Em entrevista à Agência Aids, a educadora sexual e cientista social, Ana Clara Marques, contou como, em seu trabalho, os conhecimentos têm transcendido as salas de aula

Educação sexual nas escolas: 73% dos brasileiros são a favor; entenda pesquisa do Datafolha | Hypeness inovação e criatividade para todos

“O processo da educação e da prevenção é sobre entender que o protagonismo deve ser do adolescente e do que ele tem a dizer; trazer a escuta para com o outro, pra que assim haja uma abordagem clara. Passar a informação é fácil, como ‘use camisinha’, agora conhecimento, de fato, é o adolescente conhecer, cuidar e gostar do seu próprio corpo”, a fala é da educadora sexual, psicopedagoga, socióloga e cientista social, Ana clara Marques, que trabalha no núcleo de prevenção do Programa de IST/Aids do Município de Santo André, localizado no ABC paulista.

Procurada pela Agência Aids, para entender como tem sido a retomada da educação sexual nas escolas brasileiras, com a volta do Programa Saúde na Escola (PSE), do Ministério da Saúde (MS), a entrevistada contou um pouco como o trabalho que articula dentro dos colégios têm desempenhado papel importante na vida dos jovens e adolescentes.

O que é o PSE?

O Programa Saúde na Escola (PSE), com ênfase na educação sexual, é uma iniciativa federal do governo brasileiro, que visa promover a integração entre saúde e educação, levando serviços de saúde e ações educativas para dentro das escolas.

No âmbito do PSE, a educação sexual desempenha o papel de desenvolver ações, que envolve a implementação de programas educacionais que abordem tópicos relacionados à saúde sexual e reprodutiva, prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), orientação sobre contraceptivos, diálogos sobre relacionamentos saudáveis, consentimento, entre outros temas.

Contracepção: os principais métodos contraceptivos - Doutor TV - saúde e bem-estar!

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o objetivo da educação sexual no PSE é fornecer informações e orientações necessárias para os estudantes, ajudando-os a tomar decisões informadas e responsáveis sobre sua saúde sexual e relacionamentos, gerando mais saúde e bem-estar às crianças, jovens e adolescentes. Vale ressaltar que a abordagem exata e os conteúdos da educação sexual podem variar de acordo com as políticas e diretrizes locais ou nacionais.

Ainda de acordo com o MEC, no PSE a criação dos territórios locais é elaborada a partir das estratégias firmadas entre a escola, a partir de seu projeto político-pedagógico e a unidade básica de saúde. O planejamento destas ações do PSE considera: o contexto escolar e social, o diagnóstico local em saúde do escolar e a capacidade operativa em saúde do escolar.

Ana Clara Marques, que é educadora sexual há 15 anos, conta que sua trajetória iniciou como agente de saúde. De lá para cá, tem trabalhado com a educação integral em sexualidade, para diferentes faixas-etárias. Segundo a profissional, é importante que a educação sexual esteja presente na vida dos educandos desde cedo, e não somente em idades mais avançadas, pois entende que quando se retarda estes saberes, “o jovem pode já ter experienciado diversos momentos que poderiam ter sido orientados de melhor forma, ou até evitados”. 

A educadora afirma ainda que a abordagem que ela e sua equipe constroem percorre por conversas francas e esclarecedoras com os alunos, utilizando-se de recursos que eles mesmos [alunos] fornecem, e tudo feito a partir da observação.

“Geralmente a gente passa uma pergunta, fazemos pesquisas, perguntamos quais são as músicas eles gostam de escutar, se vivem em bairros periféricos ou não… toda a questão cultural e social vai estar envolvida no diálogo”, conta ao destacar que o jovem é um ser humano em contínua fase de desenvolvimento e descobrimento.

A especialista defende uma educação em sexualidade pelo viés crítico, sem fundamentalismo, que seja prazerosa, diversa e com abordagem emancipatória, capaz de dar conta da grande diversidade sexual existente, do prazer, e das demandas relativas às desigualdades de gênero, classe, e raça, bem como outras violações no âmbito dos direitos humanos, e também das demais questões que os jovens têm curiosidade e desejam conversar.

“Quando a gente faz o diálogo é perceptível a movimentação [dos alunos]. Por exemplo, a questão da diversidade está na ponta da língua dos adolescentes, muitos deles já sabem das orientações sexuais, e além de estarem antenados, querem conversar sobre a temática, mas muitas vezes em alguns espaços isso é abafado”, lamenta.

As principais perguntas que trazem, na experiência de Ana com a juventude, perpassam por variados eixos, desde questões simples do cotidiano, até questões mais complexas das relações humanas, mas segundo ela “nem sempre os professores estão aptos ou querem lidar com os assuntos”.

“A gente percebe dentro das escolas que vários professores têm muito medo de falar sobre o assunto, não querem por questões morais, ou por não se sentirem capacitados; e os que tentam falar sobre, não tem muito o método, pois vão se baseando [somente] nas cartilhas, e nós sabemos que o antigo governo fez uma redução dessa temática”, afirma.

Em última análise, nas palavras da especialista, apesar dos avanços, o processo da educação e da prevenção é contínuo e tem a ver com entender que o protagonismo deve ser do adolescente e do que ele tem a dizer, “trazendo para a conversa a escuta para com o outro, pra que assim haja uma abordagem clara. Passar a informação é fácil, como ‘use camisinha’, agora conhecimento, de fato, é o adolescente conhecer, cuidar e gostar do seu próprio corpo. Na educação sexual eu não sou um médico que vai prescrever, eu sou a pessoa que vai escutar, aprender e devolver. A gente aprende junto!”, finaliza.

Redação da Agência de Notícias da Aids

Dica de entrevista

Ana Clara Marques

E-mail: claranamarques@hotmail.com