Além da desigualdade de gêneros, homofobia, estigma, discriminação e violação dos direitos humanos que afetam milhões de pessoas vivendo com HIV ao redor do mundo, a crise climática tem causado um grande impacto negativo nas condições de vida dessa população, agravando ainda mais a epidemia de aids, principalmente em países mais afetados pelo aquecimento global. Este é o resultado de uma pesquisa apresentada nessa quarta-feira (8) na 23ª Conferência Internacional da Aids.

Segundo Matthew Chersich, pesquisador do Wits Reproductive Health and HIV Institute que atua na África do Sul, os principais fatores que impactam diretamente a prevenção, tratamento e cuidado da aids decorrentes da crise climática são a exposição direta a altas temperaturas; risco de infecções por patógenos sensíveis ao clima; catástrofes ambientais como incêndios e tempestades; pobreza, seca, fome, migração e conflito.

A falta de acesso aos remédios e a impossibilidade de adesão ao tratamento de HIV são comuns em comunidades que sofreram danos consideráveis na infra-estrutura em decorrência de desastres naturais. Comumente, a escassez de água é um fator determinante para a vulnerabilidade a infecções.

A pobreza e outros fatores sociais como deslocamento humano gerado por conflitos aumentam os índices de violência sexual e prostituição, colocando essa população em situação ainda mais vulnerável para a infecção por HIV.

Matthew indica que partos prematuros aumentam em até 6% em mulheres grávidas expostas a altas temperaturas. Durante a gravidez, o organismo da mulher sofre um processo de termorregulação, pois o feto e a placenta geram uma enorme quantidade de calor. “Agora, temos que explorar se grávidas vivendo com HIV são mais vulneráveis ao calor”.

Chersich acredita que umas das principais contribuições que cientistas e estudiosos do HIV podem fazer para conter a epidemia de aids é “formar uma ponte entre os ativistas e os responsáveis pelas políticas públicas, como fizemos de maneira exitosa nos anos 80. Foi através desta confluência de diferentes comunidades que fomos capazes de mudar a história do HIV/aids e chegarmos onde estamos hoje”, conclui.

Marina Vergueiro, especial para Agência de Notícias da Aids