No segundo dia da pré-conferência (28), foi realizado um grande painel intitulado Differentiated service delivery for HIV treatment in 2022 – DSD for HIV treatment in 2022: Building stronger HIV programme resilience (Prestação de serviços diferenciados para tratamento de HIV em 2022 – Prestação de serviços diferenciados para tratamento de HIV em 2022: Construindo uma resiliência mais forte do programa de HIV). 

Uma das mesas desse painel teve como palestrante a epidemiologista suiça Meg Doherty, Diretora do Departamento de Programas Globais de HIV, Hepatite e Infecções Sexualmente Transmissíveis (HHS) da Organização Mundial da Saúde (OMS), com mais de três décadas de experiência em tratamento do HIV e outras doenças infecciosas. O tema foi Resilience and scale of HIV treatment programmes during COVID-19 (Resiliência e extensão dos programas de tratamento do HIV durante a COVID-19).

Meg começou sua fala lembrando que a Covid não acabou e que, embora já tenhamos passado pelos períodos de pico de morbidade e mortalidade, das vacinas terem sido aplicadas, ainda vemos um grande número de casos e novas variantes.

“Podemos ver que onde ainda há a maior incidência de HIV, que é na África Subsaariana, é onde temos a menor cobertura de vacinação para Covid. Então, os nossos programas ainda têm que pensar que eles ainda estão em risco devido à covid. E ontem, soubemos por um novo relatório que a resposta ao HIV está em perigo”, contou a médica.

Segundo ela, em 2021 foram registradas 1,5 milhão de novas infecções, o mesmo número do ano anterior, e 650 mil mortes – também uma estagnação. São novos países que tinham controle da doença e começam a ver novas infecções surgindo. Também foi verificada uma diminuição de pessoas procurando tratamento. Ela ressaltou que uma nova infecção acontece em meninas jovens e adolescentes a cada dois minutos e que 70% das novas infecções acontecem em populações-chave, nos mais vulneráveis. Então, como oferecer uma prestação de serviço diferenciada a essa população?

“O fato é que nós temos novas infecções e elas estão ocorrendo em populações vulneráveis e seus parceiros. Temos que ter isto em mente porque alguns países ainda não estão priorizando a epidemia e as populações-chave e, também, garantindo que todos os serviços estejam chegando a quem mais precisa”, argumentou ela.

A médica disse que, “em termos de cascata, pode parecer que estamos indo super bem”. Em 85, 88% das pessoas que sabiam de seu status sorológico estava em tratamento e, entre esses, 92% com carga viral zerada. Comparando adultos e crianças, os adultos estão bem melhor do que as crianças. Há uma cobertura de 52% de crianças em tratamento, das quais 41% com carga viral suprimida. E temos diferenças maiores por regiões.

“Sabemos também que algumas disparidades acontecem entre os homens”, continuou Meg. “Falamos de mulheres precisando de nossa orientação, mas homens também estão sendo deixados para trás nessa cascata. Eu espero que nossos cuidados também possam ser direcionados ao que os homens não estão fazendo em termos de serem capazes de ter acesso ao tratamento, como fazer que os serviços diferenciados cheguem a eles”.

Interrupção de serviços

Dra. Doherty contou que a Organização Mundial da Saúde fez três rodadas de entrevistas para saber quais são as interrupções de serviços notificadas para doenças transmissíveis como o HIV, tuberculose, malária, hepatites. “Nós achamos que haveria poucas interrupções na continuidade do tratamento, mas a maior incidência foi em serviços de HIV: testagem, prevenção. No entanto, a iniciação de tratamento também foi um fator novo. E isso tem a ver com o que estamos falando. Iniciar e manter o tratamento é o que está faltando e é o que temos que analisar. Acredito que essa percepção das interrupções e recuperação para o HIV foi relativamente boa”.

Entretanto, a médica acredita que isto é apenas a superfície e essa é a percepção dos ministérios da saúde. “Quando começamos a olhar que a testagem não se manteve nos maiores níveis que gostaríamos, vemos que a diminuição das testagens está ligada à diminuição do início do tratamento nesse período”, observou.

O que está indo bem?

Existem políticas de Prestação de Serviços Diferenciados (DSD, sigla em inglês) ao redor do mundo. Elas foram parcialmente adotadas ou totalmente adotadas em alguns países. As políticas nacionais mudaram para melhor, diminuindo a frequência com a qual as pessoas em tratamento precisam ir aos serviços buscar os medicamentos. “Algumas regiões chegaram a aumentar esse período para cada três ou seis meses. Uma vez por mês é uma coisa que não veremos mais”, afirmou Meg.

As políticas também têm progredido, especialmente na região africana, em relação à entrega de medicamentos. “É preciso fazer mais esforços em todo o mundo, para todas as populações, sejam adultos, crianças, bebês e nos certificar que essas políticas cheguem aos que foram deixados para trás”, concluiu.

A 24ª Conferência Internacional de Aids acontece de 29 de julho a  2 de agosto em Montreal, Canadá.

Dra. Meg Doherty

Dr. Doherty é a Diretora do Departamento de Programas Globais de HIV, Hepatite e Infecções Sexualmente Transmissíveis (HHS) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Nomeada em 1º de fevereiro de 2020, anteriormente ela foi Coordenadora de Tratamento e Cuidados no Departamento de HIV na Sede da OMS, a partir de 2012. Ela tem mais de 30 anos de experiência trabalhando em HIV e doenças infecciosas, incluindo liderar o trabalho normativo e programático da OMS com foco na expansão do tratamento do HIV para todos e na redução das desigualdades no acesso aos medicamentos anti-HIV mais eficazes – medicamentos retrovirais para pessoas vivendo com HIV. Ela traz muitos anos de experiência em diversos países para esta função, tendo passado 10 anos vivendo e trabalhando em países de baixa e média renda, aconselhando ministérios da saúde e parceiros internacionais na implementação de programas abrangentes de HIV e doenças infecciosas, incluindo 5 anos na Etiópia como Diretora de Serviços Clínicos e de Treinamento da JHUTSEHAI, um parceiro de implementação do PEPFAR apoiado pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Antes de ingressar na OMS, Doherty foi membro do corpo docente do Departamento de Medicina, Divisão de Doenças Infecciosas e Escola de Saúde Pública da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, onde era responsável pelo tratamento e cuidados de pessoas vivendo com HIV, hepatite e outras doenças infecciosas. Dra. Doherty é um epidemiologista treinado e especialista em doenças infecciosas e publicou mais de 120 artigos revisados ​​por pares e capítulos de livros. Ela recebeu seu MD da Harvard Medical School e seu MPH e PhD em Epidemiologia de Doenças Infecciosas da JHU Bloomberg School of Public Health. Sob sua liderança como diretora do departamento de HHS, o departamento manterá e expandirá os esforços globais para eliminar o HIV, hepatite e DSTs até 2030, com forte ênfase na integração de serviços e fortalecimento da atenção primária à saúde no âmbito da cobertura universal de saúde, ao mesmo tempo em que se concentra em populações vulneráveis ​​e países com maior carga.

 

Redação da Agência de Notícias da Aids

 

Dica de Entrevista:

Meg Doherty

@mdoherty_hiv