A profilaxia pré-exposição sexual ao HIV (PrEP) já tem sua importância comprovada como uma estratégia fundamental dentro da prevenção combinada. No Brasil e no mundo vemos redução de casos novos da infecção pelo HIV, com correlação direta entre a quantidade de usuários em PrEP e a diminuição da infecção.

Na PrEP, assim como no tratamento do HIV, a adesão é crucial para o objetivo final, quer seja evitar a infecção ou controlar a mesma. Os resultados dos primeiros estudos da PrEP evidenciaram que a infecção pelo HIV praticamente só ocorre nos casos de interrupção da profilaxia ou pelo baixo uso da PrEP.

Desde a implantação da PrEP como política pública no Brasil, já esperávamos que usuários iriam descontinuar a profilaxia, uma vez que entendíamos que essa estratégia seria apenas para momentos de vida com maior vulnerabilidade.

Entretanto, pessoas estão interrompendo a PrEP, mesmo quando a vulnerabilidade persisti e consequentemente estão surgindo ex-usuários de PrEP que descontinuaram e tornaram-se HIV+. O relatório brasileiro de monitoramento de profilaxias pré e pós exposição ao HIV de 2022 revelou 981 casos novos de infecção por HIV entre pessoas que em algum momento utilizaram a PrEP e por alguma razão a descontinuaram.

No nosso meio, o painel do Ministério da Saúde demonstra que o índice de descontinuação é maior entre mulheres e homens heterossexuais, seguidos por mulheres trans e travestis.

Precisamos entender as razões para não persistência na PrEP, buscar as pessoas que interromperam e caso continuem vulneráveis, trazê-las novamente para o seguimento. Ao mesmo tempo, simplificarmos o atendimento, através de teleconsulta síncrona ou assíncrona, uso de autotestes, flexibilização de horários e atendimentos fora dos serviços de saúde.

* Denize Lotufo é infectologista da Gerência da Assistência Integral a Saúde do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids do Estado de São Paulo (CRT).