Neste domingo (3), masculinidades trans e pessoas aliades se reúnem na avenida Paulista, em São Paulo, para marchar unidas pela primeira vez na história do país. O evento é um marco inédito no movimento social e político transmasculino e é fruto da organização voluntária de cidadãos ligados ao Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT). A caminhada contará com a participação dos artistas Mika Kaliandrea, P4dlock, All Ice, Pamka e os DJs  Garu, Anjo, Davinho, King de Xangô, Kontronatura e Lau.

Segundo Kyem Ferreiro, coordenador geral do IBRAT-SP, a marcha começou a ganhar forma em fevereiro, quando foi convocada uma assembleia popular na casa João Nery, único centro de acolhida para a população transmasculina em São Paulo. “Esta marcha tem o propósito de combater o apagamento das nossas existências e identidades, da nossa memória, da nossa história e das contribuições das pessoas transmasculinas para a sociedade. Temos também o objetivo de reivindicar direitos das pessoas transmasculinas para que possamos ter uma vida com dignidade”, explica.

Kyem Ferreiro, coordenador geral do IBRAT-SP

O Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT) está presente em diversas cidades e Estados do Brasil por meio de seus núcleos e foca sua atuação nas áreas de saúde, comunicação, redação de projetos, análise de dados, participação em mesas e eventos, organização de atividades culturais e de lazer, além de fornecer suporte jurídico. “Esta primeira marcha é uma semente muito bonita que queremos plantar com muito carinho, para que ela floresça e se espalhe pelo Brasil. Inclusive, estamos documentando todo o processo de criação do evento, dos apoios, de como as pessoas chegaram até nós, porque pretendemos publicar um e-book educativo do processo de colocar esta marcha na rua justamente para que essa semente possa germinar em outros lugares. Estamos começando uma coisa aqui, mas queremos que reverbere no país inteiro. Eu mesmo quero ir em muitas marchas transmasculinas pelo Brasil”, conta Kyem.

O IBRAT-SP foi recriado em 2020 e desde então tem se envolvido politicamente junto aos gabinetes parlamentares, buscando apresentar e promover as pautas relacionadas às experiências transmasculinas, na reivindicação de direitos e estruturação de políticas públicas que atendam às demandas desta população. “O movimento transmasculino não está alheio à população em geral, também somos atravessados pela precariedade dos serviços e dos programas que o Estado brasileiro deveria arcar para que todos acessem seus direitos previstos na Constituição Federal”, explica Kyem. “É responsabilidade do Estado olhar para as necessidades específicas de cada grupo social, ouvir essas demandas, e construir políticas públicas ao lado da população para que de fato contemplem e atendam essas necessidades”.

O serviço de saúde é um tendão de aquiles para esta população, que muitas vezes deixa de lado os cuidados por medo de sofrer discriminação. “Pessoas transmasculinas sofrem muito preconceito na hora de fazer um atendimento muito simples nos equipamentos públicos de saúde, na recepção ou por um médico e/ou enfermeira, e muitas dessas pessoas evitam voltar por medo de sofrer uma nova violência”, adverte Kyem. Além disso, o ativista se atenta ao fato de que os programas de planejamento familiar, pré-natal e prevenção de ISTs muitas vezes não dialogam com as demandas específicas da população transmasculina, podendo desencadear processos de violência contra esses indivíduos.

Para fortalecer as pautas e demandas dos transmasculinos, atualmente o IBRAT-SP participa da Frente Parlamentar LGBTQIA+, do Comitê municipal de saúde LGBTQI+, do Núcleo TransUnifesp, além de uma atuação ativa na ALESP, e participação em eventos como a Parada LGBT de São Paulo, Parada Preta (LGBT), Caminhada Trans e Marcha Trans, entre outros.

Marina Vergueiro (marina@agenciaaids.com.br)

Dica de entrevista

Kyem Ferreiro – coordenacao.ibratsp@gmail.com