Evitar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e reduzir a lipodistrofia são efeitos que podem ser conquistados por meio de uma alimentação mais equilibrada e focada no tratamento das pessoas com HIV/aids, é o que defende o nutricionista Daniel Barreto, especialista no assunto. 

Ele explica que a alimentação de uma pessoa que vive com o vírus não é necessariamente diferente, mas precisa ser mais cuidadosa. “Alguns antirretrovirais aumentam o risco de doenças cardiovasculares, por exemplo, e causam alterações metabólicas. Então, devido a esse risco, é necessário um cuidado ainda maior sobre a alimentação e o estilo de vida como um todo”, explica. 

Observa-se também que os pacientes com HIV tem risco aumentado de sofrer com perda óssea ao longo da vida. Assim, Daniel recomenda que haja uma alimentação mais rica em cálcio, com vitamina D, e ajuste de outros nutrientes como vitamina K, magnésio. Para conseguir esses recursos para o corpo, uma alimentação equilibrada é fundamental. “A gente vê muitas pessoas jovens que já não come bem e não se preocupam com o mínimo. Se essa pessoa tem HIV, ela vai precisar ficar mais atenta.”

Daniel explicou que, aos 20 anos, a massa óssea corporal encontra seu pico de formação, período que vai até os 30 anos e se estabiliza até os 40, em média. Após a quarta década de vida, começa acontecer justamente a perda dessa massa de forma mais significativa. No caso das mulheres, essa queda fica mais acentuada na menopausa.

“Se uma pessoa com vinte e poucos anos e com HIV está comendo mal, ela está perdendo a oportunidade de se cuidar em uma fase muito boa para ganhar massa óssea e ajudar a preservar ela no seu envelhecimento.”

Redução dos efeitos colaterais

Daniel explica que alguns medicamentos podem ter efeitos específicos no corpo. Por exemplo, os antigos antirretrovirais, com o efavirenz, que causavam mais lipodistrofia – acúmulo e/ou perda de gordura em determinadas áreas do corpo. Então, o olhar nutricional para a distribuição de gordura pelo corpo merece uma atenção bem importante. Já os antirretrovirais como o dolutegravir parecem não trazer esse mesmo efeito. Assim, o olhar nutricional vai mudando conforme os medicamentos.

O tenofovir também pode ter relações com alterações na saúde óssea. “Então, o olhar da nutrição vai ser justamente para guiar a pessoa a ter uma relação mais saudável. Assim, vamos analisar o que podemos fazer a nível nutricional para levar mais qualidade de vida à pessoa de acordo com o tempo de infecção por HIV e o medicamento que ela usa”, diz  o profissional ao ressaltar que a ausência de pesquisas na área é preocupante.

“Podemos citar como exemplo a importância do intestino regulado e a microbiota intestinal que têm relação direta com a imunidade do corpo. Se desregulamos o intestino, aumentamos o risco de baixar nossa imunidade. Se encontrarmos esse cenário, vamos realizar uma dieta anti-inflamatória, pensando em alimentos ainda mais saudáveis para aumentar sua imunidade.”

“Quando não tratada, a infecção pelo HIV destrói os linfócitos e, em termos nutricionais, não se sabe exatamente o que pode aumentar os TCD4, mas a gente sabe que vários nutrientes participam de diferentes vias imunológicas”, explicou.

Rotina da Alimentação 

“Como precisamos ficar atentos à saúde vascular, vamos buscar reduzir as gorduras saturadas, ou seja gorduras de fonte animal, carnes, excesso de gema de ovo, de laticínios integrais, buscar controlar o consumo dessas gorduras ao mesmo tempo que buscamos aumentar o nível de gordura insaturada, que estão presentes no azeite de oliva, abacate, castanhas, sementes de gergelim, girassol, linhaça, chia. Além de aumentar o consumo de alimentos integrais. Mais aveia, farelo de aveia, em particular”, esclarece Daniel.

Apesar de ser necessário um olhar individualizado sobre as condições de saúde e tratamento para HIV de cada pessoa, o nutricionista traz uma ideia do que seria um bom direcionamento para começar a mudar a rotina de alimentação. “Para o café da manhã tradicional, é muito comum as pessoas comerem pão com manteiga e café com leite e açúcar, mas isso colabora muito pouco para a redução do risco de doença cardiovascular. O que podemos fazer aqui é incluir um pão integral, se for possível, e trocar a manteiga pelo azeite de oliva também pode fazer uma diferença considerável. Se o leite for integral, vale pegar ao menos um semidesnatado ou mesmo um desnatado e reduzir/ tirar o açúcar.” Ainda se for possível, Daniel recomenda acrescentar ao café da manhã, aveia com uma fruta, uma vitamina com o leite, frutas e aveia, por exemplo.

Para o almoço e jantar, vale a lógica dos alimentos integrais. Arroz integral, muito mais salada, verduras e legumes como um todo, que podem ser ingeridos crus ou refogados no azeite, além de preferir carnes mais magras. “Ou seja, no caso da carne bovina, o corte conhecido como “patinho” é considerado melhor, por ser menos gorduroso. Ainda podem entrar na lista os cortes coxão mole, coxão duro ou filé mignon.”

No caso do frango, vale a preferência pelo peito no lugar da coxa. “No jantar, o ideal é pegar mais leve. Para arrematar, evitar açúcares e farinha branca para não piorar o risco de desenvolver uma doença cardiovascular.”

Diferenças entre homens e mulheres 

Daniel explica que há distinções entre os gêneros principalmente no que diz respeito à questão óssea, já que a mulher, após a menopausa tende a perder mais massa óssea do que o homem. Para mulheres com HIV, Daniel explica que a perda pode ser intensificada se não cuidada de forma preventiva. 

Além disso, a lipodistrofia ainda é uma realidade principalmente para as pessoas que fazem uso de medicamentos há mais tempo. No caso das mulheres, a distribuição de gordura tende a ser acumulada na região abdominal e nas costas, que são locais mais problemático para a questão cardiovascular.

 

 

Dica de entrevista

Daniel Barreto

Instagram: https://www.instagram.com/nutridanielbarreto/

 

Jéssica Paula (jessica@agenciaaids.com.br)