O projeto ImPrEP, conduzido pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi destacado durante uma sessão na 25ª Conferência Internacional de Aids realizada em Munique, Alemanha, na última terça-feira (23). Os resultados da iniciativa foram apresentados, promovendo um diálogo sobre a utilização de evidências científicas para aprimorar serviços de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV centrados nas pessoas.

Entre 2018 e 2021, no âmbito do ImPrEP, foi realizado um estudo de demonstração em diversos locais para avaliar o uso, aceitabilidade e viabilidade da PrEP oral diária com tenofovir associado a emtricitabina (TDF/FTC) entre homens que fazem sexo com homens e mulheres trans no Brasil, México e Peru, incluindo diversos estudos e análises paralelos.

Na abertura da sessão, Draurio Barreira, diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, enfatizou a importância do evento para os gestores. “Nesta gestão, nossas prioridades na resposta ao HIV são diagnóstico e prevenção. Esta conferência está confirmando que precisamos disponibilizar diversas opções de PrEP e garantir que as pessoas tenham acesso à profilaxia”, afirmou.

No escopo do projeto ImPrEP, Lucilene de Freitas, pesquisadora da Fiocruz, abordou as disparidades raciais na incidência de HIV e a não adesão à PrEP entre gays, outros homens que fazem sexo com homens e mulheres trans que utilizam a profilaxia oral no Brasil. Segundo ela, o racismo estrutural é uma barreira ao acesso à saúde e às ferramentas de prevenção. Freitas destacou a necessidade urgente de políticas públicas que mitiguem essas desigualdades sociais e raciais.
ISTs

Mayara Secco, também pesquisadora da Fiocruz, apresentou fatores associados a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) de origem bacteriana observados no âmbito do projeto ImPrEP. Mais de 8,5 mil pessoas participaram da pesquisa, sendo 94% homens cisgênero e 58,5% com menos de 30 anos. Os resultados indicaram uma prevalência de 23% de ISTs bacterianas, com uma alta frequência de sexo anal receptivo sem preservativo (65%) e mais de quatro parcerias sexuais nos três meses anteriores à pesquisa (64,7%). Secco enfatizou a importância de expandir programas de PrEP para reduzir a transmissão de HIV e outras ISTs.

Já Thiago Torres, outro pesquisador da Fiocruz, explicou a importância da adesão para o sucesso da PrEP oral. Seu estudo mostrou que programas de PrEP precisam considerar o estigma nos serviços de saúde e otimizar a adesão entre as populações mais vulneráveis, como aquelas com menos acesso à educação e trabalhadores sexuais. Torres sugeriu que a PrEP injetável de longa duração poderia ser estratégica para esses públicos.

Carlos Fernando Cáceres, da Universidade Peruana Cayetano Heredia, apresentou de forma online a palestra “Fatores associados à soroconversão para HIV no Estudo ImPrEP”. Ele destacou que a adesão inadequada é influenciada por efeitos colaterais dos medicamentos, estigma, outras prioridades e dificuldade de acesso à PrEP. Cáceres reforçou a necessidade de maior apoio para homens jovens que fazem sexo com homens e mulheres trans, bem como o uso da PrEP injetável de longa duração para maior efetividade.

PrEP oral ou injetável

Cristina Pimenta trouxe para o debate uma reflexão sobre a escolha entre PrEP oral ou injetável no estudo ImPrEP CAB Brasil, que investigou o uso de cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA) entre homens jovens, mulheres trans e pessoas não binárias. A pesquisa também utilizou o WhatsApp para melhorar a adesão às consultas, apontando vantagens e desvantagens percebidas pelos participantes nas diferentes formas de uso da PrEP.

Encerrando a participação, Draurio Barreira apresentou o Programa Brasil Saudável, objetivando eliminar a aids enquanto problema de saúde pública e a transmissão vertical do HIV, além de outras infecções e doenças, considerando os determinantes sociais.

Redação da Agência Aids com informações

* A Agência de Notícias da Aids está cobrindo esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais de notícias IG, Catraca Livre e a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também receberão informações sobre o evento.