Neste domingo, dia 8 de agosto de 2021, eu e meu marido David vamos comemorar mais uma vez o sonho realizado de sermos pais.

Este sonho começou há muito tempo. Lá na minha cidade no interior do Paraná, por uma estratégia para me livrar de ter que casar com uma mulher, decidi ser padre. Graças a Deus, fui convidado a sair da escola dominical! Ainda adolescente, me mudei para Curitiba. Consegui estudar Letras na Universidade Federal do Paraná, inclusive com uma base de vários idiomas modernos. Assim que me formei, fui morar na Europa, primeiro na Espanha, depois na Itália, uma passagem pela França e dois anos na Inglaterra, onde encontrei meu amor com quem vivo há 31 anos.

Quando encontrei David na estação de metrô Highgate Station em Londres em 1990, Falei de supetão, “You’ll be my husband forever” (você será meu marido para sempre). Flertamos, namoramos e casamos (pelo menos dez vezes!), até que conseguimos “sujar os papéis”, como dizia minha mãe, com uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2011. Ainda por cima, em 2018 casamos no civil e no religioso na Catedral Anglicana em Curitiba, desta vez acompanhados dos nossos três filhos.

Sempre no meu inconsciente queria ser pai, desde a minha adolescência/juventude. No mercado eu amava ver casais passando vergonha com crianças birrentas. Eu pensava comigo mesmo “quero isso para mim”. David também sempre teve vontade de ser pai. Anos depois, em 2000, tomamos a decisão de adotar, e em 2005 demos entrada nos papéis. Foram anos de luta judicial até que o STF nos deu ganho de causa. Mas conseguimos adotar em conjunto dois filhos (Alyson e Filipe) e uma filha (Jéssica), hoje com 20, 16 e 18 anos, respectivamente.

Ser pai foi mais que um desejo atávico, um sonho de ambos, uma experiência inarrável numa lauda de papel. Foi a realização de um sonho, de um projeto. Um processo lindo de aprendizagem e de desapego. Ser pai é realmente padecer no paraíso, ver seus filhos e suas filhas aprendendo e desaprendendo sobre amor, autonomia, felicidade e a vida.

Neste domingo também, vamos lançar o livro que conta toda essa história, desde nossa infância até formar nossa própria família, e também as impressões de Jéssica, Filipe e Alyson sobre terem sido adotados e a convivência com dois pais gays: “Família Harrad Reis: uma família todas as cores e de todos os amores”.

Como diz a música de Almir Sater, parafraseando, cada um tem o dom de construir a sua própria história e ser feliz. Para algumas pessoas, ser feliz é ser famoso, bonito e rico. Para mim, é ser eu mesmo.

* Toni Reis é doutor em Educação e presidente da Aliança Nacional LGBTI+.