino, até mesmo a cura do HIV/aids. Novas tecnologias de prevenção e tratamento de novas infecções ou doenças que estão levando várias mulheres vivendo com HIV/aids a morte. Que possamos ter um olhar importante, mais apoio e acesso as políticas de saúde para mulheres vivendo com HIV/aids. Retornar o debate sobre a feminizacão da aids, das cirurgias reparadores da lipodistrofia e lipoatrofia, que ficaram esquecidas. Que possamos está sendo convidadas e apoiadas a construir novas propostas de saúde de todas as mulheres vivendo ou não com HIV/aids Desejo que a ministra da saúde tenha sempre o olhar sensível e solidário para o desafio que todas as mulheres têm ao acesso digno as políticas públicas de saúde, em especial as mulheres vivendo com HIV/aids, que ela possa sempre ter o olhar que tratamento não é só engolir medicamentos, também é não estar doente. Que possa nos vê como aliadas nesse novo começo da renovação de nossas esperanças pelo direito te ter acesso a política pública de saúde intersetorial com qualidade para todas.”

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Redação da Agência de Notícias da Aids