A farmacêutica americana Moderna e a International Aids Vaccine Initiative anunciaram nesta quinta-feira (27) que as primeiras doses de uma vacina contra a aids usando tecnologia de RNA mensageiro foram administradas a humanos. O chamado teste de fase 1 será realizado nos Estados Unidos em 56 adultos saudáveis sem HIV.
Os sucessos recentes da tecnologia de RNA mensageiro, que permitiu o desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 em tempo recorde, incluindo a da Moderna, aumentaram as esperanças. O objetivo da vacina em teste é estimular a produção de um determinado tipo de anticorpo (bnAb), capaz de atuar contra as inúmeras variantes circulantes do HIV, o vírus causador da aids. A vacina visa educar as células B, que fazem parte do nosso sistema imunológico, a produzir esses anticorpos.
Ativistas ouvidos pela Agência Aids disseram que recebem a notícia com esperança. “Como pessoa que acredita na ciência e nas vacinas, essa notícia me deixa muito feliz. Desde que comecei a trabalhar com HIV/Aids, nos idos de 1983, sempre mantive a esperança de que um dia se encontraria uma vacina para a Aids. Como ativista gay, perdi muitos amigos nos últimos 40 anos”, disse Beto de Jesus, da AHF. “Recebemos a notícia dos testes em humanos com esperança e cautela. No contexto em que movimentos anti-vacinas perdem a vergonha do ridículo, apostar na vida e nas pesquisas sérias são obrigações cidadãs, tarefa necessária para todos que defendem o direito à saúde”, acrescentou o escritor Salvador Correa.
Leia a seguir:
Fabiana Oliveira, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Me sinto bastante animada com esse anúncio da farmacêutica Moderna. Sempre acreditei que um dia vamos ter, não apenas uma vacina para prevenção ou controle do HIV mas, para a cura. A ciência tem feito importantes avanços nas pesquisas sobre o vírus HIV e AIDS e isso reflete nas inovações tecnológicas de tratamento e prevenção reduzindo a mortalidade e promovendo melhor qualidade de vida para as pessoas que vivem com HIV/AIDS. Porém, não podemos deixar de mencionar que será impossível pôr fim à epidemia sem disponibilizar o tratamento para “todos” que precisam.”
Salvador Correa, escritor e ativista: “É sempre muito bom ver o movimento de pesquisas sobre HIV, tanto as que trazem perspectivas de novos tratamentos, vacinas, como as que visam ampliação da qualidade de vida de pessoas com HIV. Recebemos a notícia dos testes em humanos com esperança e cautela. No contexto em que movimentos anti-vacinas perdem a vergonha do ridículo, apostar na vida e nas pesquisas sérias são obrigações cidadãs, tarefa necessária para todos que defendem o direito à saúde. Devemos celebrar, mas também ter cautela para não criarmos falsas expectativas. Que chegue a cura e que também tenhamos uma prevenção mais eficaz. Seguiremos na defesa dos direitos humanos das pessoas com HIV e grupos que historicamente foram mais afetados pela epidemia, seja por questões epidemiológicas ou por estigmas e outras questões sociais, como LGBTQIA+ (especialmente pessoas trans), trabalhadoras do sexo, usuários de drogas. Mais do que nunca é preciso focar na equidade, universalidade e integralidade para que o acesso a saúde seja amplo e democrático. Precisamos avançar na garantia dos direitos humanos e sociais. Eliminar a fome e a desigualdade brutal que escancarada a miséria precisar estar no centro dos debates e das implantações das novas tecnologias. É preciso proteger as humanidades com as vacinas e os antirretrovirais sociais para dar conta dos vírus ideológicos e o vírus da fome e da desigualdade. Como nos lembra o Betinho (Herbert de Souza): “O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade.”
Beto de Jesus – Country Manager – AHF Brasil: “Como pessoa que acredita na ciência e nas vacinas, essa notícia me deixa muito feliz. Desde que comecei a trabalhar com HIV/Aids, nos idos de 1983, sempre mantive a esperança de que um dia se encontraria uma vacina para a Aids. Como ativista gay, perdi muitos amigos nos últimos 40 anos. As coisas melhoraram com a distribuição dos antirretrovirais no SUS a partir de 1996. Se analisarmos a história das doenças, a Aids, devido a toda mobilização social e aos estudos científicos, desde o início, teve avanços incríveis com novas drogas que garantiram a remissão viral, trazendo a possibilidade da pessoa se tornar indetectável e, com isso, intransmissível. Devemos sempre defender a ciência, por mais que o (des)governo Bolsonaro aposte no caos, no terraplanismo e nas mortes! “Eles passarão, nós passarinho…”, como poetizou Mario Quintana. Nós resistiremos sempre, desafiaremos sempre o status quo que atravanca nosso caminho! Agora, nos cabe acompanhar o estudo e seguir lutando pelo acesso a essas tecnologias para todo o mundo, em especial para os países mais pobres.”
Rodrigo Pinheiro, presidente do Foaesp (Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo): “Essa é mais uma notícia que aguardamos com esperança, esperamos que essa vacina preventiva tenha muito sucesso. Temos que aproveitar o momento de discussão e fortalecimento das pesquisas em vacinas para que tenhamos mais investimentos nestas áreas. Que bom que conseguimos rapidamente uma vacina anti-Covid, mas estamos esperando uma vacina para aids há mais de 40 anos.”
Eduardo Barbosa – co-coordenador do Mopaids (Movimento Paulistano de Luta Contra Aids, vice-presidente do grupo Pela Vidda/SP e gerente do Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRD) Brunna Valin: “Os estudos para uma vacina preventiva para HIV passando para a fase de experimentos com humanos, é bastante promissor. Nós estamos na quarta década de enfrentamento da epidemia e essa é uma questão central, buscar mecanismos da prevenção que possam, ao mesmo tempo, chegar à população e serem acessíveis e de fácil administração. Uma vacina preventiva ao HIV em muito pode facilitar essas medidas preventivas, principalmente para populações que estão em situação de maior vulnerabilidade. No ano passado, tivemos ainda cerca de 32 mil e 500 casos notificados e a gente precisa avançar na diminuição desse quantitativo no Brasil. O número de novas infecções e óbitos ainda é muito elevado e, depois de 40 anos, é preciso que a gente encontre novas perspectivas para que o enfrentamento da pandemia seja mais rápido. Os mecanismos que a gente tem hoje ajudam mas ainda tem barreiras para serem enfrentadas. O Grupo Pela Vidda-SP e também o Mopaids, que hoje estou representando, ficam bastante animados com essa notícia e, quiçá, essa vacina venha em breve fazer parte dos componentes da prevenção combinada.”
Redação Agência de Notícias da Aids
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Dica de Entrevista
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