“Por todo seu histórico na luta contra aids, São Paulo merece um centro de excelência para pesquisar a cura da doença”. “Ter um centro de pesquisa focado na cura do HIV seria mais um sinal ao mundo de que nós estamos nos alinhando, retomando e reinvestindo em ciência. Paralelamente, também seria uma nova indicação de que o Brasil volta forte nesse momento como parceiro importante e estratégico na luta em geral contra o HIV/aids.”. Desta forma, ativistas ouvidos pela Agência Aids se manifestaram sobre a não aprovação da criação do primeiro Centro Mundial de Pesquisa, Inovação e Difusão dedicado exclusivamente a cura do HIV, vírus causador da aids. Reportagem publicada por esta Agência trouxe o assunto à tona (leia aqui).

O projeto, que previa juntar as pesquisas de cura já existentes as novas tecnologias com base em nanotubos de carbono e fotoimunoterapia, concorreu no último edital CEPID, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e não foi contemplado.

De acordo com os idealizadores da pesquisa, os médicos Ricardo Sobhie Diaz e Mauro Schechter, a justificativa que o comitê local usou para reprovar o projeto está em desacordo com o que escreveram os especialistas internacionais que avaliaram a proposta a pedido da própria Fapesp.

Em resposta ao descontentamento, o coordenador do Programa CEPID, Roberto Marcondes, explicou que “a chamada de Propostas de Pesquisa 2021 atraiu propostas muito qualificadas, tendo mobilizado alguns dos melhores grupos paulistas ligados aos temas do Edital.”

A Agência Aids repercutiu a questão com diferentes ativistas que representam o movimento de aids no Brasil. Confira a seguir o que eles disseram:

Juan Carlos Raxach, coordenador da área de promoção da saúde e prevenção da ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids): “Nós recebemos com pesar a notícia de que a Fapesp não aprovou um dos pareceres favoráveis para a formação de um centro mundial de pesquisa e inovação, dedicado exclusivamente a cura do HIV. Isso segue nos colocando em retrocesso em relação ao mundo na política de HIV/aids. O Brasil, nos anos 90, foi pioneiro e muito inovador na tomada de decisões com relação ao tratamento e acompanhamento da pessoa vivendo com HIV/aids. Acho que dentro do caso relatado sobre possibilidade de cura do HIV, o Brasil também se coloca dentro deste núcleo, indo por outro caminho, trazendo a diferença dos outros cinco casos de cura relatados. Existe um pioneirismo, interesse e alicerce aí que o Brasil seria muito apoiado na procura da cura à nível mundial, sobretudo pelos países da América do Sul, onde o Brasil sempre tem se destacado. Estamos perdendo uma grande oportunidade de se recolocar dentro do mundo científico, dando prioridade a essa retomada de pesquisa e pioneirismo que o Brasil perdeu nestes últimos tempos. Não foi de bom agrado receber essa notícia.”

Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil: “Não ter um Centro de Excelência para contribuir com a pesquisa da cura da aids em São Paulo é um atraso e um contrassenso. Estamos falando da proposta de pesquisadores ousados e visionários. É disso que precisamos… pensar fora da caixa. Dr. Ricardo Diaz e sua equipe da Unifesp nos encheu de orgulho quando em 2020 anunciou a eliminação de HIV do corpo de uma pessoa vivendo com HIV por meio de medicamentos. Isso trouxe perspectivas e muita esperança para todas as pessoas que vivem com HIV/aids no mundo. O Brasil sempre teve um lugar de importância na luta global contra a aids. Temos cientistas extremamente comprometidos (as) e arrojados (as), que fazem a diferença. Muitos (as) infelizmente, pelo apagão na ciência nos últimos 4 anos no Brasil, foram num grande êxodo trabalharem/estudarem em outros países. Quem perdeu com isso? o país e todas as pessoas que poderiam ser beneficiadas com seus trabalhos. Eu particularmente espero que a Fapesp acate a solicitação de reconsideração da decisão feita pelos pesquisadores e com isso possibilitar o avanço dos estudos para erradicação da Aids e trazer uma contribuição inestimável para saúde pública global.”

Alessandra Nilo, coordenadora da ONG Gestos, de Pernambuco: “É muito importante que tenhamos essa possibilidade de contribuir para a cura da aids de uma forma mais sistemática, digamos assim, criando e ajudando no processo das pesquisas em curso. É muito triste ver que muitos anos, décadas e décadas depois dessa pandemia, nós vimos vários vírus serem enfrentados através de vacinas ou através de metodologias, tratamentos que levavam a cura e isso ainda não aconteceu com a aids. Então, nós precisamos realmente de uma resposta mais urgente, é uma pandemia que continua afetando a vida de milhões de pessoas no mundo inteiro e cada esforço para contribuir na cura da aids é válido e necessário, e isso de maneira geral. No caso do Brasil, particularmente, ter um centro de pesquisa como esse seria mais um sinal ao mundo de que nós estamos nos alinhando, retomando e reinvestindo em ciência. Paralelamente também seria uma nova indicação ao mundo de que o Brasil volta forte nesse momento como parceiro importante e estratégico na luta em geral contra o HIV/aids. Então, eu gostaria muito de dizer que este centro seria absolutamente bom sob todos os aspectos, tanto para salvar vidas, tanto para melhorar a vida das pessoas, quanto pra politicamente fortalecer a posição do Brasil em relação a resposta global ao HIV/aids.”

Eduardo Barbosa, coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids): “Em minha avaliação, São Paulo por todo o seu histórico no enfrentamento da aids, merece e precisa de um centro de excelência para contribuir com a pesquisa da cura da aids. Muito se efetivou nos avanços com relação ao tratamento e qualidade da assistência, pelo trabalho intenso e efetivo de pesquisadores e profissionais, em sintonia com usuários e movimentos sociais. Pelos números da epidemia na capital e Estado de São Paulo, este centro é promissor tanto na perspectiva de maior acesso a possíveis colaboradores. Os doutores Ricardo Diaz e Mauro Schechter têm nosso respeito e demonstram muito compromisso, ética e eficiência na condução de estudos. Esperamos que esta decisão seja revertida e possamos concretizar este espaço, ampliando as possibilidades de avançar em direção a cura da Aids.”

Fabiana Oliveira, do Movimento Nacional das Cidadãs Positivas: “Nos últimos anos temos visto muitos avanços em pesquisas para cura do HIV e estes trazem, sem sombra de dúvidas, muitas esperanças para quem vive com o vírus. A criação de um Centro Mundial de Pesquisa, Inovação e Difusão dedicado exclusivamente para a cura do HIV é tudo o que o Brasil mais precisa, seria, neste momento, uma das maiores conquistas, não só para os profissionais dedicados na busca da cura, mas a todos que de alguma forma trabalham na luta pelo enfrentamento da epidemia. Receber a notícia da não aprovação deste projeto inovador nos deixa com um sentimento de frustração, sentimento de mais uma vez sermos sentenciados à morte. Passamos de 40 anos da epidemia, milhões de pessoas morreram e ainda morrem por causas relacionadas ao HIV/aids, às comorbidades que nos atingem, às questões emocionais graves que têm levado muitos ao suicídio. A igualdade no acesso à saúde e a um tratamento seguro infelizmente não é uma realidade para todas as pessoas que vivem com o HIV/aids. A união de esforços para encontrar a cura da aids é definitivamente o maior sonho, mas isso depende do compromisso com a vida das pessoas que vivem com HIV/aids e contínuo investimento em pesquisa científica e inovação. Que esta revisão da decisão seja favorável à vida!”

Salvador Corrêa, ativista, psicólogo e escritor: “O fomento à ciência e tecnologias para tratamento e cura do HIV tem permitido há décadas a incorporação de muitas revoluções na prevenção e no tratamento do HIV. Uma pesquisa com o caráter interdisciplinar e com diversas instituições sérias deveria ser contemplada. Aliás, o HIV tem cada vez recebido menos incentivo e menos recursos. Cada vez estamos mais próximos a ter a cura como um horizonte e perspectiva. Que a Fapesp possa reconsiderar esse posicionamento e ter, ao menos, uma pesquisa abordando a temática do HIV. Fica a pergunta: quantas pesquisas voltadas para a temática do HIV serão aprovadas nesse edital da Fapesp? Estamos falando de uma das maiores epidemias do século e que deixa uma trajetória de muitos ensinamentos. Agora que estamos tão perto de uma cura efetiva “não podemos deixar a peteca cair.”

Américo Nunes Neto, fundador do Instituto Vida Nova: “Por mais que seja importante a pesquisa, são questões muito técnicas que cabe e envolve o processo seletivo bem como as considerações dos pareceristas. Como todo edital tem os proclames de recursos. É muito justo questionar, mas a decisão não cabe aos proponentes. Caso não seja reconsiderado cabe refletir e reavaliar e apresentar em outra oportunidade.”

 

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Sem aprovação da Fapesp, São Paulo perde a chance de criar o primeiro Centro Mundial de Pesquisa, Inovação e Difusão dedicado exclusivamente a cura do HIV; Fundação diz que edital foi bastante competitivo

Redação da Agência de Notícias da Aids

Dica de entrevista

AHF Brasil

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Mopaids

Tel.: (11) 3259-2149

Instituto Vida Nova

Tel.: (11) 2297-1516

Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas

Site: www.mncp.org.br

ONG Gestos

Tel.: (81) 3421-7670

ABIA

Tel.: (21) 2223-1040