A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgou nesta sexta-feira (29), o Dia da Visibilidade Trans, o Dossiê dos Assassinatos e da violência contra pessoas Trans em 2020. Segundo o levantamento, organizado pelas ativistas Bruna Benevides e Sayonara Bonfim Nogueira, foram registrados ao menos 175 assassinatos de pessoas trans, todas travestis e mulheres transexuais, em 2020, um aumento de 41% em relação a 2019, quando o dossiê da entidade contabilizou 124 assassinatos.

O número de assassinatos contabilizados no dossiê é o segundo maior desde que a Antra começou a realizar o levantamento, perdendo apenas para 2017, quando foram registrados ao menos 179 mortes de forma violenta.

Dados

De acordo com o relatório da Antra, o estado com maior registro de assassinatos de mulheres trans em 2020 foi São Paulo, seguido do Ceará, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Por região, a maior concentração de casos está no Nordeste, com 43% das mortes.

O levantamento aponta que, dos 109 assassinatos de 2020 em que foi possível identificar a idade das vítimas, 61 (56%) delas tinham entre 15 e 29 anos, 31 (28%) entre 30 e 39 anos, oito (7%) entre 40 e 49 anos, 9 (8%) entre 50 e 59 anos.

Em metade dos casos, as mortes foram por armas de fogo, e 77% tiveram requinte de crueldade no momento do crime. Diferentemente do cenário de violência doméstica, 72% dos assassinos não tinham relação com a vítima.

Em termos de raça, 78% das vítimas eram pretas ou pardas, 19% brancas e 3% não foi possível identificar. Em terços de fonte de renda, 90% atuavam na prostituição, 6% tinham empregos formais e 4% trabalhos informais.

O dossiê aponta ainda que, em geral, os crimes ocorrem principalmente na via pública , ruas desertas e à noite, sendo as mortes cometidas de forma violenta.

Segundo o documento, os dados apresentados, além de denunciarem a violência, explicitam a necessidade de políticas públicas focadas na redução de homicídios contra pessoas trans, traçando um perfil sobre quem seriam estas pessoas que estão sendo assassinadas a partir dos marcadores de idade, classe e contexto social, raça, gênero, métodos utilizados, além de outros fatores que colocam essa população como o principal grupo vitimado pelas mortes violentas intencionais no Brasil.

 

Políticas Públicas em meio à pandemia 

Na diretoria da Antra e uma das responsáveis pelo Dossiê, Bruna Benevides coloca que “diante da epidemia do coronavírus e de toda a dificuldade que temos tido para organizar estratégias capazes de promover um enfrentamento eficaz, que vêm sendo prejudicadas pela lambança que vem sendo feita pelo presidente, vemos escancarada a política de deixar viver ou morrer, que já vinha sendo colocada em prática, mas que agora se manifesta sem filtro e sem limites.”

“Seja pelas ações do governo ou ausência delas, essa política afeta diretamente pessoas empobrecidas, negras, idosos, PCD, mulheres, pessoas vivendo com HIV, LGBTI+, indígenas e outros povos tradicionais, pessoas que não têm sua humanidade reconhecida, cujas existências sejam vistas como indesejáveis, não devendo ter acesso a cuidados ou a direitos. Muitas não são vistas como gente, e as travestis profissionais do sexo, em sua maioria negras e semianalfabetas que desempenham sua função na rua, enfrentam diversos estigmas no país que mais assassina pessoas trans do mundo.”

Segundo ela, “a precarização de determinada parcela da população faz parte de um plano global genocida para exterminar vidas que enfrentam processos históricos de vulnerabilização, a fim de cumprir o plano de defesa da propriedade privada de uma casta superior pautada na branquitude empresarial, que se diz cristã e é neoliberal, e de garantir a manutenção dos privilégios egoístas de uma elite racista e conservadora, cis-hétero-centrada.”

Clique aqui para acessar o Dossiê na íntegra. 

 

Dica de entrevista

Associação Nacional de Travestis e Transexuais

E-mail: presidencia.antra@gmail.com