O Aniversário de São Paulo é comemorado em 25 de janeiro. Em 2022, a cidade completa 468 anos. A data foi escolhida em homenagem à fundação do Colégio dos Jesuítas, considerado o marco zero da maior capital brasileira. A cidade de São Paulo recebeu este nome em homenagem ao apóstolo Paulo. De acordo com a tradição católica, ele teria se convertido ao cristianismo no dia 25 de janeiro, dia de festa para a Igreja Católica. Assim, neste mesmo dia foi celebrada a missa de fundação do Colégio dos Jesuítas.

Para além narrativa religiosa, os 40 anos da epidemia de aids também se cruzaram com a trajetória da cidade de São Paulo. Por isso, a Agência de Notícias da Aids realizou um resgate histórico da epidemia da aids na maior cidade da América do Sul e seu pioneirismo em ações desenvolvidas para promover o avanço na ciência e na luta contra o vírus. 

Foi na metrópole, inclusive, que foi registrado o primeiro caso de HIV no Brasil. Mais especificamente no Hospital Emílio Ribas – referência nacional em infectologia-, no ano de 1980. Porém, foram necessários ainda mais dois anos para que o diagnóstico fosse classificado como aids.

Década de 80 e as primeiras ONGs

Em setembro de 1983, foi organizado o Primeiro Programa de Controle e Prevenção da Aids do Brasil, no Estado de São Paulo, tendo a frente o Dr. Paulo Roberto Teixeira.

Também no mesmo ano, a cidade de São Paulo sediou o 2º Congresso Brasileiro de Infectologia que abordou a doença ainda desconhecida pela maioria dos profissionais da área. 

Dois anos depois, em 1985 nasce a primeira ONG de luta contra aids do país, o GAPA-SP, fruto das reuniões que aconteciam mensalmente na Secretaria de Saúde do Estado. 

“Passamos a frequentar todas reuniões sobre o tema que chegavam ao nosso conhecimento. Visitamos os pacientes, para dar a eles consolo, ao menos material e emocional, pois atuávamos como amigos. Muitos outros amigos que um dia eles tiveram foram embora com medo da adquirirem a doença. Passamos a reivindicar o tratamento, pesquisas adequadas para tratamento das pessoas, para que fosse garantido a todos o direito à vida, nosso bem maior, conforme reza a Constituição Federal”, conta Aurea Abbade, advogada e membro fundadora do Gapa/SP.

O Gapa coleciona ações como a luta para o fornecimento do AZT para todos que necessitassem, a primeira casa de apoio para pessoas vivendo com HIV.

Foi em São Paulo também que foram estabelecidos os primeiros serviços especializados e a Casa de apoio “Brenda Lee”, uma entidade fundamental para a rede estadual de saúde, considerada a primeira “Casa de Apoio” do país, que se dedicava as atividades de acolhimento e assistência às pessoas com HIV/aids.

Brenda Lee era uma mulher trans que passou a acolher jovens expulsas de casa por suas famílias consanguíneas, em razão de sua transição de gênero ou de sua sexualidade.

A casa foi inclusive reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como modelo e referência de equipamento e serviço na década de 80.

 

Década de 90 e a conquista de direitos 

Em fevereiro de 1990, o sonho José Roberto Peruzzo junto a outros ativistas se concretizam na construção do Grupo de Incentivo à Vida, com objetivo de integrar pessoas que vivem com o vírus. O GIV é considerado a primeira ONG voltada e feita totalmente por pessoas com HIV, uma proposta inovadora na época.

Suas atividades se voltaram à melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/aids, como a criação de grupos de convivência, terapias, massoterapias, oficinas, treinamentos, encontros, passeios, pesquisas e palestras.

Foi no GIV que a ativista Nair Brito encontrou suporte para lutar contra o HIV. Sua militância foi significativa para o país, uma vez que Nair, junto à advogada Aurea Abbade, moveu uma das primeiras ações do Brasil exigindo que o Estado cumprisse seu dever de prestar atendimento com medicamentos às pessoas com HIV/aids, o que aconteceu em 1995. Em outros países já existia o acesso aos medicamentos para HIV, mas no Brasil ainda custava muito caro e as pessoas morriam por não conseguirem os remédios.

 A vitória da ativista na Justiça abriu caminho para que muitas pessoas com o  vírus também entrassem com ação contra o Estado, pedindo os medicamentos. Em seguida, vem a lei Lei 9.313, que obrigada o SUS a distribuir gratuitamente remédios para HIV/aids para todos os brasileiros infectados pelo vírus.

Em 1996, nasce o Barong, uma Organização Não Governamental que percorre os mais variados caminhos com o objetivo de promover educação, saúde sexual e reprodutiva entre a população em geral. Sua equipe, formada por agentes de saúde, psicólogas, sexólogas, médica sanitarista, enfermeira, assistentes sociais e arte-educadores, leva, além de informação, testagem a diversos locais da cidade de São Paulo.

Com a itinerância, a ONG pode estar “presente onde a vida acontece”, e consegue dialogar sobre o universo da sexualidade, do uso abusivo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas, do HIV/Aids, e de outras doenças como hepatite e tuberculose com a população que mais precisa.

 

Anos 2000 e a pauta da diversidade

Na virada do milênio as demandas sociais ganharam ainda mais força, uma vez que as pessoas em situação de maior vulnerabilidade ficaram de fora do tratamento, o que ainda é uma realidade no país. 

Nesse sentido, o Centro de Referência e Defesa da Diversidade surge em 2008 com o primeiro serviço para população LGBTI+ em situação de vulnerabilidades ampliadas, com objetivo de fazer uma abordagem para além da distribuição de preservativos na prevenção ao HIV, também abordando qualidade de vida, acesso à saúde mental e informações relevantes sobre acesso a direitos.

A maior Parada LGBT do mundo também acontece em São Paulo. Ativistas sempre buscaram utilizar o espaço para falar sobre as infeções pelo HIV. No ano de 2021, ainda que de forma virtual, o evento teve como o tema justamente a luta contra o HIV/aids.

 

Inovação e Reconhecimento

Em 2021, a Coordenação Municipal de IST/Aids lançou o PrEP na Rua, a única experiência na América Latina que oferece a profilaxia fora de uma unidade de saúde. O projeto foi lançado no dia 27 de junho, em uma ação no Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, na região central da capital paulista. Na ocasião, 114 pessoas iniciaram a PrEP.

O resultado do teste rápido, tanto para pessoas que buscam a PrEP como para quem apenas desejar realizar o teste para HIV, é dado por um profissional da saúde em local isolado. Em caso de teste reagente, é realizado um segundo exame. Se confirmado o resultado, a pessoa é orientada a buscar uma unidade de saúde especializada em IST/Aids.

Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram que, até agosto de 2021, 13.304 pessoas iniciaram a PrEP em serviços municipais de saúde em São Paulo. Esse número representa quase um terço de todos os cadastros do país.

Em outubro de 2021, a cidade recebeu o 1º Circle of Excellence Award na Conferência Fast-Track Cities 2021, organizada pelo Instituto Fast Track, pela Associação Internacional de Provedores de Cuidados para Aids e pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids). O prêmio reconheceu os resultados alcançados por São Paulo para ampliar o diagnóstico e tratamento de HIV, reduzir o número de novos infectados e alcançar populações mais vulneráveis.

Na cerimônia de premiação, a Coordenadora de IST/Aids, Maria Cristina Abbate, agradeceu o reconhecimento a São Paulo e destacou os resultados alcançados, como a redução de novos casos por três anos consecutivos, as experiências do projeto PrEP na Rua e anunciou o lançamento do CTA móvel em dezembro, que levará, em uma unidade móvel, todos os serviços disponíveis no CTA até onde as pessoas estão.

A cidade de São Paulo conta com mais de 450 Unidades Básicas de Saúde e uma rede especializada de IST/Aids com 26 serviços. No primeiro semestre de 2021, 85% dos diagnosticados com HIV iniciaram o tratamento antirretroviral dentro do primeiro mês de diagnóstico, número que era de apenas 15% em 2016.

O Ministério da Saúde estima que 87% das pessoas com HIV na cidade sabem de sua sorologia. Dos cerca de 45 mil diagnosticados acompanhados pela rede municipal, 85% estão em tratamento e, destes, 95% estão com carga viral indetectável, sendo, portanto, intransmissíveis. Os números são considerados pelo Instituto Fast-Track “um exemplo e modelo a ser seguido pelas demais cidades do Instituto” e se aproximam da meta 95-95-95 estabelecida pelo Unaids.

 

Dica de entrevista

 

Associação da Parada LGBT de São Paulo

Telefone: (11) 3237-3511

GIV

Telefone: (11) 5084-0255

Instituto Cultural Barong

Telefone: (11) 96636- 3897

CRD

Telefone: (11) 3151-5786

Coordenação Municipal de IST/Aids

Email: saudeimprensa@prefeitura.sp.gov.br

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)