Na noite dessa segunda-feira (8), a jornalista Marina Vergueiro recebeu em sua coluna semanal, no Instagram da Agência Aids, a advogada feminista Camila Rufalo Duarte, cofundadora do @direito.dela. As duas conversaram sobre os vários tipos de violências que as mulheres sofrem todos os dias, machismo e falaram sobre os ataques gordofóbicos que a cantora Marília Mendonça sofreu durante sua carreira. Marina Vergueiro relembrou que, no dia do acidente aéreo que encerrou a vida de Marília, aos 26 anos, ocorrido na sexta-feira (5), todos os seus feitos de repente se viram ofuscados por um detalhe que nada teve a ver com sua ascensão – o seu peso. “Já existe alguma lei que torna crime a gordofobia, como acontece com a homofobia?”, questionou.

Camila respondeu prontamente que não, mas que espera que a gordofobia seja criminalizada como a homofobia. “Já existem algumas ações por danos morais, como a de uma empresa que colocou meta de perda de peso para os funcionários. No caso da Marília, como ela já morreu, a ação por dano moral não se aplica. Mas os familiares podem acessar a justiça contra uma série de vídeos que circulam nas redes sociais sobre o dia do acidente.”

A advogada lembrou que muitas mulheres sofrem violências todos os dias. De acordo com a Lei Maria da Penha, a agressão física não é a única manifestação de violência contra a mulher. Há diferentes formas de violência doméstica e familiar que se enquadram nesse tipo de crime, que muitas vezes não são reconhecidas pela própria vítima, como a violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e violência moral, ou seja, qualquer atuação que configure calúnia, difamação ou injúria.

Embora seja a mais comum e frequente em relacionamentos abusivos, a violência psicológica é a que tem menos visibilidade. A advogada explicou que, na prática, há diversas formas que configuram o crime, como:  tratamento de silêncio, conhecido popularmente como “dar um gelo” a fim de punir a mulher por algum comportamento; isolamento, em que o abusador afasta a vítima de suas amizades e/ou família para assim dominá-la e enfraquecê-la; vigilância constante,  em que o abusador exige que a vítima reporte a ele tudo o que faz e os lugares onde está, geralmente ligam a todo o tempo e aparecem de surpresa nos lugares; ‘gaslighting’, situação em que o abusador mente, distorce a realidade e omite informações com o objetivo de fazer com que a vítima duvide de sua memória e até da sua sanidade mental.

“Falo sobre violência doméstica em todos os espaços. É importante destacar que quando a gente fala da violência doméstica não estamos falando apenas das mulheres cis e heterossexuais, estamos falando de todas as mulheres. Pesquisas recentes vem nos mostrando que a violência doméstica é um problema de saúde pública pandêmico.”

Violência na pandemia 

Pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em junho revelou, que uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência no último ano no Brasil, durante a pandemia de Covid.

Isso significa que cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. A porcentagem representa estabilidade em relação à última pesquisa, de 2019, quando 27,4% afirmaram ter sofrido alguma agressão.

Na comparação com os dados da última pesquisa, há aumento do número de agressões dentro de casa, que passaram de 42% para 48,8%. Além disso, diminuíram as agressões na rua, que passaram de 29% para 19%. E cresceu a participação de companheiros, namorados e ex-parceiros nas agressões.

No que diz respeito a violência sexual, Camila alertou que vai para além do estupro. “Todas as relações devem acontecer com consentimento. No caso da violência doméstica sexual, por exemplo, também é considerado violência quando o parceiro obriga a mulher a se prostituir, a ir em casas de entretenimento adulto, forçar a mulher abortar, a engravidar, a tomar pílula.”

A violência sexual é definida pela OMS como “todo ato sexual, tentativa de consumar um ato sexual ou insinuações sexuais indesejadas; ou ações para comercializar ou usar de qualquer outro modo a sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra pessoa, independentemente da relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar e o local de trabalho”.

Segundo Marina Vergueiro, a mulher que sofre violência psicológica tem probabilidade maior de contrair infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV, sífilis, HPV.

“Existe um estigma muito grande com as pessoas que vivem com HIV, elas sofrem duplamente a violência por acreditar que não são dignas de afeto, como se muitas vezes o parceiro tivesse fazendo um favor de estar com aquela pessoa”, afirmou Camila.

A conversa durou mais de uma hora e elas falaram ainda sobre a retirada do preservativo sem. Confira o bate-papo na íntegra:

 

Denuncie

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Em casos de emergência, ligue 190.