Apesar de terem crescido com mais indicadores de desvantagem social e serem filhos de mães com HIV que nem sempre estavam em tratamento, crianças analisadas em um estudo na África do Sul se saíram tão bem quanto os filhos de mães não infectadas pelo HIV. O estudo apresentado na 23ª Conferência Internacional de Aids pela professora Mary Borus, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles,  avaliou peso, altura, saúde e desenvolvimento mental dessas crianças.

Muitos estudos anteriores de crianças não infectadas de mães soropositivas forneceram dados sobre os primeiros dois anos das crianças, portanto, o acompanhamento a longo prazo dessa população traz fortes evidências.

O estudo recrutou quase todas as mulheres grávidas que viviam em 24 bairros específicos na periferia da Cidade do Cabo, na África do Sul nos anos de 2009 e 2010. Um total de 1258 mães foram recrutadas e até agora os pesquisadores acompanharam os filhos de 1150 deles até os oito anos de idade. Trezentas e sessenta e três mães (32%) tinham HIV e as outras eram HIV negativas.

O estudo entitulado Philani verificou se as visitas domiciliares pré-natais por agentes comunitários de saúde melhoraram a nutrição, o desenvolvimento infantil e os resultados relacionados ao HIV, incluindo a realização de TARV para impedir a transmissão de mãe para filho. Apesar de 354 das 1258 mães no estudo completo terem HIV quando deram à luz (29%), apenas 2% das crianças nasceram com vírus.

Nos oito anos seguintes, os pesquisadores continuaram analisando o desenvolvimento dos filhos de mães positivas e negativas. Vários estudos anteriores, mostraram que os filhos não infectados de mães positivas estavam em desvantagem. No entanto, esta nova pesquisa acabou mostrando uma outra realidade no que se refere ao longo prazo.

Durante o acompanhamento, a adesão das mães que vivem com HIV aumentou, passando de 43% na linha de base para 96% agora. Mas até três anos atrás, apenas um terço estava tomando antirretrovirais. O estudo também mostra que a retenção ao acompanhamento foi de 84%.

Aspectos da Saúde Integral

Os perfis socioeconômicos das mães positivas e negativas foram semelhantes e refletem as dificuldades da vida do município. Apenas 16% trabalhavam em emprego formal e apenas 31% tinham moradias regularizadas. As mães soropositivas apresentavam uma desvantagem leve, mas a maioria das diferenças não atingiu significância estatística.

Uma das desvantagens com implicações diretas à saúde foi a insegurança alimentar, já que 58% das mães HIV positivas relataram passar fome pelo menos uma vez na semana anterior às entrevistas e 34% disseram que seus filhos estavam com fome. Isso se compara a 45% das mães HIV negativas e 27% dos filhos. Cinquenta e nove por cento das mães soropositivas ganhavam o equivalente a menos de US$ 150 por mês, em comparação com 50% das mães soronegativas. Eles também relataram mais uso de álcool, mas menos depressão.

Saúde dos filhos

Os pesquisadores mediram a proporção entre peso, altura e idade como uma medida geral do desenvolvimento das crianças. Para o peso, os escores de filhos de mães HIV positivas foram estatisticamente inferiores aos das mães HIV negativas imediatamente após o nascimento e aos seis meses. No entanto, a diferença diminuiu com o crescimento das crianças, fazendo com que a desvantagem inicial represente um desvio muito pequeno. Isso se reflete no fato de que a desnutrição foi registrada em apenas 2,4% dos filhos de mães positivas e 2,2% dos filhos de mães negativas, e que essa diferença não foi estatisticamente significativa. Após seis meses, a diferença na relação peso/idade tornou-se não significativa entre os dois grupos e convergiu para a média nacional.

Para a estatura, não houve diferença entre os filhos de mães positivas e negativas. No entanto, todas as crianças foram um pouco mais baixas do que a média nacional, com o menor escore aos três anos de idade indicando alturas médias para a idade entre os 12% mais baixos da população.  Nos dois grupos, 6,9% das crianças caíram dentro do limiar de crescimento atrofiado.

Quando se tratava de desenvolvimento psicológico, não havia diferença entre os dois grupos de crianças em nenhuma habilidade cognitiva e motora, vocabulário ou capacidade geral. Os filhos das mães soropositivas também não apresentaram diferenças comportamentais, com pontuações idênticas nos questionários sobre comportamento agressivo, pontos fortes e dificuldades.

Os pesquisadores descreveram suas descobertas como “inesperadas” e, considerando que as melhorias na saúde infantil parecem ter acelerado particularmente nos últimos três a cinco anos, interpretam isso como possivelmente devido à melhoria da saúde das mães que vivem com HIV.
Redação da Agência de Notícias da Aids com informações do AidsMap