Há mais de quatro décadas, o mundo foi abalado pela chegada do HIV, um vírus que transformou vidas e sociedades. Desde então, a epidemia de aids exigiu respostas rápidas e a união das comunidades globais para enfrentar seus desafios. A celebração dos 40 anos de liderança comunitária na resposta ao HIV/aids foi um marco na Conferência Internacional de Aids, realizada em Munique, onde ativistas refletiram sobre o passado e traçaram caminhos para o futuro.

Veriano Terto, da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA), destacou os avanços significativos na luta contra a doença, mas alertou para a situação atual preocupante. “Embora tenhamos alcançado bons resultados e desenvolvido práticas eficientes, esses avanços estão sob ameaça”, afirmou Terto. Ele enfatizou a falta de financiamento, especialmente na América Latina e no Brasil, como um dos principais desafios. Terto alertou sobre o desvio de recursos para outras questões emergentes, como mudanças climáticas e o financiamento de movimentos políticos de extrema-direita, que estão em ascensão.

“Estamos enfrentando uma erosão da democracia que afeta negativamente nossos esforços. É crucial que a liderança e as experiências na luta contra a aids continuem sendo financiadas para garantir a erradicação da doença até 2030 e para responder a outras pandemias e desafios globais”, enfatizou. Ele também falou sobre a importância da solidariedade e das alianças internacionais para continuar enfrentando esses desafios complexos.

Tetiana Deshko, ativista ucraniana, discutiu a devastação causada pela guerra em seu país. “Atualmente, 20% do território da Ucrânia está ocupado e 30% está minado. A população, que era de 52 milhões em 1991, reduziu para 25 milhões nas áreas controladas”, relatou Deshko. Ela explicou que, apesar da guerra e da destruição da infraestrutura de saúde, a incidência de novos casos de HIV na Ucrânia foi relativamente controlada. “Esperava-se um aumento acentuado nos casos de HIV, mas, surpreendentemente, isso não aconteceu. Apesar da redução nos testes, mantivemos a taxa de novos casos sob controle.” No entanto, a prioridade do governo em alocar recursos para a guerra deixou poucos fundos para programas de saúde, resultando em problemas significativos para a sustentabilidade das ações.

Mandisa Dukashe, do Conselho Nacional Sul-Africano de Aids, falou sobre os progressos e desafios enfrentados na África do Sul. “Apesar das interrupções anteriores, conseguimos algum financiamento para programas de alfabetização sobre tratamento. Estamos vendo progresso”, comentou.

Ela mencionou uma nova proposta de subsídio para o Fundo Global, focada em tratamento, cuidado e apoio, e destacou a importância da mobilização de recursos e da participação das comunidades. “Estamos engajados, envolvendo as comunidades nas reuniões e revisando as lacunas existentes para elaborar um plano estratégico que nos conduza até 2030”, concluiu.

A celebração dos 40 anos de resposta comunitária ao HIV/aids foi uma oportunidade para refletir sobre o passado, reconhecer os avanços e enfrentar os desafios atuais. Ativistas ressaltaram a necessidade urgente de mais financiamento, solidariedade internacional e combate a grupos extremistas para garantir um futuro onde a erradicação do HIV seja uma realidade.

Kéren Morais (keren@agenciaaids.com.br)

* A Agência de Notícias da Aids está cobrindo esta edição da Conferência com o apoio do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde e da Coordenadoria Municipal de IST/Aids de São Paulo. Os portais de notícias IG, Catraca Livre e a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também receberão informações sobre o evento.