Entre as cores da diversidade cultural que marcaram a Aids 2024, o Brasil se destacou em todos os tons. Entre os brasileiros participantes, estava Lígia Cirota que, como voluntária na 25ª Conferência Internacional de Aids, em Munique, compartilhou sua luta pessoal contra o estigma e a discriminação.

Lígia vive em Munique, na Alemanha, há oito anos. Em entrevista à Agência Aids, ela falou que “foi uma alegria imensa ter participado desta conferência, conhecendo gente maravilhosa que trata o tema aids com seriedade e luta para eliminar o estigma que tantas pessoas carregam, assim como eu carreguei quando criança”, comentou.

Ela nasceu e cresceu em São Paulo, sendo a caçula de três irmãos. Aos sete anos, percebeu que seu pai estava gravemente doente. Durante uma aula de biologia sobre ‘doenças sexualmente transmissíveis’, sua curiosidade a levou a perguntar à mãe sobre a doença do pai. Para sua surpresa, a mãe confirmou que ele vivia com HIV, mas pediu que mantivesse isso em segredo para evitar discriminação. “Por muito tempo, escondi isso no meu coração. Sofri calada e muitas coisas aconteceram nesse período. Foram anos difíceis”, relembra.

Hoje, ela compartilha sua história com o objetivo de ajudar outras pessoas a superar o estigma associado ao HIV e à aids. “Participar desta conferência, tirar isso do meu coração 32 anos depois, é como abrir as asas, sair do casulo e me transformar em uma borboleta que pode voar livremente”, disse emocionada. Lígia afirma que quer ajudar aqueles que mais precisam, para que também possam deixar esse segredo para trás e viver sem culpa.

No evento, a brasileira teve a oportunidade de conhecer novos aliados na luta contra o HIV, incluindo cientistas e pesquisadores que, com muita dedicação, avançam nessa causa. Nesse sentido, destacou a importância dos avanços em estudos de cura, que trazem esperança a todos os afetados pela doença no mundo.

Formada em Marketing, depois de conquistar a sua independência financeira, Lígia decidiu alçar novos voos fora do seu país. Hoje, faz questão de somente trabalhar para organizações que tenham alguma causa social. “Sempre tive um desejo imenso de contribuir com essa causa. Senti um chamado para ser voluntária, conhecer grandes instituições que atuam em regiões mais vulneráveis e precárias. Sei que não é justo comparar Brasil e Alemanha, pois quando falamos de estigma e preconceito, estamos falando de desigualdade, e o Brasil enfrenta uma desigualdade muito maior. Ainda assim, muitos brasileiros estão lutando para representar nosso país e democratizar as novas formas de tratamento e prevenção. Acredito que temos tudo para lutar lado a lado e desempenhar um papel crucial na resposta à epidemia.”

Sobre a rica diversidade cultural que encontrou em Munique, ela disse: “Eu respeito profundamente essa diversidade e me sinto parte dela. Já passei por países como Arábia, França e agora estou na Alemanha… cada experiência contribui para essa história. Mesmo que em diferentes intensidades, é maravilhoso sentir-se parte disso e continuar compartilhando o que aprendemos juntos.”

“Espero que possamos, finalmente, anunciar que encontramos a cura para o HIV. Tive a chance de conversar com um dos primeiros pacientes curados, o paciente de Londres, uma pessoa incrível. Tenho plena confiança de que essa cura não é apenas para eles, mas que podemos acreditar que a encontraremos também. Se eu pudesse resumir a luta contra a aids em uma palavra, seria ‘união’.”

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

* A Agência de Notícias da Aids cobriu esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais de notícias IG, Catraca Livre e a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também receberão informações sobre o evento.