Nesse domingo (6), um dos principais temas abordados nos Simpósios Satélites da 5ª Conferência de Pesquisa para Prevenção do HIV, que acontece no Peru, foi o papel crucial do modelo de entrega de serviços diferenciados (DSD) para ampliar o acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP).

A Dra. Beatriz Grinsztejn, presidente da International Aids Society (IAS) e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ressaltou a relevância desse modelo para atender de forma mais eficaz às necessidades de populações vulneráveis, especialmente em áreas com baixa cobertura de saúde.

Ela enfatizou que, com mais de 1,3 milhão de novas infecções por HIV registradas em 2022, a resposta global ainda não está se movendo na velocidade necessária para alcançar a meta de reduzir as novas infecções para 370 mil até 2025. A implementação de modelos inovadores, como o DSD, é, portanto, essencial para acelerar as intervenções preventivas em todo o mundo. A Dra. Beatriz também destacou a importância de integrar profissionais não médicos na distribuição de PrEP e PEP, o que pode facilitar o acesso em comunidades mais isoladas e aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde tradicionais.

Modelo DSD

O modelo DSD tem como principal vantagem a descentralização dos serviços de saúde, permitindo que PrEP e PEP sejam disponibilizados em locais não médicos, como farmácias, além de aumentar o uso de plataformas online para a distribuição dessas profilaxias. Esses métodos tornam os serviços de prevenção mais acessíveis e práticos, especialmente para grupos historicamente marginalizados.

A Dra. Beatriz Grinsztejn também apresentou exemplos bem-sucedidos dessa abordagem, como a expansão dos serviços de PrEP para farmácias no Quênia e o uso de plataformas digitais no Brasil para facilitar o acesso à PEP e PrEP. A especialista frisou que, “sem modelos inovadores, será difícil alcançar as metas globais de prevenção ao HIV.”

A sobrecarga nos sistemas de saúde, a distância entre as unidades e a falta de acesso para populações vulneráveis são desafios que o DSD busca resolver. O modelo oferece uma abordagem flexível, garantindo que os serviços de saúde cheguem de forma mais ágil e eficaz àqueles que mais precisam.

Diferentes Iniciativas Globais para Melhorar o Acesso à Prevenção do HIV

Outras abordagens discutidas no evento incluíram a expansão da PrEP em farmácias no Quênia, apresentada por Damary Rehema Chora, e o modelo FastPREP na África do Sul, apresentado por Keitumetse Lebelo.

Michelle Rodolph, da Organização Mundial da Saúde (OMS), encerrou a sessão com reflexões sobre os próximos passos para ampliar o alcance global de PEP e PrEP, ressaltando a necessidade de maior colaboração entre governos e setores de saúde.

Máquina de PrEP em São Paulo

Um dos pontos mais celebrados da mesa foi a experiência de São Paulo com a “máquina de PrEP”, apresentada por Adriano Queiroz, da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. A iniciativa visa tornar a profilaxia mais acessível e prática, especialmente para jovens e populações tradicionalmente marginalizadas, sem a necessidade de visitas presenciais a unidades de saúde. Essa abordagem chamou a atenção do público, gerando muitas perguntas sobre sua funcionalidade e potencial de replicação em outros contextos.

A professora Inês Dourado elogiou a iniciativa e aproveitou a oportunidade para sugerir a instalação das unidades em locais mais acessíveis para populações periféricas, já que a localização atual atende predominantemente homens brancos e não é tão acessível para outros grupos.

Lenacapavir

Além das valiosas discussões desenvolvidas nesta sessão, fica também a reflexão sobre o impacto que o lenacapavir pode ter no processo de prevenção via PrEP.

O lenacapavir é um medicamento antirretroviral utilizado no tratamento e prevenção do HIV. Ele pertence à classe dos inibidores da capsídeo, atuando de forma única ao interromper múltiplos estágios do ciclo de replicação do HIV. Na profilaxia pré-exposição (PrEP), o lenacapavir tem se destacado por sua administração de longa duração, possibilitando que uma única dose subcutânea seja eficaz por até seis meses, o que facilita a adesão ao tratamento preventivo.

Sua principal função na PrEP é bloquear a capacidade do HIV de se replicar nas células humanas, oferecendo uma proteção prolongada contra a infecção, especialmente para populações em maior risco de exposição ao vírus. Como ainda está sendo investigado, espera-se que o lenacapavir possa revolucionar a PrEP, oferecendo uma alternativa às formas diárias de medicação, como o tenofovir e a emtricitabina, que atualmente são mais comuns.

Fabi Mesquita Guarani, do Peru, especial para a Agência Aids