A artivista conta que descobriu viver com uma doença autoimune e que este momento marca sua retomada à dança como símbolo de superação
Símbolo de sangue e vida, o vermelho é o marco da luta contra a aids no mundo. Esta mesma cor vestiu Fabi Mesquita, durante sua performance na AIDS 2024. A comunicadora, ativista e bailarina brasileira Fabi Mesquita, mulher indígena e representante do Instituto Multiverso – ONG brasileira que atua na prevenção das ISTs/aids, especialmente no contexto do sexo químico -, emocionou a plateia com sua performance “Resiliência: Ecos de Esperança em Vermelho”. Ela se apresentou no palco principal da Aldeia Global da AIDS 2024, com uma coreografia que simboliza a resiliência e a esperança humana na luta contra o HIV/aids.
Fabi Mesquita, parceira das pessoas que vivem com HIV, principalmente das mulheres, destaca que frequentemente são invisibilizadas ou subestimadas, até mesmo dentro do próprio movimento social de luta contra a aids. “Dentre todas as lutas, a luta contra o patriarcado é uma das mais necessárias”, pontua em entrevista à Agência Aids.
Ao levar sua arte para a Aldeia Global, a artivista dedicou sua performance às integrantes do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP). Este movimento há mais de 20 anos, tem se dedicado a defender e lutar pelos direitos das mais diversas mulheres brasileiras vivendo com HIV. “A performance é uma homenagem carinhosa a todas as manas do MNCP, um dos movimentos mais sérios do Brasil.”
Além disso, Fabi fala acerca da necessidade de um maior comprometimento da sociedade com os povos originários no Brasil e na América Latina, frequentemente negligenciados pelas políticas voltadas ao HIV/aids. Ela enfatiza ainda a importância da arte como ferramenta de mobilização social, transmitindo a mensagem de resiliência e esperança em meio aos desafios enfrentados pelas comunidades afetadas pela epidemia de HIV.
Sua trajetória
Fabi Mesquita começou a dançar ainda muito jovem, construiu uma carreira brilhante como bailarina, se apresentando pelo Brasil e pelo mundo. No entanto, aos 30 anos descobriu viver com Espondilite anquilosante, uma doença autoimune e degenerativa. Durante sua luta contra a doença, começou a enfrentar dores lancinantes, perda muscular e atrofia das articulações, afastando-a dos palcos por muitos anos. Com a mudança de rota, a dor constante e a severa diminuição da mobilidade física levaram a bailarina para longe dos palcos, mas para perto da literatura. Durante a pandemia de covid-19, participou de mais de cinco antologias e recebeu uma menção honrosa no Festival de Lisboa pelo seu poema: ‘Eu puta e santa, resisto’. Essa dedicação rendeu-lhe no ano passado (2023), um troféu Jabuti pela coautoria no álbum biográfico “Guerreiras da Ancestralidade”.
No entanto, a saudade da dança nunca a abandonou. Após assinar a direção coreográfica e a preparação corporal do projeto “Somos Todes Itinerantes” do Instituto Cultural Barong, uma ONG também brasileira, Fabi decidiu que com ou sem dor, e mesmo com muitas limitações físicas, deveria voltar a usar seu corpo como forma de expressão. A sua performance na AIDS 2024 se firma, de fato, como seu retorno à dança contemporânea.
“Eu hoje tenho muitas limitações físicas, e eu lido o tempo todo com a decepção de ter uma saúde frágil, mas meu corpo, minhas regras, e nesta casa quem manda é o meu espírito”, finaliza Fabi entre risos.
Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)
Fotos por: Oliver Kornblihtt/Mídia Ninja
* A Agência de Notícias da Aids cobre esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi), do Ministério da Saúde, e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais jornalísticos IG, Catraca Livre e a EBC – Empresa Brasil de Comunicação, receberão informações sobre o evento.